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08 setembro 2024

A Obra Completa de Cristo: Obediência, Sacrifício e Herança Eterna

Estudo proferido na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção V do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção V. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus.
Compare com o capítulo XI (Da Justificação) na seção III: “Cristo, por sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos aqueles que são assim justificados e fez uma satisfação consumada, real e plenária à justiça de seu Pai no interesse deles”.

A Perfeita Obediência de Cristo

As Escrituras afirmam que a salvação é alcançada somente pela graça, através da fé em Jesus Cristo, e não por obras da lei (Efésios 2:8,9). O Senhor Jesus Cristo, em sua perfeita obediência à lei de Deus e seu sacrifício vicário na cruz, satisfez plenamente a justiça de Deus o Pai. A Confissão de Fé de Westminster (CFW) declara: "O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifício que, pelo Eterno Espírito, ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça de seu Pai".

A obediência de Cristo é perfeita em dois sentidos: (1) Ele obedeceu a toda a lei de Deus durante toda a sua vida, nunca pecando (Hebreus 4:15), e (2) Ele cumpriu o papel de Mediador, cumprindo as exigências do pacto da graça (Hebreus 9:15). Romanos 5:19 declara: "Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram constituídos pecadores, assim também, pela obediência de um, muitos serão constituídos justos." Cristo, sendo o segundo Adão, obedeceu onde o primeiro Adão falhou, garantindo assim a justiça para aqueles que estão nele.

O Sacrifício Vicário e a Justiça de Deus

A justiça de Deus exige que o pecado seja punido. Em Sua infinita santidade, Deus não pode ignorar o pecado ou tratá-lo de forma leviana. A Bíblia afirma claramente que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). É por isso que um sacrifício era necessário para expiar o pecado e satisfazer as justas exigências de Deus.

Cristo, em seu grande amor, se ofereceu como sacrifício perfeito e suficiente pelos pecados do seu povo. Hebreus 9:14 declara: "muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!". Romanos 3:25,26 acrescenta: "Deus o ofereceu como propiciação mediante a fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça, porque, na sua tolerância, havia Deus deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; com o objetivo de, no tempo presente, demonstrar a sua justiça, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus".

A Expiação Particular e Seus Benefícios

A doutrina da expiação particular (ou definida) afirma que Cristo morreu com a intenção específica de salvar o seu povo, os eleitos, que lhe foram dados pelo Pai (João 6:37-39). Isso não significa que Cristo não ofereça benefícios a todos, como a graça comum que restringe o pecado no mundo, mas significa que a eficácia salvífica de sua morte é aplicada somente aos eleitos.

A CFW destaca: "E para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no Reino dos Céus". Efésios 1:11,14 corrobora essa verdade: "Nele, também, fomos feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade [...] o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória".

A eleição, baseada na livre e soberana graça de Deus, precede e fundamenta a obra expiatória de Cristo. Isso significa que a decisão de Deus de salvar Seus eleitos não é uma resposta à obra de Cristo, mas o motivo e a base para a mesma. Em outras palavras, Cristo não morreu para tornar a salvação possível a todos, para que Deus então escolhesse aqueles que creriam. Ao contrário, Deus, em Sua eterna sabedoria e amor, primeiro escolheu um povo para Si, e a expiação é a consequência e a realização dessa escolha (ver Efésios 1:4-5; João 17:2; João 6:37,39; Hebreus 9:15; Hebreus 10:14). Cristo não morreu simplesmente para tornar possível a salvação daqueles por quem ele morreu, senão que ele morreu com o intuito e para o efeito de realmente assegurar a salvação deles. 

Isso demonstra a eficácia da obra de Cristo em virtude da eleição. A morte de Cristo não remove apenas os obstáculos legais para a salvação, mas assegura a redenção completa daqueles por quem Ele morreu. É crucial notar que a doutrina da eleição não anula a necessidade da fé e do arrependimento para a salvação. As Escrituras afirmam que aqueles a quem Deus escolheu serão eficazmente chamados, regenerados e conduzidos à fé em Cristo pelo Espírito Santo (ver João 6:44; Romanos 8:30; 1 Coríntios 1:9; João 3:3-5; Tito 3:5; 1 Pedro 1:3; Efésios 2:8-9; Filipenses 1:29; 2 Tessalonicenses 2:13). A certeza da salvação dos eleitos, portanto, não elimina a responsabilidade humana, mas a garante.

