Estudo proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE.
ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo XVII. Da Perseverança dos Santos
Seção II. Esta perseverança dos santos não depende do próprio livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas essas coisas vem a sua certeza e infalibilidade.
A doutrina da perseverança dos santos ensina que aqueles que Deus aceitou, chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito não podem cair do estado de graça, nem total nem finalmente. Esses crentes têm a certeza de que hão de perseverar nesse estado até ao fim e estarão eternamente salvos. Essa doutrina se refere a cada indivíduo chamado eficazmente, garantindo que nenhum deles se apostatará finalmente ou se perderá, mas cada um certamente perseverará e será salvo.
Vamos agora compreender que esta perseverança não depende de fatores humanos, mas de ações e atributos divinos:
1) Esta perseverança dos santos não depende do próprio livre-arbítrio deles
As Escrituras enfatizam que a salvação, incluindo a perseverança, não se baseia na capacidade ou vontade humana, mas na soberana vontade de Deus, ou seja, eles não decidem nascer de novo, não isso não depende deles (João 1:12-13; Romanos 9:16). Se deixado por si mesmo, o cristão certamente cairia devido à sua fraqueza natural, propensão ao pecado e às tentações. Por natureza o coração do homem é enganoso, não merece confiança (Jeremias 17:9; Marcos 14:38).
A graça divina é eficaz e, em vez de depender da vontade humana, o Espírito opera para que os crentes queiram obedecer (Filipenses 2:13).
A perseverança é um dom de Deus, não uma atividade contínua inerente ao homem (João 10:28-29). A ideia de que a perseverança depende da incerta obediência humana é negada, como se vê historicamente no contraste com posições semipelagianas e arminianas (Efésios 2:8-9).
2) Depende da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai
A perseverança baseia-se no firme fundamento de Deus, que é a eleição divina (2 Timóteo 2:19). Essa eleição é um decreto imutável, que brota do livre e imutável amor de Deus Pai (Jeremias 31:3). A eleição não se baseia em obras ou fé previstas no homem, mas no soberano beneplácito de Deus, sendo eterna e incondicional (Efésios 1:4-5; Romanos 9:11-13).
A imutabilidade de Deus em seu Ser, atributos, propósitos, motivos e promessas assegura a salvação dos eleitos (Malaquias 3:6; Hebreus 6:17-18). Deus conhece os que lhe pertencem, tendo-os escolhido para a vida eterna (2 Timóteo 2:18-19; João 10:14). O amor de Deus por seu povo é peculiar e o induziu a enviar seu Filho para a redenção deles (João 3:16; Romanos 5:8). Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Romanos 11:29), e Ele nunca se arrepende de havê-los dado (Números 23:19; 1 Samuel 15:29). Quando Deus ama, é com um amor eterno. Não é um amor temporal ou passageiro. Uma vez que o homem se torna alvo do amor de Deus, sempre será alvo deste amor eterno (Jeremias 31:3).
3) Depende da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo
A perseverança dos santos é assegurada pela obra de Cristo. Cristo veio para salvar seu povo de seus pecados, não meramente para tornar a salvação possível, mas para efetivamente livrá-los (Mateus 1:21; João 10:11). Aqueles que o Pai deu a Cristo virão a Ele com certeza e Ele de modo nenhum deixará que escapem (João 6:37). Cristo dá vida eterna às suas ovelhas, e ninguém as tirará da sua mão, muito menos da mão do Pai (João 10:28-29). Ele morreu por aqueles que lhe foram dados pelo Pai para que pudesse lhes dar vida eterna e não perder um só deles (João 17:2,11,12,24).
A intercessão de Cristo diante do Pai é constante (Hebreus 7:25) e eficaz, pois o Pai sempre ouve as suas orações (João 11:42). Por meio da sua intercessão, a fé dos eleitos não pode falhar (Lucas 22:32). Cristo orou em favor de Pedro, para que a sua fé não desfalecesse, comportamento bem diferente com relação a Judas Iscariotes. Nada pode separar os crentes do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Romanos 8:38-39).
Como agora Ele vive para interceder por nós (Hebreus 12:25), a preservação da nossa fé é assegurada pelo contínuo suprimento de Sua graça, suprimento esse que, de outra forma, não seria suficiente para a nossa preservação. Está manifesto que Paulo tinha essas mesmas coisas em mente quando escreveu aos filipenses: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus" (Filipenses 1:6).
