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20 novembro 2024

Dificuldades e soluções na prática da Fé Cristã

Há uma infinidade de desafios que os cristãos contemporâneos enfrentam ao viver sua fé em um mundo complexo e em constante mudança. Neste artigo, vamos tentar explorar essas dificuldades com profundidade, oferecendo uma perspectiva bíblica e teológica para a compreensão e superação desses obstáculos.

A tarefa de conciliar os ensinamentos bíblicos, escritos em contextos históricos e culturais distintos, com a realidade do século XXI é um dos desafios mais urgentes. A rápida transformação social, os avanços científicos e o questionamento constante de valores tradicionais colocam os cristãos em uma posição delicada, exigindo discernimento e sabedoria para navegar por essas complexidades sem comprometer a integridade de sua fé.

Há também as dificuldades internas que os cristãos enfrentam, como a luta contra o pecado, a persistência de dúvidas e o sofrimento inerente à condição humana. A natureza pecaminosa, mesmo após a conversão, torna a obediência a Deus um desafio constante. Dúvidas sobre a veracidade de experiências espirituais, a interpretação de passagens bíblicas complexas e a aparente ineficácia da oração em certos momentos também podem abalar a fé do cristão. O sofrimento, seja por doença, perseguição ou crises pessoais, levanta questões sobre a bondade e o cuidado de Deus, levando alguns a questionar sua fé.

A proliferação de falsos ensinamentos, seitas e distorções da mensagem cristã também representa um obstáculo significativo. A teologia da prosperidade, com sua ênfase em riqueza material como sinal de bênção divina, e a proliferação de práticas supersticiosas sem base bíblica, como a "quebra de maldições", são exemplos de desvios que seduzem muitos, levando-os para longe da verdadeira fé.

A diversidade de denominações e igrejas, com suas diferentes interpretações da Bíblia e práticas distintas, também gera dificuldades para os cristãos. A busca pela unidade (ecumenismo) esbarra em desafios teológicos e práticos, especialmente na definição de uma base comum para a comunhão autêntica. O movimento dos "desigrejados", que rejeitam não somente a comunhão mas a estrutura institucional da igreja, também representa um desafio à visão tradicional de comunidade cristã.

Também precisamos considerar a necessidade de integrar a fé com a razão, a ciência e a cultura, que permanece como uma tarefa complexa para os cristãos. A teoria da evolução, por exemplo, coloca em dúvida a narrativa bíblica da criação, gerando tensões entre a fé e o conhecimento científico. A interação com diferentes culturas e sistemas de valores exige dos cristãos discernimento para preservar a integridade de sua fé sem se fechar ao diálogo e à compreensão do outro.

As dificuldades na prática da fé cristã são, portanto, multifacetadas e estão por toda parte e afetam diferentes áreas da vida, demandando dos cristãos uma fé resiliente, um conhecimento sólido das Escrituras e um compromisso inabalável com a verdade de Deus. 

E qual a solução?

Não podemos oferecer uma solução única e abrangente para as dificuldades na prática da fé cristã, mas, sim, um conjunto de princípios, orientações e atitudes que podem auxiliar os cristãos a navegar por esses desafios.

1. A importância do estudo aprofundado da Bíblia. O conhecimento profundo das Escrituras é fundamental para a base da fé e da prática cristã. O estudo constante da Bíblia permite aos cristãos compreenderem melhor o contexto histórico e cultural dos textos sagrados, evitando distorções ou interpretações equivocadas. Além disso, esse estudo oferece respostas para questões complexas e desafiadoras, orientando os fiéis a discernir a vontade de Deus para suas vidas, tomar decisões sábias e alinhar suas ações aos princípios divinos.

2. O valor da oração como comunicação com Deus. A oração é um canal indispensável de conexão entre o cristão e Deus. Por meio dela, os fiéis apresentam suas necessidades, ansiedades e dúvidas, encontrando consolo e direção. A prática da oração também é um momento de gratidão, no qual se reconhece a soberania divina e as bênçãos recebidas. Assim, a oração fortalece a fé, aprofunda a intimidade com Deus e ensina os cristãos a confiar em Sua providência e descansar em Suas promessas.