Conclusão

Em suma, a obra redentora de Cristo é a expressão máxima do amor e da justiça de Deus. Através de Sua obediência perfeita e sacrifício vicário, Cristo satisfez plenamente as demandas da lei divina, reconciliando consigo mesmo todos aqueles que o Pai lhe deu. Esta obra eficaz e definitiva garante a salvação completa e a herança eterna para todos os que são chamados segundo o Seu propósito.

Perguntas para fixação

1) Qual a diferença fundamental entre a doutrina da expiação particular, como defendida pela Confissão de Fé de Westminster, e as posições arminianas, luteranas e católicas romanas?

Resposta: A diferença fundamental entre a doutrina da expiação particular, como defendida pela Confissão de Fé de Westminster, e as posições arminianas, luteranas e católicas romanas, reside na compreensão do propósito da expiação, e não necessariamente em seu alcance final.

Expiação Particular (Reformada): A Confissão de Fé de Westminster argumenta que a expiação de Cristo foi planejada e executada com o propósito específico de salvar aqueles que o Pai lhe deu, os eleitos. A morte de Cristo garante a redenção completa e eficaz para esses indivíduos.

Arminianos, Luteranos e Católicos Romanos: Essas tradições, embora concordem que a salvação é somente em Cristo e que nem todos serão salvos, geralmente sustentam que Cristo morreu para tornar a salvação possível para todos. Eles veem a obra de Cristo como a remoção do obstáculo legal da salvação (o pecado), mas não como a garantia da salvação de ninguém em particular.

Em outras palavras, a divergência central está na intenção por trás do sacrifício de Cristo:
  • A visão reformada argumenta que a expiação foi definida e eficaz, destinada a salvar os eleitos.
  • As visões arminiana, luterana e católica romana a consideram como universal em potencial, abrindo a possibilidade de salvação a todos, mas dependente da resposta humana para se tornar eficaz.
Essa diferença fundamental na compreensão da expiação tem implicações significativas para a doutrina da eleição, da graça e da segurança da salvação.

2) Quais são os benefícios específicos que a CFW afirma que Cristo adquiriu para os eleitos por meio de sua obra medianeira?

Resposta: A Confissão de Fé de Westminster (CFW) apresenta uma ênfase notável nos benefícios específicos que Cristo adquiriu para os eleitos por meio de Sua obra medianeira. Esses benefícios podem ser resumidos em duas categorias principais:

1. Reconciliação com Deus: A CFW declara que Cristo adquiriu "a reconciliação" para os eleitos. Isso significa que, através da Sua obra medianeira, a inimizade e a separação entre Deus e o homem pecador foram removidas. O sacrifício de Cristo satisfez a justiça divina e propiciou a ira de Deus, abrindo caminho para o restabelecimento do relacionamento com o Pai. A reconciliação não é apenas uma possibilidade oferecida, mas uma realidade consumada para aqueles que estão em Cristo, concedendo-lhes paz com Deus e acesso à Sua presença.

2. Herança Eterna no Reino dos Céus: Além da reconciliação, a CFW afirma que Cristo também adquiriu "uma herança perdurável no Reino dos Céus" para os eleitos. Essa herança inclui a vida eterna e todas as bênçãos espirituais que a acompanham, como a justificação, a santificação e a glorificação.

A natureza "perdurável" dessa herança destaca sua segurança e irrevogabilidade. A CFW conecta a herança eterna à eleição incondicional, ensinando que aqueles a quem o Pai deu a Cristo receberão infalivelmente a salvação completa.

Efésios 1:11,14, citado pela CFW, descreve essa herança como algo que já pertence aos eleitos em Cristo. O Espírito Santo é dado como um "penhor" dessa herança, garantindo a sua posse futura.

