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11 março 2025

A Santificação e a luta contra a Carne

Estudo proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XIII. Da Santificação 

Na seção II e III do capítulo 13, temos o seguinte: 

Seção II. Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda subsiste em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma guerra contínua e irreconciliável – a carne lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne.

Seção III. Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que restam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a sua santidade no temor de Deus.


Na teologia reformada, a santificação é entendida como um processo gradual e contínuo, impulsionado pela obra do Espírito Santo. Após a regeneração, o Espírito Santo infunde novos dons, qualidades e hábitos na vontade do crente, capacitando-o a produzir frutos de boas ações.

A Imperfeição da Santificação e a Luta Interna

A santificação, embora abranja o ser humano por completo, é um processo imperfeito nesta vida terrena (Filipenses 3:12). A persistência de resquícios de corrupção em cada parte do indivíduo regenerado resulta em uma contínua e irreconciliável guerra interior (Romanos 7:23). Essa batalha se manifesta na oposição entre a carne e o Espírito, uma luta constante entre os desejos da natureza pecaminosa e a influência do Espírito Santo. Em Gálatas 5:16-17, ele exorta os crentes a andar no Espírito para não satisfazerem os desejos da carne, pois a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne. Essa oposição impede que os crentes façam o que querem.

A Vitória da Graça e o Crescimento na Santidade

Apesar da persistência da corrupção e da intensidade da luta interna, a graça divina se manifesta de forma triunfante (Romanos 5:20). Pelo contínuo auxílio do Espírito Santo, a parte regenerada do novo homem prevalece sobre as corrupções remanescentes (Romanos 8:13). Essa vitória progressiva capacita os santos a crescerem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus (2 Coríntios 7:1).

A vitória da graça e o crescimento na santidade podem ser compreendidos através dos seguintes aspectos:

Ação Contínua do Espírito Santo

A vitória sobre a corrupção remanescente e o crescimento na santidade são resultados diretos do contínuo auxílio do Espírito Santo (Gálatas 5:16). É o Espírito quem capacita os crentes a resistirem aos desejos da carne e a produzirem frutos de justiça (Gálatas 5:22-23). O Espírito Santo é o agente santificador, transformando progressivamente o crente à imagem de Cristo (2 Coríntios 3:18).

Cooperação Humana

Embora a santificação seja primariamente uma obra de Deus, ela também envolve a cooperação humana (Filipenses 2:12-13). Os crentes são chamados a se esforçarem na busca pela santidade, utilizando os meios de graça que Deus disponibiliza (Hebreus 12:14). Isso inclui a leitura e meditação na Bíblia (Salmos 1:2), a oração (1 Tessalonicenses 5:17), a adoração (João 4:24), o testemunho (Mateus 5:16), a prática de atos de misericórdia e justiça (Miquéias 6:8), a comunhão cristã (Hebreus 10:25) e a autodisciplina (1 Coríntios 9:27).

Transformação Integral

A santificação afeta a pessoa como um todo, purificando-a de tudo o que contamina o corpo e o espírito (2 Coríntios 7:1). Ela não se limita a uma mera mudança de comportamento, mas envolve uma renovação da mente, das emoções e da vontade (Romanos 12:2). O objetivo final da santificação é a conformidade com a imagem de Cristo, tornando os crentes cada vez mais semelhantes a Ele em pensamento, palavra e ação (Romanos 8:29).

Processo Gradual e Contínuo

A santificação não é um evento único e instantâneo, mas um processo gradual e contínuo que se estende ao longo da vida do crente (Provérbios 4:18). Embora possa haver momentos de progresso e retrocesso, a direção geral da vida do crente deve ser de crescimento constante na graça e no conhecimento de Cristo (2 Pedro 3:18).

Aperfeiçoamento Progressivo

Paulo fala sobre a necessidade de esquecer o passado e avançar em direção ao alvo, buscando a perfeição (Filipenses 3:13-14). Embora a perfeição completa não seja alcançável nesta vida, os crentes devem se esforçar continuamente para aperfeiçoar a santidade no temor de Deus (2 Coríntios 7:1). Isso envolve uma busca constante pela pureza de coração (Mateus 5:8), pela prática da justiça (1 João 3:7) e pela obediência aos mandamentos de Deus (João 14:15).

Alegria e Paz

A santificação traz consigo grande alegria e paz (Gálatas 5:22). Quanto mais os crentes crescem em semelhança a Cristo, mais experimentam a alegria e a paz que são frutos do Espírito Santo (Romanos 14:17). A santificação também os aproxima da verdadeira felicidade e da plenitude de vida que Deus oferece: “...eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10).

Meios de Graça

Os meios de graça desempenham um papel fundamental no processo de santificação. A Palavra de Deus, os sacramentos (batismo e Ceia do Senhor) e a oração são instrumentos pelos quais o Espírito Santo comunica a graça divina e transforma os crentes à imagem de Cristo (Efésios 5:26; 1 Coríntios 11:23-26; Efésios 6:18). O uso diligente desses meios capacita os crentes a crescerem em santidade e a experimentarem a plenitude da vida cristã (Colossenses 3:16).

A Graça Imediata e a Ação Interna de Deus

A eficácia da graça divina na santificação é demonstrada pela corrupção humana (Efésios 2:1-5). A visão espiritual da fé e a revelação da doutrina na Palavra só são possíveis mediante a restauração da faculdade corrompida (1 Coríntios 2:14). Deus opera nos corações dos homens por um poder interno e oculto, gerando não apenas revelações genuínas, mas também a boa vontade (Filipenses 2:13).

As Escrituras atribuem a Deus uma ação interna na conversão do homem (João 6:44). Ele efetua tanto o querer quanto o realizar, cumprindo todo propósito de bondade e obra de fé (2 Tessalonicenses 1:11) e operando o que é agradável diante dEle (Hebreus 13:21).

Implicações para a Vida Cristã

A doutrina da santificação tem implicações importantes para a conduta da vida cristã. Ela enfatiza a necessidade de buscar a reconciliação com Deus e a incorporação em sua comunhão (2 Coríntios 5:18). A ordem da salvação, ou ordo salutis, busca responder à questão de como o pecador obtém os benefícios da graça adquirida por Cristo (Efésios 2:8-9).

A vida interior do povo de Deus, até o fim de seu curso neste mundo, é uma repetição da conversão (Mateus 18:3). É um contínuo voltar-se para Deus, uma constante renovação de confissão, arrependimento e fé (1 João 1:9; Atos 3:19), um morrer para o pecado e um viver para a justiça (Romanos 6:11).

Conclusão

A Confissão de Fé de Westminster oferece uma síntese clara dessa doutrina, guiando os crentes na busca pela santidade. A santificação é um processo contínuo e dinâmico, iniciado na regeneração e estendido por toda a vida do crente, transformando o crente à imagem de Cristo e capacitando-o a viver para a glória de Deus. Embora não alcance perfeição nesta vida, o crente, capacitado pela graça de Deus, luta contra o pecado e busca a conformidade com a imagem de Cristo. A fé, como meio de apropriação da graça divina, é evidenciada por boas obras que refletem uma transformação interior operada pelo Espírito Santo. Esse processo envolve uma constante batalha espiritual, onde o crente se esforça para mortificar as obras da carne e viver em obediência a Deus. A compreensão da santificação requer uma interpretação cuidadosa das Escrituras, destacando a centralidade da graça divina e a importância da obediência.


27 novembro 2024

O Discipulado Cristão como Caminho de Renúncia e Promessa de Eternidade

O discipulado cristão é um chamado à entrega total a Cristo, demandando compromisso incondicional, abnegação e o primado do amor a Deus sobre todas as coisas. Esse amor se manifesta na obediência aos mandamentos divinos, como nos ensina Jesus: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (João 14:15). A busca pela santidade, refletida no desejo de viver em conformidade com a vontade de Deus, também é inerente ao discipulado, como exorta o apóstolo Pedro: "Como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento" (1 Pedro 1:15).

A necessidade de negar a si mesmo é um tema fundamental quando se discute o discipulado. O ser humano é advertido a não buscar em si próprio a sabedoria e a força, mas sim em Deus, reconhecendo sua dependência e submissão ao Senhor. Jesus, em seu chamado ao discipulado, afirma: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mateus 16:24). A disposição de abandonar tudo por amor a Ele é vista como sinal de um coração verdadeiramente convertido, pronto a seguir o Mestre sem reservas.

Essa renúncia, porém, não se configura como um sacrifício sem propósito. A promessa de um tesouro eterno nos céus, constantemente evocada nas Escrituras, serve como âncora da esperança do cristão em meio às adversidades. Jesus consola seus discípulos, afirmando: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam" (Mateus 6:19-20). Essa promessa de eternidade, um tesouro reservado nos céus para aqueles que perseverarem na fé, é a força motriz que impulsiona o discípulo em sua caminhada. Jesus assegura: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos tiver preparado lugar, voltarei e vos tomarei para mim, para que, onde eu estou, estejais vós também" (João 14:2-3).

A busca pela comunhão com Deus, a alegria em Seus ensinamentos e a certeza da vida eterna são tesouros incomparáveis, que transcendem qualquer bem material ou prazer passageiro. O apóstolo Paulo, experienciando as riquezas da vida em Cristo, declara: "Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo" (Filipenses 3:7-8).

Ser discípulo de Cristo não se limita à mera aceitação de um conjunto de doutrinas. É uma transformação radical da vida, moldada pelos ensinamentos do Mestre. A obediência aos mandamentos divinos, a busca pela santidade e o amor ao próximo são elementos indissociáveis dessa jornada. O próprio Jesus resume o mandamento principal: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:37-39).

O discipulado cristão é um caminho de constante aprendizado e aperfeiçoamento, tendo Cristo como modelo e meta. É um convite a reconhecer as próprias falhas, arrepender-se dos pecados e confiar na graça de Deus para promover a transformação. O apóstolo Paulo nos encoraja a essa busca incessante: "Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3:14).

Em síntese, o discipulado cristão, embora exija renúncia, oferece como recompensa a promessa de uma vida plena e eterna em comunhão com Deus. A autonegação, a obediência aos mandamentos divinos, a busca pela santidade e a esperança na vida eterna são pilares que sustentam essa caminhada da fé. É um chamado à transformação, tendo Cristo como modelo e a glória de Deus como objetivo final, como exorta o apóstolo Paulo: "E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens" (Colossenses 3:23).


20 novembro 2024

Dificuldades e soluções na prática da Fé Cristã

Há uma infinidade de desafios que os cristãos contemporâneos enfrentam ao viver sua fé em um mundo complexo e em constante mudança. Neste artigo, vamos tentar explorar essas dificuldades com profundidade, oferecendo uma perspectiva bíblica e teológica para a compreensão e superação desses obstáculos.