3. A resiliência diante do sofrimento como marca da fé. O sofrimento é parte inevitável da caminhada cristã, mas também uma oportunidade de crescimento espiritual. Enfrentá-lo com resiliência permite aos cristãos dependerem mais profundamente de Deus e confiarem em Seus propósitos, mesmo em meio à dor. A Palavra de Deus e a comunhão com outros cristãos oferecem força e encorajamento, ajudando os fiéis a perseverarem na fé enquanto mantêm o foco na esperança da vida eterna e na vitória final em Cristo.

4. A luta contra o pecado e o relativismo cultural. A batalha contra o pecado é constante na vida cristã, exigindo o reconhecimento da necessidade de arrependimento e transformação interior, operada pelo Espírito Santo. Permanecer fiel aos princípios bíblicos é essencial, especialmente em um mundo onde o relativismo cultural busca diluir a verdade absoluta da Palavra de Deus. Os cristãos são chamados a buscar a santificação em todas as áreas da vida, obedecendo aos mandamentos de Deus e cultivando virtudes cristãs.

5. O discernimento em meio a falsos ensinamentos. Diante da disseminação de falsas doutrinas e práticas supersticiosas, os cristãos devem estar preparados para discernir a verdade. Isso requer um conhecimento sólido das Escrituras, que permita identificar e refutar ensinamentos que se desviem da revelação divina. Além disso, é necessário buscar a orientação do Espírito Santo para distinguir entre a verdadeira fé e os enganos, bem como participar de comunidades cristãs comprometidas com a pregação da sã doutrina.

6. A busca pela unidade na diversidade da igreja. A diversidade de denominações e interpretações bíblicas não deve ser motivo de divisão entre os cristãos. Há aqueles que têm a tendência de elevar um ensino doutrinário a um patamar tão elevado que qualquer um que discorde é taxado de réprobo, descrente e destinado ao inferno. No entanto, será essencial priorizar os fundamentos da fé cristã, como a Trindade, a divindade de Cristo, a salvação pela graça e a autoridade das Escrituras (essas doutrinas são essenciais a fé cristã e são inegociáveis!), enquanto se promove o amor e o respeito em questões secundárias tais como a forma de se batizar, a forma de governar a igreja ou como se dará a volta de Cristo. A unidade entre os cristãos fortalece o testemunho do Evangelho e contribui para a expansão do Reino de Deus.

7. A integração entre fé, razão, ciência e cultura. A fé cristã não está em oposição à razão, à ciência ou à cultura. Pelo contrário, ela busca dialogar de forma construtiva e crítica com essas áreas, contribuindo para uma compreensão mais ampla do mundo. Os cristãos são encorajados a estudar as descobertas científicas, participar dos debates culturais e apresentar sua fé de maneira racional e relevante. Ao fazer isso, tornam-se agentes de transformação, levando os princípios do Evangelho às diversas esferas da sociedade e promovendo justiça, paz e o bem comum.

As soluções propostas acima não são fórmulas mágicas ou respostas fáceis para problemas complexos. São, antes, um convite a uma vida de constante aprendizado, busca por Deus, compromisso com a verdade e ação transformadora no mundo. A jornada cristã é desafiadora, mas, através da graça de Deus e da obediência à Sua Palavra, os cristãos podem superar as dificuldades e viver uma vida plena de significado e propósito.


21 fevereiro 2021

A Defesa de nossa Fé

“Defesa da fé” é uma das definições da apologética. No entanto, defender a fé não é tanto um exercício acadêmico, mas uma responsabilidade de todo cristão. A defesa da fé precisa ser vivida, não apenas estudada. Como? Lemos em 1 Pedro 3.15: "Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”.