Em resumo, a CFW ensina que a obra medianeira de Cristo garante aos eleitos tanto a reconciliação com Deus quanto a posse segura de uma herança eterna no Seu reino. Esses benefícios são concedidos por meio da obra completa e eficaz de Cristo e recebidos pela fé, não em virtude de qualquer mérito humano. A ênfase nestes benefícios específicos demonstra a graça soberana de Deus e a certeza da salvação para todos aqueles que estão em Cristo.

26 agosto 2024

Jesus Cristo: Missão, Humilhação e Exaltação

Estudo proferido na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção IV do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção IV. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente. Para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à lei, que ele cumpriu perfeitamente; padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis tormentos e em seu corpo os mais penosos sofrimentos; foi crucificado e morreu; foi sepultado e ficou sob o poder da morte, mas não viu a corrupção; ao terceiro dia ressuscitou dos mortos com o mesmo corpo com que tinha padecido; com esse corpo subiu ao céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo intercessão; de lá voltará no fim do mundo para julgar os homens e os anjos.
A Confissão de Fé de Westminster, em sua seção sobre Cristo, o Mediador, afirma que "Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente". Essa declaração fundamental nos leva a examinar a disposição de Cristo em se humilhar e sofrer para cumprir a vontade do Pai e realizar a salvação da humanidade. Através de sua obediência perfeita à lei, seu sofrimento vicário e sua ressurreição triunfante, Cristo se torna o único Mediador entre Deus e os homens.

A Vontade e Submissão de Cristo

A Escritura é clara ao afirmar que Cristo, embora fosse Deus, assumiu voluntariamente o papel de Mediador. Essa escolha voluntária é central para a obra da redenção, pois demonstra o amor e a misericórdia de Deus para com a humanidade caída. Hebreus 2:12-17 destaca que Cristo, "igualmente, participou" da carne e sangue para se identificar com os filhos de Abraão e socorrê-los.

A Confissão de Fé de Westminster cita o Salmo 40:7,8 para ilustrar a disposição de Cristo: "Então, disse eu: Eis-me aqui (nos rolos do livro está escrito a meu respeito), para fazer a tua vontade, ó Deus meu, me é prazer". Essa passagem revela a profunda submissão de Cristo à vontade do Pai, encontrando satisfação em cumpri-la.

É importante notar que essa submissão não implica em inferioridade ou coação. A Bíblia afirma que Cristo tinha poder para entregar sua vida e poder para reavê-la, demonstrando sua soberania mesmo em meio à humilhação (João 10:17,18).

A Humilhação de Cristo: Obediência e Sofrimento

A Confissão de Fé de Westminster detalha a humilhação de Cristo em seu ofício de Mediador. Para cumprir a vontade do Pai, Cristo se submeteu à lei, "que ele cumpriu perfeitamente" (Mateus 3:15; 5:17). Essa obediência perfeita era necessária para que Cristo pudesse ser o sacrifício perfeito pelos pecados da humanidade.

Além da obediência à lei, Cristo também suportou "os mais cruéis tormentos... em sua alma" (Mateus 26:37,38; Lucas 2:24; Mateus 27:46). Essa angústia profunda revela a gravidade do pecado e o peso da ira de Deus que Cristo carregou em nosso lugar. Hebreus 4:14-16 nos assegura que, por ter sido tentado em todas as coisas como nós, Cristo pode se compadecer de nossas fraquezas e nos socorrer em nossas necessidades.

O sofrimento de Cristo culminou na cruz, onde experimentou o abandono do Pai e a plena medida da ira divina contra o pecado. Gálatas 3:13,14 afirma que Cristo "nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar". Dessa forma, Cristo se torna o bode expiatório que leva sobre si os pecados do povo, sendo expulso do arraial para que tenhamos acesso à presença de Deus.

A Glorificação de Cristo: Ressurreição, Ascensão e Intercessão

A humilhação de Cristo, porém, não foi o fim. As Escrituras profetizaram e testemunharam sua glorificação, que se inicia com a ressurreição dos mortos ao terceiro dia (1 Coríntios 15). A ressurreição é a prova irrefutável da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, a validação do seu sacrifício expiatório e a garantia da nossa própria ressurreição.