4) Depende da permanência do Espírito e da semente de Deus neles
A perseverança depende da habitação permanente do Espírito em oposição a uma presença temporária (João 14:16). O Espírito Santo habita nos crentes, controla sua vida interior e exterior, iluminando, guiando, santificando, fortalecendo e confortando (Romanos 8:9; Gálatas 5:16-18; João 16:13-14).
O Espírito é o autor imediato da regeneração, fé e todos os santos exercícios, infundindo novas qualidades no coração (Tito 3:5; 1 Coríntios 12:3). Ele sela os crentes para o dia da redenção (Efésios 1:13; Efésios 4:30), o que confirma a certeza das promessas de Deus e implica a constância da fé.
A unção que os crentes recebem permanece neles, ensinando-os interior e imediatamente (1 João 2:27). A semente divina que permanece naquele que é nascido de Deus faz com que ele não viva na prática do pecado (1 João 3:9). O que acontece na regeneração dura para sempre, é imortal: o homem interior do coração é incorruptível, porquanto gerado é da semente incorruptível (1 Pedro 3:4). "Fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23).
A graça no coração é aqui representada como sendo incorruptível e permanente, livrando o crente do pecado, isto é, de uma vida de pecados, na qual vivem as pessoas não regeneradas. Assim sendo, Deus coloca seu Espírito no crente e faz com que ele ande nos seus estatutos (Ezequiel 36:26-27).
A mesma verdade é ensinada nas seguintes palavras de Cristo: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5:24). A nova vida que a graça produz é aqui chamada de "vida eterna", é uma possessão do crente desde o presente. A sua perpetuidade é declarada nas palavras: "Não entra em juízo". Se quem já foi feito uma nova criatura e foi justificado mediante a fé pudessem voltar ao mesmo estado do qual foi resgatado pela graça, esse alguém estaria novamente sob o juízo de Deus. Mas Jesus afirmou ser isso impossível.
Se os que já passaram da morte para a vida podem voltar novamente à morte, então a presente vida que possuem não é eterna, e a declaração "não entra em juízo" fica sem fundamento.
Aquele que começou a boa obra no crente há de completá-la até ao dia da vinda de Cristo Jesus (Filipenses 1:6). O Espírito utiliza meios como a Palavra de Deus para operar e confirmar a fé e a santidade (2 Timóteo 3:16-17; 1 Pedro 1:23).
5) Depende da natureza do pacto da graça
A perseverança dos santos também é assegurada pela natureza do pacto da graça. Este pacto é firme e imutável e nunca poderá ser anulado, pois está fundado unicamente na graça de Deus e não na obediência do homem (Hebreus 13:20-21).
Deus garante no pacto que tudo o que deve acontecer para a salvação será alcançado (Isaías 55:10-11). No pacto da graça, Deus promete colocar a sua lei nos corações do seu povo e pôr o seu temor dentro deles para que não se apartem dEle (Jeremias 31:33-34; Hebreus 8:10). Podemos acrescentar a passagem de Jeremias 32:40, onde Deus promete que aqueles a quem Ele fez uma aliança jamais se afastarão dEle. O conceito de Deus agindo ativamente no crente para garantir sua fidelidade e não se apostatar é central para a descrição do novo pacto encontrada nas passagens já citadas.
Conclusão: De todas essas coisas vem a sua certeza e infalibilidade
A certeza e infalibilidade da perseverança derivam da eleição imutável de Deus, do mérito e intercessão eficaz de Cristo, da permanência do Espírito e da semente divina, e da natureza do pacto da graça. A certeza não se baseia na constância humana, mas no propósito de Deus, na obra de Cristo, na habitação do Espírito e no amor imutável de Deus.
Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento, assegurando que aqueles que Ele justificou nunca serão condenados (Romanos 11:29). O selo do Espírito confirma a certeza das promessas de Deus e da salvação (Efésios 1:13-14). Deus é fiel e guardará os crentes do Maligno (2 Tessalonicenses 3:3).
A apostasia de alguns não invalida a fidelidade de Deus e a certeza do seu conselho para com os eleitos (1 João 2:19). As ovelhas de Cristo jamais perecerão, e ninguém as arrebatará das mãos dEle (João 10:28). Esta certeza não leva à licenciosidade, mas ao zelo e à santidade (Romanos 6:1-2).