A tarefa de conciliar os ensinamentos bíblicos, escritos em contextos históricos e culturais distintos, com a realidade do século XXI é um dos desafios mais urgentes. A rápida transformação social, os avanços científicos e o questionamento constante de valores tradicionais colocam os cristãos em uma posição delicada, exigindo discernimento e sabedoria para navegar por essas complexidades sem comprometer a integridade de sua fé.

Há também as dificuldades internas que os cristãos enfrentam, como a luta contra o pecado, a persistência de dúvidas e o sofrimento inerente à condição humana. A natureza pecaminosa, mesmo após a conversão, torna a obediência a Deus um desafio constante. Dúvidas sobre a veracidade de experiências espirituais, a interpretação de passagens bíblicas complexas e a aparente ineficácia da oração em certos momentos também podem abalar a fé do cristão. O sofrimento, seja por doença, perseguição ou crises pessoais, levanta questões sobre a bondade e o cuidado de Deus, levando alguns a questionar sua fé.

A proliferação de falsos ensinamentos, seitas e distorções da mensagem cristã também representa um obstáculo significativo. A teologia da prosperidade, com sua ênfase em riqueza material como sinal de bênção divina, e a proliferação de práticas supersticiosas sem base bíblica, como a "quebra de maldições", são exemplos de desvios que seduzem muitos, levando-os para longe da verdadeira fé.

A diversidade de denominações e igrejas, com suas diferentes interpretações da Bíblia e práticas distintas, também gera dificuldades para os cristãos. A busca pela unidade (ecumenismo) esbarra em desafios teológicos e práticos, especialmente na definição de uma base comum para a comunhão autêntica. O movimento dos "desigrejados", que rejeitam não somente a comunhão mas a estrutura institucional da igreja, também representa um desafio à visão tradicional de comunidade cristã.

Também precisamos considerar a necessidade de integrar a fé com a razão, a ciência e a cultura, que permanece como uma tarefa complexa para os cristãos. A teoria da evolução, por exemplo, coloca em dúvida a narrativa bíblica da criação, gerando tensões entre a fé e o conhecimento científico. A interação com diferentes culturas e sistemas de valores exige dos cristãos discernimento para preservar a integridade de sua fé sem se fechar ao diálogo e à compreensão do outro.

As dificuldades na prática da fé cristã são, portanto, multifacetadas e estão por toda parte e afetam diferentes áreas da vida, demandando dos cristãos uma fé resiliente, um conhecimento sólido das Escrituras e um compromisso inabalável com a verdade de Deus. 

E qual a solução?

Não podemos oferecer uma solução única e abrangente para as dificuldades na prática da fé cristã, mas, sim, um conjunto de princípios, orientações e atitudes que podem auxiliar os cristãos a navegar por esses desafios.

1. A importância do estudo aprofundado da Bíblia. O conhecimento profundo das Escrituras é fundamental para a base da fé e da prática cristã. O estudo constante da Bíblia permite aos cristãos compreenderem melhor o contexto histórico e cultural dos textos sagrados, evitando distorções ou interpretações equivocadas. Além disso, esse estudo oferece respostas para questões complexas e desafiadoras, orientando os fiéis a discernir a vontade de Deus para suas vidas, tomar decisões sábias e alinhar suas ações aos princípios divinos.

2. O valor da oração como comunicação com Deus. A oração é um canal indispensável de conexão entre o cristão e Deus. Por meio dela, os fiéis apresentam suas necessidades, ansiedades e dúvidas, encontrando consolo e direção. A prática da oração também é um momento de gratidão, no qual se reconhece a soberania divina e as bênçãos recebidas. Assim, a oração fortalece a fé, aprofunda a intimidade com Deus e ensina os cristãos a confiar em Sua providência e descansar em Suas promessas.

3. A resiliência diante do sofrimento como marca da fé. O sofrimento é parte inevitável da caminhada cristã, mas também uma oportunidade de crescimento espiritual. Enfrentá-lo com resiliência permite aos cristãos dependerem mais profundamente de Deus e confiarem em Seus propósitos, mesmo em meio à dor. A Palavra de Deus e a comunhão com outros cristãos oferecem força e encorajamento, ajudando os fiéis a perseverarem na fé enquanto mantêm o foco na esperança da vida eterna e na vitória final em Cristo.

4. A luta contra o pecado e o relativismo cultural. A batalha contra o pecado é constante na vida cristã, exigindo o reconhecimento da necessidade de arrependimento e transformação interior, operada pelo Espírito Santo. Permanecer fiel aos princípios bíblicos é essencial, especialmente em um mundo onde o relativismo cultural busca diluir a verdade absoluta da Palavra de Deus. Os cristãos são chamados a buscar a santificação em todas as áreas da vida, obedecendo aos mandamentos de Deus e cultivando virtudes cristãs.

5. O discernimento em meio a falsos ensinamentos. Diante da disseminação de falsas doutrinas e práticas supersticiosas, os cristãos devem estar preparados para discernir a verdade. Isso requer um conhecimento sólido das Escrituras, que permita identificar e refutar ensinamentos que se desviem da revelação divina. Além disso, é necessário buscar a orientação do Espírito Santo para distinguir entre a verdadeira fé e os enganos, bem como participar de comunidades cristãs comprometidas com a pregação da sã doutrina.

6. A busca pela unidade na diversidade da igreja. A diversidade de denominações e interpretações bíblicas não deve ser motivo de divisão entre os cristãos. Há aqueles que têm a tendência de elevar um ensino doutrinário a um patamar tão elevado que qualquer um que discorde é taxado de réprobo, descrente e destinado ao inferno. No entanto, será essencial priorizar os fundamentos da fé cristã, como a Trindade, a divindade de Cristo, a salvação pela graça e a autoridade das Escrituras (essas doutrinas são essenciais a fé cristã e são inegociáveis!), enquanto se promove o amor e o respeito em questões secundárias tais como a forma de se batizar, a forma de governar a igreja ou como se dará a volta de Cristo. A unidade entre os cristãos fortalece o testemunho do Evangelho e contribui para a expansão do Reino de Deus.

7. A integração entre fé, razão, ciência e cultura. A fé cristã não está em oposição à razão, à ciência ou à cultura. Pelo contrário, ela busca dialogar de forma construtiva e crítica com essas áreas, contribuindo para uma compreensão mais ampla do mundo. Os cristãos são encorajados a estudar as descobertas científicas, participar dos debates culturais e apresentar sua fé de maneira racional e relevante. Ao fazer isso, tornam-se agentes de transformação, levando os princípios do Evangelho às diversas esferas da sociedade e promovendo justiça, paz e o bem comum.

As soluções propostas acima não são fórmulas mágicas ou respostas fáceis para problemas complexos. São, antes, um convite a uma vida de constante aprendizado, busca por Deus, compromisso com a verdade e ação transformadora no mundo. A jornada cristã é desafiadora, mas, através da graça de Deus e da obediência à Sua Palavra, os cristãos podem superar as dificuldades e viver uma vida plena de significado e propósito.


29 janeiro 2024

A vida de David Brainerd

David Brainerd, um dos maiores missionários que a igreja já conheceu, é uma figura de profunda inspiração na vida cristã, especialmente no contexto da missão e do sofrimento. Brainerd dedicou sua vida a trabalhar entre os índios nos Estados Unidos, em um ministério marcado por intensos desafios e provações.

David Brainerd nasceu em 1718 em Haddam, Connecticut, e faleceu em 1747 em Northampton, Massachusetts. Ele foi expulso da Universidade de Yale devido a um conflito com um dos professores, o que foi um ponto de virada significativo em sua vida. Após sua expulsão, ele se dedicou ao trabalho missionário. Brainerd era um cristão calvinista fervoroso.

A relação de Brainerd com Jonathan Edwards é notável. Edwards, um importante teólogo e pregador do Grande Despertamento, ficou profundamente impressionado com o fervor e a dedicação de Brainerd à missão. Após a morte precoce de Brainerd devido à tuberculose, Edwards editou e publicou o diário de Brainerd. Este diário se tornou uma influente fonte de inspiração para futuros missionários e cristãos em geral.

A história de Brainerd é notável por vários motivos. Seu diário, repleto de relatos de angústia e dor, revela a sensibilidade e a profundidade de sua alma aflita. Mesmo enfrentando sentimentos de abandono por Deus e lutando para sentir o amor e conforto divinos, Brainerd persistiu em sua missão. Sua experiência demonstra uma fé resiliente, mesmo quando as práticas espirituais pareciam não trazer alívio imediato e suas orações pareciam sem resposta.

A vida de Brainerd nos inspira de várias maneiras:

1.Perseverança na Fé: Apesar dos desafios emocionais e físicos, Brainerd continuou sua missão, demonstrando uma fé inabalável em Deus.

2.Compromisso com a Missão: Sua dedicação aos povos indígenas, mesmo em face de adversidades, ressalta a importância de seguir o chamado de Deus, independentemente das circunstâncias.

3.Honestidade Espiritual: Brainerd não escondeu suas lutas e dúvidas, mostrando que é normal enfrentar períodos de questionamento e dificuldade na jornada espiritual.

4.Impacto Duradouro: Seu legado continua a inspirar missionários e cristãos, demonstrando que o trabalho feito em fé pode ter um impacto significativo além do nosso tempo na Terra.

5.Dependência de Deus: A história de Brainerd nos lembra da necessidade de dependermos de Deus, especialmente nos momentos em que nos sentimos fracos e incapazes.

Assim, a história de David Brainerd oferece um poderoso testemunho de fé, resistência e compromisso com a obra de Deus, mesmo diante de grandes dificuldades e desafios pessoais.

Caso queira conhecer mais sobre a vida deste grande homem de Deus, acesse aqui.


22 outubro 2023

[Exposição] Despertem e Lembrem-se | 2 Pedro 1.12-21

A vida autêntica é a melhor defesa contra os falsos ensinamentos. Uma igreja em crescimento dificilmente se torna vítima de apóstatas e de seu cristianismo falsificado. No entanto, a vida cristã deve ser baseada na Palavra de Deus, pois ela está investida de autoridade. Para os falsos mestres, é fácil seduzir pessoas sem conhecimento da Bíblia, principalmente àqueles que desejam ter algum tipo de “experiências” com o Senhor. É perigoso edificar a fé somente sobre experiências subjetivas e ignorar a revelação objetiva.