Após sua ressurreição, Cristo ascendeu ao céu, onde está assentado à direita de Deus Pai. Essa exaltação demonstra a soberania e o senhorio de Cristo sobre toda a criação. Filipenses 2:9-11 declara que "Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho".

A posição de Cristo à direita do Pai não é apenas de glória, mas também de intercessão. Hebreus 7:25 nos assegura que Cristo "vive sempre para interceder por nós". Como nosso Sumo Sacerdote, Cristo apresenta nossos pedidos a Deus Pai, garantindo que nossas orações sejam ouvidas e atendidas. João 17 registra a profunda intercessão de Cristo por seus discípulos, pedindo ao Pai que os guarde, os santifique e os una em amor.

A Segunda Vinda de Cristo: Julgamento e Consumação

A história da redenção, porém, não termina com a ascensão de Cristo. As Escrituras apontam para a sua segunda vinda, um evento futuro e glorioso. Atos 1:11 afirma que Cristo "virá do modo como o vistes subir". Essa segunda vinda marcará o fim da história como a conhecemos e inaugurará o novo céu e a nova terra.

A segunda vinda de Cristo será marcada por julgamento. Hebreus 9:27 declara que "está reservado aos homens morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo". Apocalipse 20:11-15 descreve o juízo final, no qual todos os povos serão julgados segundo suas obras.

A segunda vinda de Cristo também será a consumação do Reino de Deus, quando Cristo "entregará o reino a Deus, ao Pai" (1 Coríntios 15:24). Então, Deus reinará para sempre sobre um novo céu e uma nova terra, onde não haverá mais morte, tristeza, choro ou dor (Apocalipse 21:4).

Conclusão: A Centralidade de Cristo e a Urgência do Evangelho

A vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo são o centro da fé cristã. Sua obra como Mediador é o único caminho para a salvação e a reconciliação com Deus. Romanos 10:9 declara que "se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo".

Diante da certeza da segunda vinda de Cristo, somos chamados a viver em constante expectativa e prontidão. Mateus 24:44 nos adverte: “Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá”. Que possamos, então, viver cada dia à luz da graça de Deus revelada em Cristo, compartilhando o evangelho com ousadia e aguardando ansiosamente o retorno do nosso Rei.


18 agosto 2024

Jesus Cristo e Seu preparo para o Ofício de Mediador

Estudo proferido na Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção III do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção III. O Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e sem medida ungido com o Espírito Santo tendo em si todos os tesouros de sabedoria e ciência. Aprouve ao Pai que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade, estivesse perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas para ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e todo o juízo e lhe ordenou que os exercesse.

A Natureza Humana de Cristo Equipada para a Obra Mediadora

As Escrituras ensinam que Jesus Cristo, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sem medida (Salmos 45:5; João 3:34). Isso significa que Ele recebeu a plenitude do Espírito Santo, não de forma limitada como os profetas e reis do Antigo Testamento (João 3.34; Lucas 4.18). Essa unção era necessária porque, embora Cristo fosse plenamente Deus, Ele também era plenamente homem (João 14:10; Hebreus 2:14-18). Como homem, Ele precisava do poder capacitador do Espírito Santo para cumprir a obra da redenção (Mateus 3:16-17; Marcos 1:10-11; Lucas 3:21-22; João 5:19-30).

É importante observar que Cristo não precisava do Espírito Santo para a salvação pessoal, pois Ele era sem pecado (Hebreus 7:24-26). No entanto, para realizar a obra que o Pai lhe havia designado, a saber, a obra da redenção, Ele dependia totalmente do Espírito Santo (Atos 10:37,38; João 8.28).