Em primeiro lugar, defendemos nossa fé quando honramos ao Senhor em nosso coração. Precisamos temer e honrar o Senhor mais do que tememos e honramos pessoas ou ideias. A palavra do Senhor importa mais do que as palavras de homens e mulheres. A Bíblia diz: “A palavra do Senhor permanece eternamente” (1Pe 1.25). Quando o evangelho do nosso Senhor transforma nossa vida e, depois, nossos relacionamentos e comunidades, estamos defendendo nossa fé. Como observou William Edgar, a apologética é relevante a cada dia não por causa do nosso conhecimento sobre a nossa cultura, mas por causa das boas-novas do evangelho, que sempre são frescas e poderosas. Viver em obediência às Escrituras é viver em defesa da nossa fé.

Em segundo lugar, podemos viver defendendo nossa fé vivendo com esperança. Quando escreveu a um povo disperso e perseguido, Pedro supôs que os cristãos viveriam com tamanha esperança que as pessoas lhes perguntariam como e por quê. Hoje, essa esperança é contrária à autoajuda e ao desespero com os quais a maioria das pessoas vive, pois essa esperança não é uma mudança humana. Essa esperança é fé segura na revelação e ressurreição de Jesus Cristo, que traz consigo a promessa de uma grande herança. Os cristãos podem exultar: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). Essa esperança é central ao significado de viver como cristão.

Em terceiro lugar, vivemos defendendo nossa fé quando estamos preparados para dar uma resposta. Pode ser uma resposta àqueles com quem conversamos ou, mais especificamente, àqueles que nos perguntam por que temos esperança. Muitas vezes, pensamos que isso exige muito estudo e muito conhecimento filosófico, cultural e de outras religiões, e esse conhecimento é possível e útil. Mas você não precisa disso antes de começar a defender sua fé; Pedro diz que devemos estar preparados para explicar a nossa esperança, não o nosso conhecimento (1Pe 1.13)! Mas estamos vivendo em diálogo com outros? Estamos usando a criação, a moralidade, o desejo, a beleza, os relacionamentos, a paternidade e a eternidade como temas de diálogo com outros, em que a nossa esperança (como informada pelas Escrituras) pode transparecer? Você está preparado para responder as perguntas: em quê você crê? Por que você crê nisso?

Em quarto lugar, defendemos nossa fé quando vivemos com ternura e temor, ou com mansidão e respeito. Quando nos defendemos, é fácil passar a atacar os outros. Pode existir um momento em que precisamos partir para a ofensiva contra ideias (2Co 10.5), mas precisamos nos lembrar de que não estamos defendendo a nós mesmos; estamos defendendo a esperança que temos em Cristo. Isso precisa ser feito com simpatia, uma postura respeitosa e uma consciência boa. Precisamos nos despir de toda malícia, engano, hipocrisia, inveja e calúnia (1Pe 2.1), até mesmo no contexto de perseguição e ódio. Contudo, é assim que devemos viver enquanto defendemos nossa fé (1Pe 2.13-19). “É melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal”(1Pe 3.17).

Para tudo isso precisamos do dom do Espírito Santo em nós para que possamos honrar o Senhor e viver com esperança (Rm 15.13) e precisamos que ele opere por meio de nós para que possamos viver e defender nossa fé apropriadamente (Jo 15.26). Assim, ao refletir como você deve defender sua fé, pense sobre sua própria vida, não a vida de outros: Sua vida honra o Senhor? Sua vida brilha na esperança? Sua vida está preparada para se envolver com outros? Sua vida é vivida com mansidão e respeito?

Fonte: Bíblia de Estudo Herança Reformada

28 outubro 2020

Falsos Mestres, um “Câncer” Dentro da Igreja

Por Vilmar Rodrigues Nascimento 

Zelo espiritual é uma qualidade indispensável ao verdadeiro pregador da Palavra de Deus. No entanto, esse mesmo zelo tem sido usado por falsos mestres moralistas e farisaicos com fins espúrios. É por isso que os falsos líderes são tão amados e admirados. Eles exercem suas funções eclesiásticas levantando a bandeira do zelo pelas coisas sagradas, quando na verdade, são lobos vorazes em pele de cordeiros. 