Pedro trata da experiência cristã na primeira parte do primeiro capítulo (1-11) e na outra metade (12-21) vai abordar a revelação da Palavra de Deus. Seu objetivo é mostrar a importância de conhecer as Escrituras, a Palavra de Deus, e de se firmar inteiramente nela. O cristão que sabe em que crê e por que crê, raramente será seduzido por falsos mestres e por suas doutrinas errôneas. Pedro vai ressaltar a confiabilidade e durabilidade da Palavra de Deus fazendo um contraste entre as Escrituras e os homens, as experiências e o mundo.

Esta carta foi escrita aos cristãos da Ásia Menor, de acordo com 1 Pedro, no período de 67 dC, já no fim do reinado de Nero. É considerada uma “literatura de heresia”, ou seja, um dos livros do NT escrito para combater heresias. E talvez o tipo de heresia combatido nesta carta tenha sido o Gnosticismo¹ que já no séc 1 “rondava” círculos cristãos. Apesar das controvérsias, o autor é geralmente atribuído a Simão Pedro, o apóstolo de Jesus Cristo (1.1), que foi testemunha ocular da transfiguração de Jesus e que o negou por 3 vezes.

No texto que lemos, percebemos a preocupação de Pedro em levar os seus leitores a um patamar de edificação espiritual que fosse seguro contra os falsos mestres. E esse patamar só seria alcançado mediante o “despertamento” e o constante “lembrete” das verdades recebidas, do verdadeiro ensino. Daí temos o tema: Despertem e Lembrem-se!

1) Os homens morrem, mas a Palavra vive (v. 12-15)

Sabemos que os apóstolos e profetas do Novo Testamento lançaram os alicerces da Igreja (Ef 2.20) através da pregação e do ensino, e nós, de gerações posteriores, edificamos sobre esses alicerces. No entanto, os homens não constituem a fundação. Jesus é a fundação (1Co 3.11). Ele é a pedra angular que dá coesão ao edifício (Ef 2.20). Se a Igreja deseja permanecer de pé, não pode ter sua base construída sobre homens; antes, deve ser edificada sobre Jesus Cristo.

Podemos perceber pelo menos três motivações que dão razão ao ministério de Pedro ao escrever esta carta.

1) Obediência às ordens de Cristo, “sempre estarei pronto” (verso 12). Jesus havia dito a ele que quando ele se convertesse, deveria fortalecer os irmãos (ver Lc 22.32). Estar sempre pronto é o contrário de viver em preguiça, uma vez que a preguiça leva à destruição eterna (Pv 13.4; 24.30-34) e ser diligente leva à glória eterna. Pedro tencionava lembrá-los sempre. Mesmo que haja o conhecimento e determinação, há a necessidade de motivação e exortação.

2) Esta lembrança era a coisa certa a fazer (verso 13). “Considero justo…”, ou seja, “creio que é correto e apropriado”. É sempre correto estimular os crentes e lembrá-los da Palavra de Deus.

3) Diligência (verso 15). A palavra que o apóstolo usa aqui é a mesma que usou os versos 5 e 10. Significa “apressar-se em fazer algo”, “ser zeloso em fazer algo”. Pedro sabia que iria morrer em breve (ver João 21.18), por isso, desejava cumprir suas responsabilidades espirituais antes que fosse tarde demais. Pedro tinha consciência que a brevidade do seu mandato, aumenta o peso da sua responsabilidade diante de seus leitores. Uma vez que não sabemos quando iremos morrer, deveríamos começar a ser diligentes hoje mesmo!

Qual era o objetivo de Pedro? A resposta encontra-se em duas palavras usadas nos versos 12, 13 e 15 - lembrados e lembranças. Pedro desejava gravar a Palavra de Deus na mente dos seus leitores a fim de que jamais se esquecessem dela. “Despertai-vos com essas lembranças” (verso 13). O termo “despertar” significa estimular, acordar.

Os leitores desta carta conheciam a verdade e eram até confirmados na verdade (verso 12), mas isso não garantiam que se lembrariam para sempre dela e que a aplicariam. É por isso que o Espírito Santo foi dado à igreja, entre outros motivos, para lembrar os cristãos das lições que o Senhor Jesus ensinou (João 14.26). Lembrem-se: os homens morrem, mas a Palavra de Deus permanece!

Se não tivéssemos a revelação escrita confiável, estaríamos à mercê da memória humana. Felizmente é possível sim depender da Palavra de Deus pois ela está escrita e continuará escrita até a vinda de Jesus Cristo. É através desta Palavra escrita que somos salvos (1Pe 1.23-25). É através desta Palavra escrita que somos nutridos por ela (1Pe 2.2). É através desta Palavra escrita que somos guiados e protegidos ao crer e obedecer.

2) As experiências passam, mas a Palavra permanece (v.16-18)

Dos versos 16 a 18 temos como tema central a transfiguração de Jesus Cristo. Esse relato encontramos em Mateus 17, Marcos 9 e Lucas 9. No entanto, esses autores não estavam lá presentes quando ela ocorreu. Mas Pedro estava lá. Pedro traz à memória sua experiência de ter presenciado aquele evento.

Importante ressaltar o uso da primeira pessoa no plural. Trata-se de uma referência a Pedo, Tiago e João, os únicos apóstolos que presenciaram a Transfiguração. E serve para autenticar o testemunho apostólico, pois o evento descrito não foi visto apenas por Pedro. E também serve de testemunho para não acusar Pedro de ter criado essa “fábula engenhosa”. E cabe uma pergunta aqui: qual o significado da Transfiguração?

1) Confirmou o testemunho de Pedro acerca de Jesus Cristo (ver Mt 16.13-16). Pedro viu o Filho em sua glória e ouviu o Pai dizer do céu: “este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2 Pe 1.17).

2) A Transfiguração teve um significado especial para Jesus Cristo, que se aproximava do Calvário. Foi a forma do Pai fortalecer o Filho para a provação terrível de ser sacrificado pelos pecados do seu povo. A Transfiguração foi prova de que, quando estamos dentro da vontade de Deus, o sofrimento conduz à glória.

3) Mensagem relacionada ao Reino prometido. Note que para cada relato da Transfiguração em Mateus, Marcos e Lucas, o relato começa com uma declaração sobre o Reino de Deus. Jesus prometeu que antes de morrerem, alguns discípulos veriam o Reino de Deus em poder (ver Mateus 16.28, Marcos 9.1, Lucas 9.27). E isso se cumpriu no monte da transfiguração.

Agora podemos entender porque Pedro usa esse acontecimento: para refutar falsos ensinos que dizia que o Reino de Deus nunca viria (ver 2 Pe 3.3 em diante). Daí Pedro apresenta um resumo do que viu e ouviu no monte da transfiguração. Viu a glória de Jesus e ouviu o testemunho do Pai sobre o Filho.

Nós não testemunhamos pessoalmente a Transfiguração, mas Pedro estava lá e apresenta um registro preciso de sua experiência na sua carta. As experiências passam, mas a Palavra de Deus permanece. As experiências são subjetivas, mas a Palavra de Deus é objetiva. As experiências podem ser interpretadas de diferentes formas pelos participantes, mas a Palavra de Deus apresenta uma única mensagem clara. As memórias de nossas experiências podem ser distorcidas inconscientemente, mas a Palavra de Deus não muda e permanece para sempre.

Ao lembrar da Transfiguração, Pedro afirma várias doutrinas importantes da fé cristã. Declara que Jesus Cristo é o Filho de Deus, da Sua Divindade. Declara a obra que Jesus Cristo veio fazer na terra, sua morte e ressurreição, trazendo redenção dos pecadores. Declara a veracidade das Escrituras, pois a Lei e os Profetas (Moisés e Elias) apontavam para Jesus Cristo (Hb 1.1-3). Declara a realidade do Reino de Deus, que o sofrimento conduziria à glória e que a cruz resultaria na sua coroação.

Pedro não pôde dividir essa experiência conosco, mas registrou essa experiência para que o tivéssemos gravado permanentemente na Palavra de Deus. Não é possível reproduzir essa experiência, porém temos o relato que nos devem conduzir à reflexão e meditação.

3) O mundo escurece, mas a Palavra resplandece (v.19-21)

O mundo tem-se deteriorado a cada nova geração. O mundo está mergulhado em trevas e isso não deveríamos nos espantar. Jesus advertia seus ouvintes que a igreja seria alvo de impostores que ensinariam falsas doutrinas (Mt 7.13-29), Paulo faz uma alerta semelhante aos presbíteros de Éfeso (At 20.28-35) e também em suas cartas (Rm 16.17-20; 2Co 11.1-15; Gl 1.1-9; Fp 3.17-21; Cl 2; 1Tim 4; 2Tm 3-4) e até mesmo João faz esse tipo de advertência (1Jo 2.18-29; 4.1-6). Ou seja, temos admoestações claras de que o mundo moral, espiritual, só iria de mal a pior e que afetaria a Igreja.

O mundo só escureceria cada vez mais, e a Palavra de Deus resplandeceria cada vez mais. Pedro faz três declarações acerca dessa Palavra:

É a Palavra confirmada (verso 19a). A experiência de Pedro no monte da transfiguração foi real e o registro bíblico é confiável. A Transfiguração foi uma demonstração da promessa da Palavra profética e hoje essa promessa é ainda mais certa por causa do que Pedro experimentou. A Transfiguração confirmou as promessas proféticas. Os apóstatas tentariam desacreditar a promessa da vinda de Cristo, mas as Escrituras são fiéis. A promessa do Reino foi reafirmada por Moisés, por Elias, pelo próprio Jesus Cristo e pelo Pai. E o Espírito Santo registrou essa verdade para ser lida para a sua Igreja. Pedro faz um tributo à validade das Escrituras, onde elas são mais dignas de crédito do que uma voz ouvida do céu. Aqui temos uma censura aos falsos mestres que, indo além das Escrituras, criam de forma artificial, teorias místicas. A experiência pela qual Pedro passou deu certeza da realidade futura.

“O testemunho do Senhor é fiel” (Sl 19.7). “Fidelíssimos são os teus testemunhos” (Sl 93.5). “Fiéis todos os seus preceitos” (Sl 111.7). “Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos…” (Sl 119.128).

É a Palavra resplandecente (verso 19b). Pedro chama o mundo de “lugar tenebroso”. A palavra “tenebroso” aqui tem o sentido de algo “obscuro”. É um retrato de um porão escuro ou de um pântano sinistro. A história da humanidade começou em um jardim, belíssima, e hoje essa história está obscura, tenebrosa e sinistra. O sistema desse mundo indica a condição espiritual do nosso coração. Ainda podemos ver a beleza de Deus na criação, mas não vemos beleza alguma no que a humanidade faz com essa criação.