A unção do Espírito Santo em Cristo se manifestava de diversas maneiras:
  • Sabedoria e Conhecimento: Colossenses 2:3 afirma que em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
  • Poder para Realizar Milagres e Curar: Atos 10:38 relata que Jesus foi ungido com o Espírito Santo e poder para fazer o bem e curar os oprimidos do diabo.
  • Obediência Perfeita: A vida de Cristo foi marcada por uma obediência perfeita à vontade do Pai, evidenciando a obra do Espírito Santo em Sua vida (João 4:34; 5:30).
A Necessidade da Natureza Divina de Cristo

Embora a unção do Espírito Santo fosse essencial para capacitar a natureza humana de Cristo, é crucial destacar que a Sua natureza divina também era indispensável para a obra da redenção.

  • Sofrimento Vicário: Somente alguém que fosse infinito em sua capacidade de sofrimento poderia suportar a ira de Deus pelos pecados do mundo. A natureza divina de Cristo tornou isso possível (Isaías 53:5).
  • Autoridade sobre a Morte: Jesus afirmou ter o poder para dar a sua vida e retomá-la (João 10:17). Essa autoridade sobre a morte só poderia pertencer a alguém que fosse mais do que um mero homem.
  • Acesso Eficaz a Deus: Como nosso mediador, Cristo precisava ter acesso garantido a Deus em nosso favor. Sua natureza divina lhe concedeu essa posição privilegiada (Hebreus 4:14-16; Hebreus 7:25; Romanos 8:34; 1 João 2:1).
O Chamado Divino e a Autoridade de Cristo

O ofício de Mediador e Fiador não foi algo que Cristo tomou para si, mas foi chamado pelo Pai para exercê-lo. Hebreus 5:4-5 afirma que ninguém toma para si essa honra, mas deve ser chamado por Deus, assim como Arão foi chamado para o sacerdócio.

O Pai, ao chamar Cristo para essa missão, investiu-o com toda a autoridade e poder necessários para realizá-la:
  • Todo Poder e Juízo: João 5:22,27 declara que o Pai confiou todo o julgamento ao Filho. Mateus 28:18 acrescenta que toda a autoridade no céu e na terra foi dada a Cristo.
  • Senhor e Cristo: Atos 2:36 proclama que Deus exaltou Jesus como Senhor e Cristo.
Conclusão

Em suma, a unção do Espírito Santo foi fundamental para capacitar a natureza humana de Cristo para a obra da redenção. No entanto, essa unção não substitui a necessidade da Sua natureza divina. Foi a união perfeita dessas duas naturezas em uma só pessoa que tornou Cristo o único mediador qualificado e suficiente entre Deus e os homens.


12 agosto 2024

Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem

Estudo proferido na Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção II do capítulo 8, temos o seguinte:
Seção II. O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.
O cerne da fé cristã reside na pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que transcende os limites da compreensão humana em virtude de sua natureza dual. A doutrina da União Hipostática, pilar fundamental da cristologia, postula a coexistência indissolúvel das naturezas divina e humana em Cristo, sem confusão, divisão ou alteração. Essa concepção teológica, ao longo dos séculos, tem suscitado intensos debates e controvérsias, desafiando a racionalidade humana a apreender o mistério da encarnação e a reconciliar a divindade e a humanidade em uma única pessoa.

A Necessidade da Humanidade de Cristo

A Bíblia deixa claro que Jesus, a segunda pessoa da Trindade, assumiu a natureza humana em um ato de auto-humilhação e amor sacrificial (João 1:14; Filipenses 2:5-8; Romanos 5:8; João 3:16; Mateus 20:28). Essa encarnação era essencial para a obra redentora de Cristo, pois somente um homem poderia sofrer a penalidade do pecado em lugar da humanidade (Hebreus 9:27). Hebreus 2:14-17 afirma que Ele "participou" da carne e sangue, tornando-se semelhante aos seus "irmãos" em todos os aspectos, exceto no pecado.