A história bíblica, eclesiástica e teológica é prova contundente que muitos hereges foram grandemente estimados por suas pregações e ensinos moralistas. Louis Berkhof escreveu sobre o herege Márcion nestes termos:

“Homem de zelo profundo e de grande habilidade, que labutava no espírito de um reformador. A princípio procurou sujeitar a Igreja à sua maneira de pensar, mas não conseguindo êxito em sua obra reformista, sentiu–se constrangido a organizar seus seguidores numa Igreja separada, buscando aceitação universal para seus pontos de vista através de ativa propaganda” (A História das Doutrinas Cristãs. Editora: PES. Pg. 49).


Márcion ensinava uma distinção absoluta entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Para ele, o Deus do AT não era o mesmo do NT. Entendia a matéria como má, portanto, negava a encarnação de Cristo. O apóstolo João em sua primeira Carta à Igreja escreveu alertando tal fenômeno:

“Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feitos anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 Jo 2.18, 19).


Muitos blasfemadores saíram da Igreja ao serem confrontados e combatidos pelos apologetas. Outros, porém, ficaram disseminando seus erros doutrinários travestidos de zelo espiritual. Os falsos líderes eram e continuam sendo amados porque seus ensinos culminam em práticas pecaminosas que se adéquam ao gosto e interesses de seus ávidos ouvintes. Nesse contexto, como “serpentes”, os falsos mestres continuam tentando muitos membros da Igreja, que atraídos pelos seus discursos arrebatadores são seduzidos e atacados com “veneno” mortal: a heresia.

Todos os falsos mestres receberão no porvir o justo juízo de Deus e Sua implacável ira, castigando-os eternamente em todos os seus pecados.

Nos dias atuais os falsos líderes continuam sendo amados e admirados, mas com uma grande diferença: a mídia. Os holofotes em torno deles têm potencializado não só o amor e admiração, mas terrivelmente a veneração e idolatria de seus seguidores. Qual o principal fundamento para tanto "sucesso"? O amor e o prazer ao pecado travestido de falsa piedade, zelo e moralismo. Acontece assim: Os falsos líderes injetam “veneno” através dos falsos ensinos em seus seguidores e seus seguidores tornam-se um com eles e, ao mesmo tempo, dependentes deles, ao ponto de precisarem de mais “veneno” e mais “veneno”... O resultado é mais amor ao pecado e mais prazer em pecar. Esse ciclo é mortal. O “veneno” injetado mata. Os sintomas do “câncer” são bem vistos no estilo de vida dos falsos mestres e seus seguidores, eles são: egocêntricos e excêntricos. Idólatras e oportunistas. Avarentos e mundanos. Hedonistas e narcisistas. Tornam-se consumidores insaciáveis. É por isso que Paulo ao exortar os jovens pastores Timóteo e Tito, disse enfaticamente:

“É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11). “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocações, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Tm 6.3–5).

Em 1 Tm 1.3–7 o apóstolo Paulo exorta e orienta Timóteo bem como a igreja em Éfeso sobre o dano que os falsos mestres podem fazer ao povo de Deus e a causa de Cristo. No verso 7 está escrito: “Pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações”. O verbo “pretender” no original grego significa: Querer, ter em mente, desejar muito, estar resolvido. O modo verbal particípio presente deixa claro a ação de continuidade. A voz no original é ativa. Portando, os falsos mestres amam continuamente o que fazem e não abrirão mão por ativamente amarem serem o que são – falsos mestres. O restante do versículo e capítulo é uma conclusão lógica à luz do contexto de toda carta do que são capazes e estão dispostos a fazer.