Deus é luz e a sua Palavra é luz: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). Jesus Cristo iniciou seu ministério “aos que viviam na região e sombra da morte e resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.16). Sua vinda a este mundo foi a aurora de um novo dia (Lc 1.78). Para a igreja, Jesus Cristo é “a brilhante estrela da manhã” (Ap 22.16). Ele é o “sol da justiça” (Mt 4.1,2).

É a Palavra dada pelo Espírito (versos 20,21). Pedro aqui declara a doutrina da inspiração das Escrituras. Pedro afirma que as Escrituras não foram redigidas por homens que usaram as próprias idéias e palavras, mas sim por homens “movidos pelo Espírito Santo”, ou de acordo com a palavra grega pheromenói (“controlados e conduzidos”), eles foram conduzidos pelo Espírito Santo. As Escrituras não foram inventadas por homens, mas sim inspiradas por Deus.

Mais uma vez, vemos Pedro refutando os falsos mestres que ensinavam “palavras fictícias” (2Pe 2.3) e distorciam as Escrituras de modo a fazê-las significar outras coisas (2Pe 3.16) e que negavam a promessa da vinda de Cristo (2Pe 3.3,4). Uma profecia das Escrituras deve ser interpretada não com base nos pensamentos arraigados da velha natureza humana, tal como aquela dos falsos mestres, mas com base no que o Espírito Santo torna claro sobre o seu significado, já que Jesus enviou o Espírito para guiar os crentes à verdade (Jo 16.13). As Escrituras não resultam de um desvendamento particular. Os profetas não inventaram, pela força do desejo humano, aquilo que escreveram.

Deus é o Autor das Escrituras. Foi Ele quem as deu, bem como Ele é a correta interpretação, mediante iluminação.

Conclusão

Os homens morrem, mas a Palavra de Deus vive. As experiências passam, mas a Palavra permanece. O mundo escurece, mas a luz da Palavra de Deus resplandece. O cristão que edifica a vida pela Palavra de Deus e que espera a vinda do Salvador Jesus Cristo dificilmente será enganado por falsos mestres.

A mensagem de Pedro é: “despertem e lembrem-se!”. Há igrejas que, sem saber, dão espaço para o diabo atuar. Lembram da parábola do joio em Mateus 13.24-30? “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto todos estavam dormindo, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e foi embora”.

Devemos ter o cuidado com as falsificações de Satanás. Ele possui cristãos falsos (2Co 11.26) que acreditam num evangelho falso (Gl 1.6-9), estimula uma falsa justificação (Rm 10.1-3) e tem até mesmo uma igreja falsa (Ap 2.9). No final dos tempos, chegará ao cúmulo de produzir um falso cristo (2Ts 2.1-12).

Devemos permanecer alertas para que os ministros de Satanás não se infiltrem e causem estragos na congregação dos cristãos verdadeiros (2Pe 2; 1Jo 4.1-6). Nem tudo que é feito dentro do cristianismo é um produto de cristãos verdadeiros. Quando nós “dormimos”, Satanás se põe a trabalhar. Devemos nos opor a Satanás com a mesma diligência que ele se opõe ao verdadeiro ensino. Despertemos e lembremo-nos!

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O gnosticismo do primeiro século era um movimento religioso e filosófico que se desenvolveu no Império Romano durante os primeiros séculos do cristianismo. Os gnósticos acreditavam em uma dualidade entre o espírito e a matéria, e que o mundo material era mau e satânico. O espírito humano, portanto, era prisioneiro do corpo. A salvação, para os gnósticos, era alcançada por meio do conhecimento (gnosis), que era transmitido a um iniciado por um mestre gnóstico. Os gnósticos acreditavam que Jesus Cristo era um ser espiritual, e não um ser humano. Eles acreditavam que Jesus Cristo era uma emanação da divindade superior, e que havia descido ao mundo material para libertar o espírito humano. Os gnósticos rejeitavam a crença cristã de que Jesus Cristo havia se tornado humano e que havia sofrido e morrido na cruz e negavam a ressurreição de Jesus Cristo.


01 maio 2023

[Devocional] Quando Deus diz "Não"

Augustus Nicodemus Lopes 

A Bíblia nos oferece pelo menos 3 razões pelas quais Deus deixa de atender as orações que fazemos. Existem outros motivos além desses 3 pelos quais recebemos um "não" de Deus, como por exemplo a sua soberana, secreta e mui sábia vontade. 

Entretanto, estas 3 razões são as mais comumente mencionadas na Bíblia para as negativas de Deus. 

Razão 1: Motivação errada (Tiago 4.3) 

As razões pelas quais fazemos as coisas é da maior importância para Deus. A razão final de tudo que fazemos deve ser a glória de Deus. 

Assim, quando pedimos determinadas coisas, sem que tenhamos como motivação a glória de Deus, estamos, num certo sentido, praticando idolatria. Estamos colocando nossos interesses à frente da glória de Deus. 

Não é errado pedir a Deus coisas que nos dão prazer e alegria, desde que sejam legítimas e verdadeiras. Entretanto, mesmo coisas legítimas podem se tornar ídolos. 

Além disso, não poucas vezes pedimos coisas a Deus para satisfazer desejos secretos de vaidade, projeção, prestígio ou mesmo satisfação do nosso ego. Deus, que conhece nosso coração, vê os nossos motivos e não atende esses pedidos. 

Porque você não aproveita esse momento para sondar seu coração? Você tem feito seus pedidos a Deus com as motivações corretas? Você deseja acima de tudo que Deus seja glorificado? 

Razão 2: Falta de Fé (Tiago 1.6,7) 

Outro fator que acarreta um "não" da parte de Deus é a falta de fé. Nesse contexto, fé é a confiança de que nosso Deus nos ama, é poderoso para atender nossos pedido e soberano para fazê-lo como desejar. É uma atitude humilde de aceitar qualquer que seja a sua resposta. 

A falta de fé faz com que duvidemos, no íntimo do nosso coração, da existência de Deus e do seu interesse em nos ouvir. É um ceticismo profundo da alma quanto às promessas que Deus nos fez na Bíblia. 

Quando parecer que o Senhor não vai atender o nosso pedido, sondemos o nosso coração: cremos de fato que Ele pode fazer o que pedimos? Confiamos no seu poder e na sua sabedoria? Estamos dispostos a aceitar qualquer que seja a sua resposta? 

Por que você não aproveita esse momento para sondar seu coração? Você tem confiado e descansado na soberania e na sabedoria de Deus? 

Razão 3: Pecados não tratados (Salmos 66.18) 

Com o propósito de nos levar a autoexame, arrependimento, confissão e mudança de vida, nosso Deus com frequência nega os nosso pedidos, a fim de chamar a nossa atenção para o fato de que alguma coisa está errada no relacionamento com Ele. 

Pecados que cometemos e dos quais nunca nos arrependemos - e, portanto, nunca confessados a Deus e aos envolvidos - são causa frequente de resposta negativa à oração. 

Se Deus atendesse as orações de pessoas que vivem na prática do pecado e sem qualquer arrependimento, estaria validando o pecado delas. Se Deus nos dá uma resposta negativa, devemos proceder a um exame sincero de nossa vida, confessar todo pecado conhecido e abandonar toda prática pecaminosa. 

Isso não significa que teremos de ser perfeitos moralmente para que Deus nos responda. Se fosse assim, nunca teríamos respostas. 

O que Deus requer é que nos arrependamos e confessemos a Ele todos os pecados dos quais temos consciência. Somente pecados não confessados impedem respostas de oração. 

Aproveite para sondar seu coração!

Fonte: Perfil do Instagram aqui, aqui e aqui.

24 janeiro 2023

[Devocional] Morte e Ressurreição

E, se Cristo não ressuscitou, é vã a fé que vocês têm, e vocês ainda permanecem nos seus pecados. (1 Coríntios 15.17)

Morte e ressurreição estão lado a lado, andam de mãos dadas, pois quando a morte é mencionada, tudo que é peculiar à ressurreição está incluso. Como também o inverso é verdadeiro: quando a ressurreição é mencionada, tudo que é peculiar à morte está incluso.

Mas Jesus por ter ressuscitado, obteve a vitória e tornou-se a ressurreição e a vida e por isso Paulo diz "...Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou o qual está à direita de Deus e também intercede por nós" (Romanos 8.34.).

Já que a mortificação de nossa carne depende da comunhão com a cruz, devemos também compreender que há um benefício correspondente derivado da ressurreição de Jesus. Por isso Paulo diz "...como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos..., assim também andemos em novidade de vida" (Romanos 6.4).

Da mesma forma, a partir do fato de estarmos mortos com Cristo, "fazei pois morrer a vossa natureza terrena" (Colossenses 3.5), de mesmo modo, a partir do fato de sermos ressuscitados com Cristo, "...buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Colossenses 3.1).

Essa verdade nos assegura um benefício: nossa própria ressurreição, da qual temos por Cristo nossa mais perfeita e verdadeira representação. Essa é a nossa esperança: se Cristo ressuscitou, seremos ressuscitados também, pois como Paulo disse: "se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a essa vida, somos as pessoas mais infelizes deste mundo"(1Coríntios 15.19).

Portanto, esta é a certeza do crente em Jesus: todos nós iremos passar pela morte, mas seremos ressuscitados e viveremos por toda a eternidade junto com Jesus: "Temos certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos, da mesma forma nos ressuscitará com Ele e nos apresentará convosco" (2 Coríntios 4:14).

17 janeiro 2023

[Devocional] O Jugo Suave

Nathaniel Vicent 

Porque o meu jogo é suave, e o meu fardo é leve. Mateus 11.30 

Pelo fato de Cristo ser tão compassivo, certamente não é razoável reclamar e recusar a submeter-se ao Seu jugo. Um jugo tão misericordioso como esse deve ser um jugo suave; e o Seu fardo é um fardo leve (Mt 11.30). O reino do Céu é como um casamento; se a submissão da esposa a um marido terno e indulgente é doce e agradável, muito mais agradável é a submissão do crente a Cristo. Os ímpios são estranhamente preconceituosos a respeito do cetro e do governo de Jesus; mas não há justificativa para isso. Eles dizem: “Não queremos que esse Senhor reine sobre nós”. É misericordioso ser transportado para o Reino, porque você será liberto de todos os outros senhores, que são ditatoriais, cruéis e recompensam com a morte todos os serviços que lhes são prestados. Todos os preceitos de Cristo são benéficos para você, e Ele não lhe impõe qualquer proibição exceto aquilo que Ele vê que pode lhe ser prejudicial. Penso que, ao ler essas palavras, o mais obstinado de todos deveria render-se e dizer: “Deixamos o Senhor da vida do lado de fora, mas foi um erro; não pensávamos que servir a Ele significava estar tão próximo da liberdade; imaginávamos que Suas ordens eram cruéis, portanto as abandonamos, mas agora devem ser mais valorizadas que o ouro, sim, o ouro mais fino, e são mais doces do que o mel e o favo”.


