07 junho 2025

A Base da Perseverança dos Crentes

Estudo proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XVII. Da Perseverança dos Santos 

Seção II. Esta perseverança dos santos não depende do próprio livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas essas coisas vem a sua certeza e infalibilidade. 



A doutrina da perseverança dos santos ensina que aqueles que Deus aceitou, chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito não podem cair do estado de graça, nem total nem finalmente. Esses crentes têm a certeza de que hão de perseverar nesse estado até ao fim e estarão eternamente salvos. Essa doutrina se refere a cada indivíduo chamado eficazmente, garantindo que nenhum deles se apostatará finalmente ou se perderá, mas cada um certamente perseverará e será salvo. 

Vamos agora compreender que esta perseverança não depende de fatores humanos, mas de ações e atributos divinos: 

1) Esta perseverança dos santos não depende do próprio livre-arbítrio deles 

As Escrituras enfatizam que a salvação, incluindo a perseverança, não se baseia na capacidade ou vontade humana, mas na soberana vontade de Deus, ou seja, eles não decidem nascer de novo, não isso não depende deles (João 1:12-13; Romanos 9:16). Se deixado por si mesmo, o cristão certamente cairia devido à sua fraqueza natural, propensão ao pecado e às tentações. Por natureza o coração do homem é enganoso, não merece confiança (Jeremias 17:9; Marcos 14:38). 

A graça divina é eficaz e, em vez de depender da vontade humana, o Espírito opera para que os crentes queiram obedecer (Filipenses 2:13). 

A perseverança é um dom de Deus, não uma atividade contínua inerente ao homem (João 10:28-29). A ideia de que a perseverança depende da incerta obediência humana é negada, como se vê historicamente no contraste com posições semipelagianas e arminianas (Efésios 2:8-9). 

2) Depende da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai 

A perseverança baseia-se no firme fundamento de Deus, que é a eleição divina (2 Timóteo 2:19). Essa eleição é um decreto imutável, que brota do livre e imutável amor de Deus Pai (Jeremias 31:3). A eleição não se baseia em obras ou fé previstas no homem, mas no soberano beneplácito de Deus, sendo eterna e incondicional (Efésios 1:4-5; Romanos 9:11-13). 

A imutabilidade de Deus em seu Ser, atributos, propósitos, motivos e promessas assegura a salvação dos eleitos (Malaquias 3:6; Hebreus 6:17-18). Deus conhece os que lhe pertencem, tendo-os escolhido para a vida eterna (2 Timóteo 2:18-19; João 10:14). O amor de Deus por seu povo é peculiar e o induziu a enviar seu Filho para a redenção deles (João 3:16; Romanos 5:8). Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Romanos 11:29), e Ele nunca se arrepende de havê-los dado (Números 23:19; 1 Samuel 15:29). Quando Deus ama, é com um amor eterno. Não é um amor temporal ou passageiro. Uma vez que o homem se torna alvo do amor de Deus, sempre será alvo deste amor eterno (Jeremias 31:3). 

3) Depende da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo 

A perseverança dos santos é assegurada pela obra de Cristo. Cristo veio para salvar seu povo de seus pecados, não meramente para tornar a salvação possível, mas para efetivamente livrá-los (Mateus 1:21; João 10:11). Aqueles que o Pai deu a Cristo virão a Ele com certeza e Ele de modo nenhum deixará que escapem (João 6:37). Cristo dá vida eterna às suas ovelhas, e ninguém as tirará da sua mão, muito menos da mão do Pai (João 10:28-29). Ele morreu por aqueles que lhe foram dados pelo Pai para que pudesse lhes dar vida eterna e não perder um só deles (João 17:2,11,12,24). 

A intercessão de Cristo diante do Pai é constante (Hebreus 7:25) e eficaz, pois o Pai sempre ouve as suas orações (João 11:42). Por meio da sua intercessão, a fé dos eleitos não pode falhar (Lucas 22:32). Cristo orou em favor de Pedro, para que a sua fé não desfalecesse, comportamento bem diferente com relação a Judas Iscariotes. Nada pode separar os crentes do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Romanos 8:38-39). 

Como agora Ele vive para interceder por nós (Hebreus 12:25), a preservação da nossa fé é assegurada pelo contínuo suprimento de Sua graça, suprimento esse que, de outra forma, não seria suficiente para a nossa preservação. Está manifesto que Paulo tinha essas mesmas coisas em mente quando escreveu aos filipenses: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus" (Filipenses 1:6). 

4) Depende da permanência do Espírito e da semente de Deus neles 

A perseverança depende da habitação permanente do Espírito em oposição a uma presença temporária (João 14:16). O Espírito Santo habita nos crentes, controla sua vida interior e exterior, iluminando, guiando, santificando, fortalecendo e confortando (Romanos 8:9; Gálatas 5:16-18; João 16:13-14). 