É importante frisar que Paulo ensina Timóteo e a igreja, que os falsos mestres agem abertamente como se fossem verdadeiros “mestres da lei”. Contudo, eles não sabem “nem o que dizem”, que dirá “os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações”. O verbo “passar” no original significa: Ser, existir, acontecer. Ele está expressando uma ação contínua e ativa. Conclui-se que os falsos mestres jamais abrirão mão de ensinarem por amarem o que fazem. Eles continuarão ativamente dentro da igreja disseminando implacavelmente seus falsos ensinos e para melhor resultado, passam-se por “mestres da lei”. Ou seja, tais hereges existem e acontecem falsamente no meio protestante como “mestres da lei”. Que “câncer!” Que lástima! Que tragédia!

Paulo deixa claro à igreja que os falsos mestres “fazem ousadas asseverações”. Eis aqui uma forma clássica de ação: Eles são firmes em seus discursos e enfáticos no método de impressão de seus ensinos através de uma impressionante impostação vocálica. Eles almejavam o púlpito sagrado. Amam pregar. O verbo “asseverar” no original significa: Afirmar com ênfase, declarar de forma contundente. Seu sentido no texto é colocado por Paulo como uma certeza contínua. Portanto, os falsos mestres sempre usarão a oratória como método e recurso para atingir seus objetivos. E mais: Paulo usa a voz média no original, significando que eles sempre estarão preocupados com seus próprios interesses: O amor, prazer e entrega ao pecado.

Muitos falsos mestres existiam dentro da igreja em Éfeso. Mas Paulo faz questão imediata de citar dois nominalmente: “Himeneu e Alexandre” (1 Tm 1.20). O apóstolo antes de fazer menção dos nomes, usa o verbo no original “rejeitar” no verso 19: “tendo eles rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé”. Esse verbo significa: Expulsar para fora de si mesmo, repulsar. É um particípio no aoristo. O aoristo expressa uma ação realiza e acabada. O sentido fica assim: “Alexandre e Himeneu tendo uma vez rejeitado definitivamente a boa consciência, vieram a naufragar na fé”. A voz média é usada para expressar que o sujeito age em benefício próprio. Significando que os dois tomaram tal decisão visando seus próprios interesses. A convicção de Paulo foi clara e objetiva: “os entreguei a Satanás”. Qual propósito? “para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem” (v.20).

A igreja em Éfeso não poderia mais se deixar doutrinar e influenciar pelos falsos mestres. Paulo consciente desta realidade exorta Timóteo bem como a igreja:

“Este é o dever que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (vv.18, 20).


É importante ressaltar que Paulo imediatamente no verso 20 cita Himeneu e Alexandre. Por quê? O próprio contexto da carta deixa claro que esses falsos líderes e sua corja não estavam preocupados com o parecer paulino sobre eles. Eles estavam interessados em disseminar suas heresias a fim de darem vazão aos seus desejos carnais e egoístas. Paulo destaca bem tal motivação aos fiéis no capítulo 6.3–10. No verso 5 está escrito: “... homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”. Aqui há uma grande lição para a igreja em todos os tempos no que concerne à prevenção e combate aos falsos líderes. Paulo faz uma afirmação categórica: os falsos mestres são contínuos em seus objetivos. Portanto, não cabe aos líderes e à igreja serem flexíveis com eles. Eles devem ser implacavelmente combatidos. Por isso que o apóstolo Paulo em nome da saúde da igreja e da glória de Cristo não hesitou em citar nomes. Aqui não houve espaço para o hasteamento da tão famosa bandeira hodierna do politicamente correto! Paulo usou o verbo “supor” que no original significa: manter pelo costume ou uso, considerar. O modo verbal é o genitivo, indicando posse. O tempo verbal expressando continuidade e a voz indicando ação do sujeito. 