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Sobre o autor:
Nathaniel Vincent (1639–97). Nasceu em Cornwall e graduou-se pela Christ Church, Oxford, em 1656. Foi nomeado capelão do Corpus Christ College e, posteriormente, exerceu o cargo de pastor em Buckinghamshire. Após a Grande Expulsão de 1662, Vincent passou três anos como capelão particular antes de mudar-se para Londres em 1666. Foi multado, maltratado e literalmente arrastado do púlpito por pregar. Vincent passou vários meses na prisão e foi banido do país, porém um erro em sua acusação evitou que a sentença fosse executada. Enfraquecido pelo confinamento, Vincent faleceu em 1697. Publicou vários sermões ao longo da vida.

Fonte: Pão Diário


02 outubro 2022

[Devocional] Apegue-se a Cristo

Richard Alleine 

Preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente. Filipenses 2:16 

Permaneça perto de Cristo, do contrário é provável que você nunca tenha uma estreita ligação com Ele. Quanto mais nos aproximarmos de Cristo, quanto mais firmes permanecermos, menos perigos teremos de cair. A raiz de uma árvore, se for desprendida do solo, será arrancada com mais facilidade. Pode ser que algumas raízes secundárias a sustentem para que ela não morra. Mas, se a raiz principal for desprendida, o perigo de tombar será maior. A união da alma com Cristo é descrita como a união do marido com a esposa: “Eis que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher” (Ef 5:31). A palavra no original significa ficar colado à esposa. E se duas peças forem coladas uma na outra, se encolherem ou perderem a aderência, se separarão. Tome cuidado para não se encolher nem perder a aderência com Cristo; a cola enfraquecerá se você fizer isso; e assim que perder a aderência, você não saberá até que ponto será levado para longe dele. Ó, tome cuidado para não aumentar a distância, para não se afastar de Cristo; fique perto dele se quiser permanecer firme.

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Sobre o autror:
Richard Alleine (1611–91). Alleine, autor de A Vindication of Godliness [Defesa da piedade], uma defesa sustentada por piedade pessoal, foi reitor de Batcombe, em Somersetshire, onde serviu como ministro do evangelho por mais de 20 anos. Apesar de ter sido zeloso pela obra do Senhor, foi expulso de seu púlpito em 1662. É normalmente citado como irmão de Joseph Alleine, mas, na verdade, era seu tio. As obras de Alleine são investigativas, convincentes e edificantes. Ele é muito conhecido por seus escritos práticos, que normalmente são publicados com as iniciais “R.A.”.

Fonte: Pão Diário


18 setembro 2022

[Devocional] Outros deuses

John Dod/Robert Cleaver 

Não terás outros deuses diante de mim (Êx 20.3)
 
O significado do primeiro mandamento é que devemos santificar Deus em nosso coração e oferecer-lhe tudo o que é adequado e peculiar à Sua majestade. […] Não ter outros deuses significa não ter nada que nos cause atração irresistível ou que estimamos mais do que Deus. Portanto, a doutrina é que não devemos permitir que nada afaste nossa alma, ou qualquer coisa em nós, de Deus, pois isso passa a ser o nosso deus, aquilo que mais nos atrai. Se nossa mente estiver ocupada com qualquer outra coisa que não seja a glória e o serviço a Deus, isso passa a ser outro deus para nós. Quanto à questão de conveniência, se colocarmos a esperança, a confiança e o coração na riqueza, isso é idolatria. O homem rico descrito no evangelho fez da riqueza o seu deus visto que confiava nela e a adorava; pois aqui ele fala da adoração interior a Deus na alma. Se confiarmos na riqueza e pensarmos que estamos seguros por possuí-la, quando ela nos for retirada, será o nosso fim. […] A ganância é chamada de idolatria […] diante da qual nossa alma e afeições, nossa inteligência, memória, compreensão e todas as nossas faculdades se curvam quando deveríamos nos curvar somente diante de Deus.

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Sobre o autror:
John Dod (1549–1645) estudou na Jesus College, Cambridge. Durante esse período, foi um debatedor tão eficiente que o corpo docente da faculdade o convidou para associar-se a eles, mas Dod declinou a oferta. Continuou em Cambridge durante 16 anos como aluno e depois como professor. Em 1579, foi empossado pastor em Hanwell, Oxfordshire, e ocupou essa posição por 20 anos. Foi genro do famoso puritano casuísta Richard Greenham. A obra mais famosa de Dod é Exposition upon the Ten Commandments [Exposição sobre os Dez Mandamentos], escrito em parceria com Robert Cleaver.



10 setembro 2022

[Devocional] Examine as Escrituras

William Gouge 

E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Bereia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. At 17:10,11. 

Devemos examinar as Escrituras para conhecer a vontade de Deus, porque nelas está contida a Sua vontade. Essa é a busca para a qual se promete conhecimento e entendimento. E para nos ajudar nesse assunto, devemos ser leitores diligentes da Palavra de Deus. Com referência aos judeus convertidos, nota-se que eles continuaram firmes na doutrina dos apóstolos, e está escrito que eram ouvintes diligentes e constantes dos apóstolos, bem como fiéis confessores e praticantes dessa doutrina. A primeira afirmação é a causa da segunda. A pregação da Palavra é uma grande ajuda para levar-nos a fazer a vontade de Deus. E a esse respeito há uma dupla explicação. Primeira, porque a vontade de Deus é apresentada a nós de modo mais claro, mais distinto e mais completo. Segunda, porque é um meio santificado por Deus para creditar e assegurar a verdade daquilo que é revelado; sim, e para fazer a nossa vontade, o coração e as afeições se renderem a ela e se firmarem nela. Sobre esse assunto, diz a sabedoria de Deus, que está especialmente apresentada na pregação de Sua Palavra: “Feliz o homem que me dá ouvidos, velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada” (PV 8:34).

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Sobre o autror:
William Gouge (1578–1653). William Gouge era sobrinho de Samuel e Ezekiel Culverwell, ambos ilustres puritanos. Estudou primeiro na St. Paul’s School e completou o curso secundário na escola de Felstead, Essex, onde seu tio Ezekiel era pároco. Depois estudou em Eaton e dali ingressou-se no King’s College, Cambridge. Gouge fez grandes avanços em lógica e defendeu a nova filosofia de Peter Ramus (um sistema aristotelista diluído). Por recomendação de Arthur Hildersam, Gouge foi nomeado ministro do evangelho da St. Anne’s, Blackfriars. Em 1643, fez parte da Assembleia de Westminster, e dizem que “não havia ninguém mais assíduo que ele”. Gouge, conhecido como um amável erudito, ficou mais famoso por seu livro Commentary on the Epistle to the Hebrews [Comentários sobre a epístola aos Hebreus], concluído pouco antes de sua morte. Publicado posteriormente, o comentário sobre Hebreus encheu dois grandes fólios e consistia de quase mil sermões pregados em Blackfriars.


16 agosto 2022

[Devocional] Ver Deus

Jeremiah Burroughs 
Rogo-te que me mostres a tua glória (Êx 33:18). 
Quanto mais vemos Deus elevado, menores devemos ser aos nossos olhos. Não há nada que nos torne mais humildes que a reflexão acerca de Deus. Penso que todo coração orgulhoso neste mundo não conhece a Deus, nunca teve a visão da glória de Deus como deveria. Quando vemos Deus, nosso coração se torna maravilhosamente humilde diante dele. Jó é um famoso exemplo disso. Ele declara: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42:5,6). Jó era um homem íntegro e reto, no entanto confessou que conhecia Deus só de ouvir falar, que nunca o havia visto até aquele momento que o próprio Deus lhe proporcionara. E ao ver Deus daquela maneira, embora fosse um homem íntegro e capaz de continuar a viver em retidão, ele diz: “Agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Ó, quem dera Deus desse uma visão de si mesmo a todos nós, aos orgulhosos, aos resistentes, aos que se rebelam contra Ele. Vocês conheciam Deus só de ouvir, mas os seus olhos já o viram? Se Deus lhes desse uma visão do que lhes falei sucintamente, certamente se ajoelhariam diante dele e se abominariam no pó e na cinza.

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Sobre o autror:
Jeremiah Burroughs (1599–1647). Burroughs, outro puritano muito produtivo, foi um pregador benquisto e bem-sucedido em Londres. Representou a causa Independente na Assembleia de Westminster e passou seis anos pregando em uma pequena igreja rural. Foi ministro do evangelho na igreja inglesa em Rotterdam e, após retornar a Londres, tornou-se a “estrela da manhã” da igreja em Stepney. Burroughs foi um dos melhores oradores puritanos de sua época; dedicava um amor especial aos Pais da Igreja e à História Cristã. Cotton Mather observou que Moses His Choice [Moisés sua escolha], de Burroughs, “não fará você reclamar que perdeu tempo por tê-lo em sua companhia”.

Fonte: Pão Diário


06 agosto 2022

[Devocional] Contentamento Divino

Thomas Watson 
Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. (Hb 13:5) 
O contentamento é algo divino; passa a ser nosso, não por aquisição, mas por infusão. É um enxerto da árvore da vida implantado na alma pelo Espírito de Deus; é um fruto que não cresce no jardim da filosofia, mas tem origem celestial. É fácil observar que o contentamento está ligado à piedade, e os dois se completam: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1Tm 6:6). Quando o contentamento é uma consequência da piedade, ou concomitante, ou ambas as coisas, digo que é divino, para distingui-lo daquele contentamento que um homem de bons princípios é capaz de sentir. Aparentemente os pagãos sentem esse contentamento, mas é apenas uma sombra e imagem dele — é berilo, não diamante verdadeiro: um é polido, o outro é sagrado; um baseia-se nos princípios da razão, o outro, da religião; um é apenas iluminado pela tocha da natureza; o outro é a lâmpada das Escrituras. A razão pode transmitir um pouco de contentamento da seguinte forma: seja qual for a minha condição, foi para isso que eu nasci. E se enfrento sofrimentos, esta é uma desventura universal: todos têm sua cota de sofrimento, então por que eu deveria me perturbar? A razão pode sugerir isso; e, na verdade, pode ser restritivo; mas, para viver com segurança e alegria em Deus tendo escassez de provisões humanas, somente a religião pode trazer isso ao tesouro da alma.