O Espírito é o autor imediato da regeneração, fé e todos os santos exercícios, infundindo novas qualidades no coração (Tito 3:5; 1 Coríntios 12:3). Ele sela os crentes para o dia da redenção (Efésios 1:13; Efésios 4:30), o que confirma a certeza das promessas de Deus e implica a constância da fé. 

A unção que os crentes recebem permanece neles, ensinando-os interior e imediatamente (1 João 2:27). A semente divina que permanece naquele que é nascido de Deus faz com que ele não viva na prática do pecado (1 João 3:9). O que acontece na regeneração dura para sempre, é imortal: o homem interior do coração é incorruptível, porquanto gerado é da semente incorruptível (1 Pedro 3:4). "Fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23). 

A graça no coração é aqui representada como sendo incorruptível e permanente, livrando o crente do pecado, isto é, de uma vida de pecados, na qual vivem as pessoas não regeneradas. Assim sendo, Deus coloca seu Espírito no crente e faz com que ele ande nos seus estatutos (Ezequiel 36:26-27). 

A mesma verdade é ensinada nas seguintes palavras de Cristo: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5:24). A nova vida que a graça produz é aqui chamada de "vida eterna", é uma possessão do crente desde o presente. A sua perpetuidade é declarada nas palavras: "Não entra em juízo". Se quem já foi feito uma nova criatura e foi justificado mediante a fé pudessem voltar ao mesmo estado do qual foi resgatado pela graça, esse alguém estaria novamente sob o juízo de Deus. Mas Jesus afirmou ser isso impossível. 

Se os que já passaram da morte para a vida podem voltar novamente à morte, então a presente vida que possuem não é eterna, e a declaração "não entra em juízo" fica sem fundamento. 

Aquele que começou a boa obra no crente há de completá-la até ao dia da vinda de Cristo Jesus (Filipenses 1:6). O Espírito utiliza meios como a Palavra de Deus para operar e confirmar a fé e a santidade (2 Timóteo 3:16-17; 1 Pedro 1:23). 

5) Depende da natureza do pacto da graça 

A perseverança dos santos também é assegurada pela natureza do pacto da graça. Este pacto é firme e imutável e nunca poderá ser anulado, pois está fundado unicamente na graça de Deus e não na obediência do homem (Hebreus 13:20-21). 

Deus garante no pacto que tudo o que deve acontecer para a salvação será alcançado (Isaías 55:10-11). No pacto da graça, Deus promete colocar a sua lei nos corações do seu povo e pôr o seu temor dentro deles para que não se apartem dEle (Jeremias 31:33-34; Hebreus 8:10). Podemos acrescentar a passagem de Jeremias 32:40, onde Deus promete que aqueles a quem Ele fez uma aliança jamais se afastarão dEle. O conceito de Deus agindo ativamente no crente para garantir sua fidelidade e não se apostatar é central para a descrição do novo pacto encontrada nas passagens já citadas. 

Conclusão: De todas essas coisas vem a sua certeza e infalibilidade 

A certeza e infalibilidade da perseverança derivam da eleição imutável de Deus, do mérito e intercessão eficaz de Cristo, da permanência do Espírito e da semente divina, e da natureza do pacto da graça. A certeza não se baseia na constância humana, mas no propósito de Deus, na obra de Cristo, na habitação do Espírito e no amor imutável de Deus. 

Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento, assegurando que aqueles que Ele justificou nunca serão condenados (Romanos 11:29). O selo do Espírito confirma a certeza das promessas de Deus e da salvação (Efésios 1:13-14). Deus é fiel e guardará os crentes do Maligno (2 Tessalonicenses 3:3). 

A apostasia de alguns não invalida a fidelidade de Deus e a certeza do seu conselho para com os eleitos (1 João 2:19). As ovelhas de Cristo jamais perecerão, e ninguém as arrebatará das mãos dEle (João 10:28). Esta certeza não leva à licenciosidade, mas ao zelo e à santidade (Romanos 6:1-2). 


A Doutrina da Perseverança dos Santos

Estudo proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XVII. Da Perseverança dos Santos 

Seção I. Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem cair do estado de graça, nem total nem finalmente, mas com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até ao fim, e estarão eternamente salvos. 



A doutrina da perseverança final dos santos afirma que aqueles que foram chamados eficazmente por Deus para exercer a fé genuína certamente permanecerão firmes até a salvação final. Isso não se aplica a uma classe geral de pessoas de forma usual, mas a cada indivíduo dentro dessa classe, de modo que nenhum deles apostatará ou se perderá definitivamente; cada um certamente perseverará e será salvo. As Escrituras ensinam essa salvação final de todos os crentes.

As Escrituras, e a CFW se baseia nelas, indicam que esta perseverança não se deve à excelência ou poder do crente, mas sim ao propósito e poder de Deus e à graça que Ele concede.