Para os primeiros leitores ficou clara a mensagem. Ou seja, os falsos mestres estavam viciados no uso contínuo e ativo da fé religiosa como fonte de lucro. Estavam exercendo grande influência sobre as casas e em especial as mulheres (5.1–16). Agindo assim, perpetuavam sua influência e poder dentro da igreja. Eles almejavam tomar posse completa do púlpito – que é a expressão máxima da verdadeira pregação Cristocêntrica – e o transformar em sua mais elevada tribuna pervertendo–o para os seus mais espúrios e avarentos propósitos. O “câncer” mortal do falso ensino estava se espalhando dentro da igreja em Éfeso (2 Tm 2.17,18). É neste contexto que devemos analisar e entender o famoso versículo: “porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nesta cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (v.10).

Os falsos mestres de hoje são bem parecidos com os de ontem. Seus erros e práticas são mais visíveis por força da velocidade da informação e propaganda. Os pecados são os mesmos. Os objetivos são os mesmos. Eles amam e se deleitam no prazer do pecado. Precisam custear seus mais exóticos, estapafúrdios e caros desejos carnais. Como? Eles se infiltram na igreja a fim de usá-la para fins gananciosos. Eles nunca saíram por completo de nosso meio. Deus os mantém dentro de seu soberano, sapiente e eterno plano. Naquele grande dia tudo será revelado. Inclusive alguns mistérios que giram em torno dos falsos mestres em sua constante permanência no seio da igreja eleita: “O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 Tm 2.19). Confiemos. Descansemos. Porém, não nos acovardemos. Paulo nesta particularidade é implacável para com seu pupilo na fé, Timóteo:

“Tem cuidado de ti mesmo e da sã doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”. “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a mansidão” (1 Tm 4.16; 6.11).


Timóteo, além do cuidado pessoal, tinha que velar pela sã doutrina, bem como fugir da avareza ao mesmo tempo em que deveria levar a igreja à constante vigilância tendo como alvo a vida eterna, a pátria celestial. A igreja atual tem sofrido constantemente com os falsos mestres moralistas travestidos de uma falsa piedade e zelo espiritual. Não é por falta de advertência bíblica. Paulo alertou contundentemente a igreja em Filipos. No capítulo 3.2, os falsos mestres são chamados de “cães”. Eles estão dentro da igreja que pertence ao Senhor Jesus Cristo. Eles são indomesticáveis. Organizam-se em matilhas. São impuros, egocêntricos, avarentos, idólatras, carnais, moralistas e hipócritas (Fl 3.1–21). Eles precisam ser urgentemente amordaçados (Tt 1.11).

Então por que a igreja atual tem demasiadamente tolerado tais mestres em seu meio e púlpito? Por que a liderança tem sido em geral indiferente há tão grande lástima? Certamente, o mundanismo que tem permeado todas as áreas da igreja é um agente potencializador e, em muito tem cooperado para tal quadro decadente. Contudo, não minimizemos os desejos mais espúrios e carnais dos falsos mestres e dos seus admiradores que têm se alimentado de seus erros e práticas antibíblicas. Tragicamente, os “Himeneu(s) e Alexandre(s)”, têm sido mais ouvidos do que os “Timóteo(s)” e “Tito(s)”. Quem são midiáticos? Quem são propagandistas? Quem alimenta o ego e a carne? Quem ama o ovacionismo? Quem alimenta o sistema religioso institucionalizado mercantilista? Quem ama desesperadamente o dinheiro? A resposta é muito simples – Os falsos mestres e seus seguidores, a igreja “mundanizada” e escravizada pela mídia mercantilista.

Que faremos então? Oremos, preguemos e paguemos o preço em prol do verdadeiro evangelho, o antigo, mas sempre atual evangelho da graça de Cristo, que nunca foi contrário à propagação do reino nos quadrantes do mundo. Ocupemos então, os meios de comunicação de forma bíblica e piedosa a fim de proclamarmos a salvação em Cristo, mas também, o juízo de Deus contra todos àqueles que não passam de verdadeiros aproveitadores.

Soli Deo Gloria. Amém!

Fonte: Bereianos