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Sobre o autror: Thomas Watson (m.1696). Pouco se conhece a respeito do início da vida de Watson. Recebeu grau de mestrado em Letras pelo Emmanuel College, em Cambridge, e a seguir iniciou um longo pastorado na St. Stephen’s Walbrook, em Londres. Foi preso com Christopher Love, William Jenkins e outros em 1651 por tomar parte em um plano para restabelecer a monarquia. Foi libertado após a promessa de que se comportaria apropriadamente. Em 1662, Watson foi expulso por inconformismo. Retirou-se para Essex em 1696, onde morreu.


01 agosto 2022

[Devocional] Pensamentos sobre o céu

Henry Scudder 
A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. (Ap 21:23) 
No Céu há perfeita obediência. Não há erro, mesmo na menor das circunstâncias. “Agora, conheço em parte”, diz o apóstolo, “então (isto é, quando chegar ao Céu), conhecerei como também sou conhecido” (1Co 13:12). Ao referir-se aos novos Céus, Pedro disse: “nos quais habita justiça” (2Pe 3:13). O Céu é o lugar santo no qual nenhum ímpio pode entrar, porque, quando havia pessoas desobedientes no Céu, ou seja, o diabo e seus anjos, que não mantiveram seu estado original, o Céu os vomitou, para nunca ser enganado por eles ou coisa parecida. No Céu não há tentadores; há apenas Deus, anjos e os espíritos dos justos que se tornaram perfeitos. Assim, não há nenhuma tentação para pecar. Esses pensamentos suavizam a dor quando nossos amigos morrem no Senhor, pois o lugar para onde a morte os levou é o Céu. Isso nos dá segurança de que eles estão onde se tornaram perfeitos, onde não ofenderão nem serão ofendidos. Será que essa meditação produz nos filhos de Deus não apenas contentamento, mas o desejo de abandonar este tabernáculo (o corpo) para ser transformado quando o Senhor assim o desejar, uma vez que a transformação será tão feliz? Trata-se apenas de abrir mão de uma terra infeliz e pecaminosa para viver no Céu, onde habita a justiça perfeita. Trata-se de abandonar a mortalidade em troca da vida, o pecado em troca da graça, e a infelicidade em troca da glória. Lá, não há atores nem contempladores do pecado. Lá, não há pecado para contaminá-los ou aborrecê-los. Quando estivermos exaustos e quase desfalecendo em nosso combate contra o pecado e contra este mundo perverso, devemos considerar que em breve, se permanecermos firmes e corajosos, esse pecado e essa carne não nos aborrecerão mais. Quando a morte chegar, ela será o portal para o Céu. Certamente a morte separa o pecado da alma e do corpo para sempre da mesma forma que a alma se separa do corpo por uns tempos, pois o nosso lugar é no Céu, onde os anjos habitam, os exemplos de nossa obediência. Quando chegarmos lá, seremos iguais aos anjos (Lc 20:36) e estaremos para sempre com o Senhor.

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Sobre o autror: Henry Scudder (m.1659). Pouco se conhece a respeito de Scudder. Estudou no Christ’s College, Cambridge, em 1660, e ministrou em Drayton, Oxfordshire, até 1633. Em 1643, foi escolhido como um dos membros presbiterianos da Assembleia de Westminster. Sua obra mais conhecida, The Christian’s Daily Walk in Security and Peace [A caminhada diária do cristão em segurança e paz], foi altamente recomendada por John Owen e Richard Baxter.


24 junho 2022

Invista mais tempo na palavra de Deus

Por John Piper 

Somos árvores que produzem frutos, e não trabalhadores que colhem frutos. Na linguagem de Paulo, o fruto é o fruto do Espírito, não as obras da lei. O que diz Salmos 100.3? Vamos ler. “Ele é como…” De quem ele está falando? Daquele que medita na lei do Senhor dia e noite e encontra prazer na verdade a respeito de Deus, do homem e da vida que vem por intermédio da instrução de Deus. “Ele é como árvore… plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido.” 

É completamente essencial que entendamos que a vida cristã deve produzir frutos. Não se trata de colher frutos. Não somos meros trabalhadores, somos árvores! Estamos plantados junto a correntes de água. Nossa vida vem de um Rio, de uma Fonte, e os frutos surgem e se desenvolvem enquanto vivemos por meio do Rio. É assim que se deve combater. O combate não deve ser legalista. Não faça uma lista. Por exemplo, não sou ímpio, não sou pecador, não sou zombador, sigo minha lista e, quando vier a tentação, basta segui-la. Não é assim que funciona. 

Salmos 100.3 afirma que, em vez disso, quando você vai até a palavra, e você contempla Deus diante de você em seus caminhos, obras e fidelidade, é como se você firmasse raízes até encontrar uma fonte de água da qual pode obter vida. Seus pensamentos e sentimentos mudam, e você passa a produzir frutos. Se os frutos não são produzidos, você não deve se arrancar dali para ir a uma loja de frutas. Você deve confiar na Fonte que está bem ali. Não é algo mecânico ou automático. O modo pelo qual a Fonte produz frutos não é automático. A conexão entre minhas raízes e a fonte da verdade de Deus que produz vida nos salmos é a meditação. 

Aprenda a fazer isso, aprenda a se demorar na leitura do Salmo 23, que quase todos conhecem; invista tempo nele, ore o salmo, mergulhe nele, faça o que for, não deixe para lá, como Jacó não deixou o anjo até que o abençoasse. Até que transforme e afete você pela manhã. Não leia com pressa, como em uma corrida. O que é isso? O diabo conhece toda a Bíblia e tentou usá-la contra Jesus. É investir tempo, amar a palavra, implorando ao Senhor que abra os olhos do coração, que o faça temer o nome do Senhor, que incline seu coração para os testemunhos do Senhor, que molde, transforme e satisfaça você. 

Não abra mão até ver a mudança. Abre os meus olhos, Deus! Essa é a conexão com a água. Esse é o combate. Eu preciso ter um outro conjunto de prazeres, ou serei como os ímpios, como a palha que o vento dispersa. A vida simplesmente vai me levar. A internet vai me cativar, a televisão terá minha atenção… Eu vou morder a isca e serei levado. A batalha acontece no nível das emoções. Minhas raízes devem alcançar a Fonte da água da vida. 


29 novembro 2020

Quando todas as coisas se fizerem novas

Por R. C. Sproul

Como pastor e teólogo, tive que pensar sobre muitas questões difíceis ao longo dos anos. Verdade seja dita, no entanto, o problema mais difícil que enfrentei é o problema do sofrimento. Todos nós enfrentamos o sofrimento de alguma forma, e todos nós conhecemos pessoas que viveram vidas tão dolorosas que nos perguntamos como elas puderam prosseguir.

Não quero, jamais, minimizar ou negar a dor que o sofrimento traz. O cristianismo não é um sistema de negação estoica em que fingimos que tudo está bem, mesmo quando estamos enfrentando as piores coisas. Ao mesmo tempo, não ousamos esquecer a esperança cristã de que um dia o sofrimento irá embora para sempre. Quando lidamos com o sofrimento, tendemos a ter o nosso olhar completamente fixo no presente, mas a resposta cristã ao sofrimento, ao mesmo tempo que nos incumbimos em aliviar o sofrimento presente tanto quanto podemos, olha além do presente para o futuro.

A própria essência do secularismo é a tese de que o hic et nunc, o aqui e agora, é tudo o que existe. Não existe um reino eterno. Mas, como cristãos, somos chamados a considerar o presente à luz do eterno. Isso é o que Jesus pregou repetidamente. O que aproveita ao homem se neste tempo e neste lugar ele ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma (Lc 9.25)?

A Escritura diz que o fim define o significado do início (Ec 7.8). Só Deus conhece o fim desde o início de forma abrangente, mas em sua Palavra, ele nos dá um vislumbre do fim para o qual estamos caminhando. E se pudermos focalizar nossa atenção no fim, e não apenas no agora e na dor que sentimos aqui, podemos começar a entender nossa dor na perspectiva certa.

Ao revelar o novo céu e a nova terra, Apocalipse 21-22 nos dá um dos vislumbres mais claros do futuro. Deixe-me mencionar alguns.

“Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (21.3-4). Quando eu era pequeno, a vida era difícil. Havia um menino em nossa comunidade que era muito maior do que eu e era um valentão. Uma vez ele me bateu e eu corri para casa chorando. E minha mãe estava na cozinha usando seu avental e disse: “Venha aqui”. Eu entrei, e então ela se inclinou e enxugou minhas lágrimas – uma das formas mais ternas de comunicação – com a barra do avental. Quando minha mãe enxugou minhas lágrimas, fiquei realmente consolado e encorajado a voltar à batalha. Mas eu voltaria e, mais cedo ou mais tarde, me machucaria de novo e choraria de novo, e minha mãe teria que enxugar minhas lágrimas novamente. Mas quando Deus enxugar nossas lágrimas, elas nunca mais fluirão, por toda a eternidade. (A menos, é claro, que sejam lágrimas de alegria.)

Essa é a perspectiva eterna. Isso é o fim do começo. No momento vivemos no vale das lágrimas, mas essa situação não é permanente porque Deus enxugará nossas lágrimas.

João também diz: “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto” (v. 4). Morte, tristeza, choro, dor – tudo isso pertence às coisas anteriores, que passarão. Posso imaginar tendo conversas com você na nova Jerusalém, e você dirá: “Lembra-se daquela época, quando costumávamos nos preocupar com o problema do sofrimento?” E eu direi: “Mal me lembro o que era.”

Então, no versículo 22, lemos sobre outra coisa que não estará lá. Não apenas não haverá tristeza ou morte, mas tampouco haverá templo na Nova Jerusalém do novo céu e nova terra. Mas como pode a nova Jerusalém ser a cidade sagrada sem um templo? Bem, João quer dizer que não haverá construção de templos. Haverá outro tipo de templo, diz João – “o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro”. O mais belo santuário terrestre deste mundo ficará fora de moda na nova Jerusalém, porque estaremos na presença de Deus e do Cordeiro.

“Nunca mais haverá qualquer maldição” (22.3). Você conhece aquela música “Joy to the World”? Eu amo a linha da música que termina com “até onde a maldição é encontrada”. Quão longe é isso? Nesta escuridão atual, a maldição se estende até o fim da terra – para nossas vidas, para nosso trabalho, para nossos negócios, para nossos relacionamentos. Todos sofrem sob as dores da maldição de um mundo decaído. É por isso que existe um anseio cósmico, onde toda a criação geme juntamente esperando a manifestação dos filhos de Deus, esperando por aquele momento quando a maldição for removida (Rm 8.19). Não haverá ervas daninhas ou joio na nova Jerusalém. A terra não resistirá aos nossos arados porque a maldição não será encontrada. “Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão” (Ap 22.3).