Reconhece-se a fraqueza do homem, que, se deixado por si só, certamente cairia, um perigo contra o qual o crente é constantemente advertido. Mesmo os mais instruídos e santificados estão sujeitos a esse perigo, evidenciado pelos pecados cometidos, que podem, por vezes, ser graves, chegando até mesmo à negação real da fé e ao afastamento de Deus. Entretanto, do perigo inerente a si mesmo, o crente é resgatado pelo poder e pela graça de Deus, que, por Sua vigilante preservação, guarda Seus filhos indignos, impedindo que se afastem totalmente dEle e os conduzindo finalmente à salvação que Ele planejou. Ao fazer isso, Deus não age independentemente da cooperação do crente, mas os conduz à salvação através de sua própria perseverança na fé e santidade.

Diversas passagens bíblicas são apresentadas para apoiar esta doutrina. Por exemplo, João 10.27-29 declara: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar". Este texto é usado para mostrar a segurança das ovelhas nas mãos de Cristo e do Pai.

Outro texto fundamental é Filipenses 1.6: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus". Este verso apoia a ideia de que a obra de Deus na vida do crente é contínua e será concluída.

A certeza da salvação do crente é atribuída ao propósito de Deus. As Escrituras afirmam que aqueles que creem foram "ordenados à vida eterna" (Atos 13.48), e aqueles que são finalmente glorificados foram preordenados para serem conformados à imagem de Cristo e, portanto, chamados (Romanos 8.29).

O próprio Jesus declarou que é a vontade do Pai que Ele "não perca nada de tudo o que ele me deu, mas o ressuscite no último dia" (João 6.39). E ainda temos 1 Pedro 1:5,9: "Vocês são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para ser revelada no último tempo. (...) Pois vocês estão alcançando o alvo da fé, a salvação da alma". Esta salvação final é, portanto, vista como uma inferência necessária dessas doutrinas.

Além do poder de Deus, a perseverança também é atribuída à graça de Deus. Romanos 4.16 afirma que a salvação deve ser pela fé, "a fim de que a promessa seja certa para toda a descendência". Aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Romanos 8.14), e a salvação não depende do querer ou do correr do homem, "mas de Deus" (Romanos 9.16).

Deus implanta no seu eleito uma semente que se torna garantia de que ele é um nascido de Deus e que por isso ele irá perseverar nos caminhos dEle, como diz 1 João 3:9: "Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado, pois o que permanece nele é a semente divina; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus".

A operação do Espírito Santo nos crentes, descrita como "selagem" (Efésios 1.13; 4.30), também é apresentada como prova da "certeza da salvação e da perseverança". Este selo é considerado "indestrutível" e para "o dia da redenção", ou seja, até o fim. A selagem para a obtenção infalível da salvação implica a selagem para a contínua constância da fé. O Espírito habita perpetuamente nos crentes, consolando- os e sustentando-os continuamente até o fim.

Cristo também intercede constantemente pelos crentes (Hebreus 7.25), e Suas orações são eficazes, pois o Pai sempre as ouve (João 11.42). O Espírito Santo também intercede por nós (Romanos 8.26). Temos aqui a Trindade agindo em conjunto para conformar a obra de salvação para todos os eleitos.

A doutrina da perseverança final está repleta de consolação para o crente prestes a desfalecer em seu conflito espiritual. Ao encontrar evidências do amor de Deus em seu coração, o crente é autorizado a considerar essa graça como um penhor de sua herança futura. No entanto, as Escrituras Sagradas, a Palavra de Deus, também mencionam advertências contra a apostasia encontradas nas Escrituras (Mateus 24.3-14, Colossenses 1.21-23a, 1 Coríntios 10.12, Hebreus 2.1).

Essas advertências não são vistas como prova de que um crente verdadeiramente regenerado possa perder a salvação, mas sim como meios que Deus usa para motivar os crentes a permanecerem comprometidos com Ele. Observe 2 Pedro 1:10: "Por isso, irmãos, empenhem-se cada vez mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês; porque, fazendo isso, vocês jamais tropeçarão".

A necessidade de perseverar na fé deve ser usada como advertência contra abandonar a fé, indicando que quem a abandona dá evidência de que sua fé nunca foi real. Textos das Escrituras que parecem apresentar casos de apostasia real podem ser argumentados como não provando que essas pessoas realmente receberam a graça da regeneração ou que a perderam de forma permanente. Quanto a esses textos iremos analisar em uma EBD logo após a conclusão deste capítulo. Podem me cobrar!

Em resumo, esta doutrina, conforme apresentada na Confissão e baseada na Palavra de Deus, sustenta que a perseverança dos santos é uma obra segura de Deus em favor daqueles que Ele eficazmente chamou e santificou, garantindo que eles não cairão final ou totalmente do estado de graça, mas serão preservados pelo poder, propósito e graça divina até a salvação final. Esta doutrina oferece grande consolação e as advertências nas Escrituras servem como um meio para encorajar e manter o crente no caminho da fé e santidade.