E então temos a maior esperança, a promessa mais maravilhosa do Novo Testamento – veremos a face de Deus (v. 4). Em toda a nossa vida podemos nos aproximar do Senhor, sentir sua presença e falar com ele, mas não podemos ver seu rosto. Mas se perseverarmos na dor e no sofrimento deste mundo presente, a visão de Deus nos espera do outro lado. Você pode imaginar isso? Você pode imaginar olhar para a glória revelada de Deus por um segundo? Isso fará com que cada dor que já experimentei neste mundo valha a pena.

“Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (v. 6) – não a pomada ou o ópio para entorpecer nossa dor presente, mas a verdade do Deus Todo-Poderoso, que nos fez, que nos conhece, que pelo sofrimento de seu Filho redimiu seu povo. Ele nos garantiu que, se estivermos em Cristo somente pela fé, estaremos destinados à glória, e nada pode descarrilhar esse trem. Portanto, essas coisas anteriores que nos causam tanto sofrimento passarão e ele fará novas todas as coisas.


21 novembro 2020

Apegados à Palavra

Por Rev. Jaidson Araújo 

Uma marca essencial do nosso tempo é a negação da verdade. A máxima que impera é: “cada um tem a sua verdade”. Ao aderirmos, ou aceitarmos que cada um tem sua própria verdade reconhecemos o que também é pressuposto: que a verdade é inalcançável e indiscernível. O “espírito” do nosso tempo é desapegado de qualquer padrão, seja ético, moral ou cultural. A forma de ser do nosso tempo valoriza tudo o que é minoritário, periférico, amoral, impróprio etc. Esse perfil já fora antecipadamente denunciado pelo apóstolo Paulo em 2Tm 4.4, nessa passagem Timóteo é alertado que nos últimos tempos as pessoas não suportariam a verdade, e a recusariam.

Na contramão dessa forma de ser e pensar está a postura cristã. O mesmo apóstolo instruindo a Tito quanto àqueles que deveriam liderar e ser modelo para os cristãos, os presbíteros; Paulo destaca as qualidades de caráter que deveria ser evidenciada pela vida de um presbítero, e, dentre elas sobressai a de ser apegado à Palavra (Tt 1.9). Esta marca deveria ser visível na vida do presbítero, que deveria ser modelo para o rebanho.

Quando pensamos em alguém apegado à Palavra, segundo a Bíblia, somos remetidos à maior expressão de apego à Palavra da Escritura Sagrada, o Salmo 119. O Salmo 119 é a mais completa e exuberante expressão de apego e admiração à Palavra. O poema sapiencial, organizado meticulosamente em 22 parágrafos de 8 versículos, dispostos conforme a ordem do alfabeto hebraico, concentra-se em demonstrar suas convicções, sentimentos e atitudes acerca da Palavra de Deus, do Mandamento, dos Preceitos, do Conselho, dos Decretos, os Testemunhos, a Lei.

O autor do Salmo 119 não nega suas convicções quanto à Palavra. Ele nutre em seu coração que o que tudo o que a palavra de Deus ensina é a VERDADE que ilumina o seu entendimento, que dá sabedoria, que conduz à vida. Sem vacilar ele expõe que tudo o que a Palavra de Deus diz é JUSTO, e não somente isso, mas fica evidente em seu poema que ele crer que tudo o que diz a Palavra de Deus é BOM!

As crenças quanto à Palavra despertam sentimentos em sua alma. O salmista alimenta em seu coração AMOR pelo mandamento do Senhor. Não suportava ficar distante da Palavra, pois ela é sua fonte de PRAZER, por isso ele ANELA e DEPENDE do Conselho do Senhor.

Mas, suas convicções não despertavam apenas sentimentos quanto à Palavra, mas também atitudes. Alguém que acredita que a Palavra de Deus é verdadeira, justa e boa, a ama, deseja depende e tem prazer nela, oriente sua vida por ela. É o que vemos no autor do salmo, ele é alguém que CELEBRA a Palavra de Deus, que FALA a Palavra e da Palavra, elas estão continuamente em seus lábios; o salmista ESTUDA a Palavra e a GUARDA NO CORAÇÃO com a disposição de OBEDECER tudo quanto ela o instruir. Existem muitas outras ações do autor em relação à Palavra, mas, por fim, destacamos que ele LOUVA PELA PALAVRA, que é o culminar desse apego.

O Salmo 119 é a expressão de apego à Palavra, de apego à verdade. A leitura deste Salmo nos desafia e nos encoraja a vivermos de modo apegado a Palavra nesse tempo de desapego. Esta leitura nos encoraja a amarmos e dependermos da Verdade, a Palavra de Deus. Esse poema de sabedoria nos encoraja a agirmos com coerência: se pela Palavra conhecemos a Salvação de Deus, e Ela nos instrui quanto ao modo de vivermos que agrada ao nosso Salvador, APEGUEMO-NOS À PALAVRA.

Contrariando o nosso tempo, onde cada um tem sua própria verdade e vive orientado pelo padrão do seu próprio entendimento, eu gostaria de te desafiar – você que foi alcançado e transformado pela Palavra, a buscar fora de você, a buscar na Palavra, a verdade para orientar sua vida, seus valores, suas crenças, convicções, relacionamentos, gostos, sonhos, toda sua vida.

Por fim, gostaria de estimulá-lo a ler este salmo, verificar as afirmações aqui feitas, e deleitar-se na Palavra de Deus.

Fonte: boletim da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife, 22/11/2020.


14 novembro 2020

A Atualidade da Palavra de Deus

Por Tiago Santos 

A palavra “ética” vem do grego “ethos” e significa “caráter” ou, ainda, modo de ser. Significa, basicamente, o conjunto de valores morais que guiam o indivíduo em relação ao seu próximo. A moral, por sua vez representa os valores e costumes pelos quais uma sociedade se pauta.

A ética é matéria de grande importância nas ciências humanas pois é o que dá viabilidade ao convívio em sociedade, mas, via de regra, disciplinas que se pautam por uma ética mais secularista, isto é, que não reconhecem sua origem em Deus – mas como parte de um desenvolvimento social, terão como resultado um tipo de ética meramente descritiva, imanente, relativa, subjetiva, mutável e, por vezes, utilitarista.

Uma boa maneira de verificar como anda a ética numa dada sociedade é olhando suas leis. Normalmente, os costumes e leis que regem a vida social refletem a moral daquela comunidade e apontam para a volatilidade de sua ética coletiva.

No caso do Brasil, o Código Penal Brasileiro ajuda a ilustrar esta volatilidade: Até 1977, por exemplo, não existia divórcio na legislação brasileira. O sujeito separava e desquitava, mas não podia contrair novo matrimônio – isto é resultado de uma visão mais robusta (e até sacramental) do casamento, com base na teologia católico-romana. Mas podemos pensar em exemplos mais recentes, como a Lei 11.106 de 2005 que revogou os seguintes crimes contra o costume: 

  • a) Art 217) Sedução de mulher virgem, menor de 18 anos e maior de 14 “sedução que aproveita-se de sua inexperiência e justificável confiança”.
  • b) (Art 219) Rapto de mulher honesta mediante fraude.
  • c) (Art 240) Cometer adultério.
A supressão desses artigos é uma evidência da mudança de valores que não mais reconhece, no século 21, apenas 60 anos depois da promulgação do código (que é da década de 1940) o adultério como uma violação do casamento ou as figuras da “jovem inexperiente” e da “mulher honesta”.

Embora a ética seja tema de estudo e valor para várias disciplinas, como a filosofia, a sociologia, o direito, a psicologia, a política, dentre outras, a ética é também o ponto vital e mais determinante da Teologia.

Ética é matéria teológica e todo cristão deve entender isso. A maneira como ele vive é resultado de sua teologia. Sendo chamado por Deus para viver neste mundo mas refletir os valores do Céu, revelados por Deus nas Escrituras, o cristão rapidamente se vê diante de grandes dilemas, pois os valores do presente século estão muito distantes dos valores de Deus. Contudo, tendo o dever de ser “luz do mundo e sal da terra”, o cristão não pode viver isolado em algum tipo de subcultura ou “bolha eclesiástica”. Ele precisará ser capaz de articular os valores da Palavra de Deus no mundo em que está. Por esta razão, expressa opiniões tais como: ser contrário ao aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e a conduta homossexual, ou ainda a afirmação de que o núcleo familiar é monogâmico e heterossexual, dentre outros valores basilares das Escrituras.

Mas é preciso que o cristão moderno seja capaz de oferecer fundamento e solidez para as posições que expressa. C. S. Lewis, em um discurso para jovens anglicanos do país de Gales, em 1945, disse que: “Cada um de nós possui várias opiniões que parecem consistentes com a fé, verdadeiras e importantes. E talvez sejam. Mas nosso papel é defender o cristianismo (não nossa opinião). Temos de fazer a diferença entre a opinião pessoal e a Fé. O apóstolo Paulo fez isso em 1Co 7.25. (…). A maior dificuldade é levar os ouvintes modernos a entender que você prega o cristianismo porque acredita que ele é verdadeiro. Eles sempre supõem que você prega porque gosta da mensagem, acha que ele é boa para a sociedade. Bem, a distinção clara entre o que a Fé afirma e o que você gostaria que ela dissesse, ou o que você entende ou considera útil, força os ouvintes a entender que você está preso a seus dados, exatamente como o cientista é limitado pelo resultado da experiência. Você não diz apenas aquilo que gosta. Isto os ajuda a entender que o que está em discussão é uma questão sobre fato objetivo – não conversa vazia sobre ideias ou opiniões.” (C. S. Lewis, Ética para viver melhor: diferentes atitudes para agir corretamente. São Paulo, SP, Editora Planeta, 2018. Pg. 95).

Mas a Palavra de Deus e a ética cristã que esta ensina é a fonte definitiva da sabedoria de Deus para um mundo em crise. Os problemas enfrentados pelo homem são sanados pela Palavra.

Por isso o cristão deve ser capaz de articular os fundamentos de sua posição da ética bíblica e demonstrar que esta é a única e mais firme verdade pela qual o ser humano deve viver – um fato objetivo – ao tempo em que demonstra a fragilidade do sistema ético secular.

A ética cristã, se apresenta como tendo origem em um Deus pessoal e criador do universo, que se revelou ao homem e comunicou seu caráter a ele, sendo, portanto, revelada, transcendente, absoluta, normativa, objetiva, imutável e deontológica (isto é, uma ética do ser, independente dos resultados).

Enquanto “modus vivendi” estabelecido por Deus na criação, é dever de todo ser humano.

Na criação, Deus estabeleceu critérios pelos quais o homem deveria viver (Gn 1-3). O núcleo de toda vontade de Deus para todas as esferas da vida foi descortinado ao homem tanto no “imago Dei” como no pacto que Deus faz com o home na criação, de modo que Deus orienta o homem em todas as áreas da vida humana: a família, o trabalho, a cultura, a espiritualidade, enfim foram todos idealizados num mundo pré-queda e determinados por Deus como norma para a humanidade. A queda alienou o homem de Deus e seu efeito devastador na alma humana poluiu seu coração, incapacitando-o para cumprir a vontade de Deus. Mas Deus se manifestou em graça e chamou o homem a uma nova relação com ele, pela redenção prometida no Messias.

Assim, embora a ética cristã seja obrigação de todo homem, esta só pode ser verdadeiramente perseguida e aplicada por aqueles que forem convertidos a Deus pelo poder do Espírito no Evangelho, passando a desejar viver para agradar a Deus e fazer a vontade dele. Nesse sentido, sua aplicabilidade imediata será para os cristãos. Isso porque os cristãos são capacitados pelo Espírito de Deus para viver uma vida de obediência e debaixo do Senhorio de Cristo.

A ética cristã, ainda mais, procura discutir e definir questões fundamentais como o verdadeiro significado e propósito da vida humana, quem é o homem, qual é a natureza do homem, como deve ser o homem, o que é verdade, justiça e retidão, o que é moralmente certo e errado, o que é uma vida correta, como devem ser os relacionamentos interpessoais do homem, qual a posição do homem diante do seu Criador e diante do seu Salvador, Jesus Cristo, quais são as implicações do senso de dever, de obrigação moral do homem para com Deus e seu próximo. A tarefa da ética cristã é encontrar um critério objetivo para determinar qual é o bem com o qual o homem, como ser moral, deve se conformar – neste caso, a imagem e estatura daquele que viveu plenamente os valores da ética Cristã expressos na lei moral, Jesus Cristo.

Nos Dez Mandamentos, encontramos a expressão máxima da lei moral de Deus e a revelação objetiva de como Deus quer que os homens vivam. Esta lei moral de Deus está presente em toda manifestação revelatória de Deus: nas leis civis, nas leis sanitárias, nas leis cerimoniais, nos preceitos, nos estatutos e até mesmo nas revelações proféticas extraordinárias, todavia, no Decálogo, temos a expressão suma da vontade de Deus para o homem.

No decálogo, portanto, encontramos o que Hans Heifler chamou de “moldura da ética cristã”. Pode se dizer que é uma “bússola” para o cristão, pois embora não haja instrução específica sobre como agir em cada diferente dilema e situação da vida – pois não se ocupa da casuística –nessas dez palavras é possível encontrar todo o princípio que haverá de nortear a vida do cristão. Martinho Lutero refere-se aos dez mandamentos como o modelo, a fonte e o canal pelo qual o cristão viverá.

Esses 10 Mandamentos, em sua forma tradicional abrangem um código duplo de deveres religiosos (Êx 20.3-12) e sociais (Êx 20.13-17) embora submeta as duas áreas (adoração, a proibição dos ídolos, o juramento, o dia sagrado e a piedade filial, de um lado; e a santidade de vida, casamento, das posses, da verdade e do desejo, do outro lado) à autoridade divina direta. Os mandamentos também são dados de forma negativa, mas, em cada um deles há um núcleo de valores positivos sendo defendidos. Quando estudamos os mandamentos, fazemos bem em compreender ambos os polos – aquele mais evidente, que proíbe-nos de certa conduta (isso é bem didático e fala bem sobre nossa condição humana caída) e aquele positivo, que está implícito na forma afirmativa do mandamento. Esse é o bem que Deus protege, que Deus tutela.

Na ética no novo testamento – tanto no ensino de Jesus nas bem aventuranças como nos casos mais específicos trabalhados pelos apóstolos Paulo, Pedro, João, Tiago em suas epístolas (ao tratar de questões tais como pureza, fraternidade, bondade, etc; questões de trabalho, família, governo, etc) o que vemos são a aplicação ou mesmo a interpretação – ou ainda, ampliação dos princípios morais havidos nos dez mandamentos. O ensino ético do Novo Testamento, portanto, não cria uma dicotomia entre lei e graça. Do contrário, o apóstolo Paulo ensina que a lei era expressão da graça, pois revela a condição perdida do homem e estabelece o modelo pelo qual aquele que foi justificado pela graça viverá. Para Paulo, a lei era santa, justa, espiritual e boa (Rm 7.12, 14, 16). É o próprio Espírito de Deus que habilita o cristão amar, seguir e obedecer a Deus em seus mandamentos.

Esta foi a razão porque, na Reforma do século XVI encabeçada por Martinho Lutero, o Decálogo foi tão realçado e usado, inclusive, como fundamento dos catecismos que ensinavam os caminhos básicos da vida cristão piedosa, com o Catecismo Maior de Lutero. Os reformadores, acompanhando Lutero, foram muito perspicazes em perceber isso. O reformador francês João Calvino inseriu uma seção inteira de comentário ao Decálogo em suas Institutas e disse que o decálogo é a “única regra de vida perpétua e inflexível”. Ele reconhecia o valor do decálogo porque via nele o direito de Deus legislar, os valores de Deus revelados na legislação dada, seu padrão elevado e perfeito de justiça e nossa incapacidade de satisfazer as exigências de sua justiça, tendo necessidade de um justificador mais justo do que nós. Uma vez tendo recebido esta justiça, o Espírito de Deus então inscreve essa lei em no coração da pessoa redimida e esta passa a desejar obedecer a Lei para honrar, adorar e louvar o Deus criador e legislador que, por graça, salvou homens e mulheres para que possam viver uma vida justa e santa, “coram Deo” – diante de Deus.

Enfim, a Lei de Deus define, guia e ilumina a vida humana e fornece ao cristão segurança para afirmar os valores de Deus como sendo a bússola moral para dar sentido e direção ao ser humano em todas as áreas da vida.

Só a lei imutável, objetiva, santa e bela de Deus é que pode dar sentido e direção a este mundo caído. O fundamento das posições cristãs é a verdade objetiva das Escrituras e o exemplo de vida conduzida pela fé, arrependimento e humildade. É assim que o cristão será sal e luz neste mundo.



26 julho 2020

Ir a Cristo

Desde a queda do homem em pecado, a grande pergunta tem sido: Como os pecadores podem ser levados de volta para Deus? Deus expulsou Adão e Eva do paraíso por causa de seus pecados, mas, por meio de Cristo, podemos voltar para Deus e para o paraíso (Ap 22.1-2). Por isso, João testifica: "O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida" (v. 17). O homem foi afastado de Deus, mas agora ele é levado de volta por meio de Jesus Cristo. A pergunta que permanece é: Como você e eu podemos ir a Cristo?

O que significa ir a Cristo? As opiniões equivocadas são muitas, como, por exemplo, tomar uma decisão por Cristo por força própria, levantar a mão durante uma oração em silêncio, recitar a oração do pecador, ir até o "altar" durante um chamado, ser batizado, participar da Ceia do Senhor, aceitar mentalmente algumas verdades, ter experiências místicas ou ver milagres.

Ir a Cristo começa com o chamado de Deus. Deus ordena. a todos que ouvem o evangelho a se arrepender e confiar em Cristo. O evangelho apresenta Cristo aos homens para a sua salvação. Paulo disse: "(...) nós pregamos a Cristo crucificado (...) poder de Deus e sabedoria de Deus" (1Co 1.23-24). A morte e a ressurreição do Filho de Deus são poderosas para a salvação dos pecadores. Cristo diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Quando alguém se recusa a ir a ele, toda culpa recai sobre o pecador. Jesus disse: "(...) não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5.40).

No entanto, Deus faz mais do que apenas um chamado universal. Ele também faz um chamado eficaz que chama um pecador específico para Cristo. O Senhor Jesus disse: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37). Estamos tão cegos e mortos no pecado (Ef 2.1; 2Co 4.4) que não conseguimos ir e não iremos, mas para Deus todas as coisas são possíveis (Mt 19.26; Jo 6.44; Ef 2.5).

Vamos a Cristo quando somos atraídos ativamente para ele pela fé quando ele se oferece aos pecadores no evangelho pelo poder do Espírito Santo. Essa fé exige renúncia, quando reconhecemos não possuir justiça própria (Fp 3.9), confiança, quando descansamos na pessoa de Cristo e no sangue que ele derramou na cruz (Rm 3.25), e apropriação, quando recebemos Cristo e o aplicamos como grande remédio para todas as nossas necessidades espirituais (Jo 1.12). Só podemos ir a Cristo para que ele nos salve do pecado se nos reconhecermos como pecadores, como violadores da santa lei de Deus que merecem o julgamento (Rm 3.19-20).

Pela graça do Espírito, você já se voltou em fé para Cristo como ele é apresentado no evangelho como sua única esperança para a salvação? Isso é um sinal seguro de ir a ele! Se assim for, dê glória a Deus, pois sem o Espírito Santo ninguém pode ir a Cristo (1Co 12.3). O Espírito dá vida, e a carne não tem proveito nenhum (Jo 6.63). Louve o Pai pelo fato de o Espírito ter abençoado você com a fé em Jesus Cristo.

Se você ainda não foi a Cristo, por que não? Não permita que qualquer obstáculo o impeça. Leia a Bíblia e ouça a pregação que dá testemunho de Cristo. Não permita que amigos o afastem. Não permita que os pecados das pessoas na igreja o impeçam de ter a vida eterna. Se você ainda não o fez, aprenda os fundamentos do cristianismo por meio de uma boa classe de novos membros. Não persista na descrença, nem endureça seu coração. Pare de amar este mundo. Pare de se agarrar aos seus pecados. Não seja um tolo que pensa que Deus jamais o condenaria. Por outro lado, não seja orgulhoso a ponto de pensar que seus pecados são maiores do que a graça de Cristo. Ele pode salvar o pior dos pecadores. Não adie. Humilhe-se ainda hoje e invoque o nome do Senhor Jesus. Ele é rico para salvar todos os que vão a ele.

Fonte: Bíblia de Estudo Herança Reformada