A humanidade de Cristo se manifesta em:

  • Nascimento de uma mulher: A concepção de Jesus no ventre da virgem Maria pelo poder do Espírito Santo demonstra sua entrada real na história humana como um de nós (Mateus 1:18; Lucas 1:35; João 1:14).
  • Corpo físico: As Escrituras descrevem Jesus com um corpo real, sujeito a necessidades e fragilidades humanas como fome, sede, cansaço e dor (João 4:6-8; Lucas 24:41-43; Hebreus 2:17; Marcos 15:34). Ele suou, chorou, sentiu fome e experimentou a morte física na cruz (Lucas 22:44; João 11:35; Marcos 15:37; Atos 2:24).
  • Alma humana: Jesus possuía uma alma humana, comprovada por suas emoções, intelecto e desenvolvimento moral. Ele "crescia em sabedoria" (Lucas 2:46-52; Mateus 7:28-29) e experimentou profunda tristeza e angústia (Marcos 14:33).
  • Limitações humanas: Apesar de ser Deus, Jesus, em sua natureza humana, se submeteu às limitações do tempo e espaço. Ele não estava presente em todos os lugares ao mesmo tempo, como afirma a doutrina da onipresença divina (Marcos 6:31).
É crucial reconhecer a plena humanidade de Cristo para entender o alcance de seu sacrifício. Ele se esvaziou de sua glória divina, tomando a forma de servo e se tornando obediente até a morte (Filipenses 2:6-8; João 1:14).

A Realidade da Divindade de Cristo

As Escrituras testificam com igual ênfase que Jesus Cristo é plenamente Deus, coexistindo eternamente com o Pai e o Espírito Santo em perfeita unidade e igualdade. Diversas evidências bíblicas apontam para sua divindade:

  • Títulos divinos: A Bíblia atribui a Jesus nomes e títulos reservados exclusivamente a Deus, como "Deus" (João 1:1; Romanos 9:5), "Senhor" (Filipenses 2:9-11; Colossenses 1:19), "Verbo" (João 1:1-3) e "Eu Sou" (João 8:58).
  • Atributos divinos: A Bíblia aplica a Jesus atributos exclusivos de Deus, como eternidade (Miquéias 5:2; Hebreus 1:8), onisciência (João 2:25; Apocalipse 2:23), onipresença (Mateus 28:20; João 3:13) e onipotência (Filipenses 4:13; Colossenses 1:16).
  • Obras divinas: Jesus realizou obras que somente Deus pode realizar, como a criação do universo (João 1:3; Colossenses 1:16), a sustentação de todas as coisas (Hebreus 1:3) e a ressurreição dos mortos (João 5:21,25).
  • Adoração divina: A Bíblia ordena e relata a adoração a Jesus Cristo como Deus. Anjos e homens o adoram (Hebreus 1:6; Lucas 24:52), e o batismo é realizado em seu nome, juntamente com o Pai e o Espírito Santo (Mateus 28:19).
A divindade de Cristo é confirmada por sua própria consciência e reivindicações. Ele se autodeclarou igual a Deus (João 5:17), afirmou existir antes de Abraão (João 8:58) e perdoou pecados, uma prerrogativa divina (Marcos 2:1-12).

Negar a divindade de Cristo é reduzir sua pessoa a um mero homem, invalidando seu sacrifício expiatório e minando o fundamento da fé cristã. Se Jesus não fosse Deus, ele não teria poder para perdoar pecados, vencer a morte e conceder a vida eterna.

A União Incompreensível: Duas Naturezas em Uma Pessoa

A união hipostática, a união das naturezas divina e humana em uma única pessoa, está além da capacidade humana de compreensão plena. As Escrituras afirmam essa união sem tentar explicá-la em termos filosóficos. No entanto, a Bíblia oferece vislumbres que iluminam essa doutrina profunda:

  • Unidade: As duas naturezas de Cristo coexistem em perfeita harmonia e unidade, sem mistura, confusão, separação ou divisão.
  • Distinção: As naturezas divina e humana, embora unidas em Cristo, mantêm suas propriedades distintas. A divindade não se torna humana nem a humanidade divina.
  • Integração: As duas naturezas operam em perfeita harmonia na pessoa de Cristo. Atributos e ações podem ser atribuídos a sua pessoa, independentemente de se originarem em sua natureza divina ou humana. Por exemplo, (1) Jesus realizando milagres: Ao curar os enfermos, ressuscitar os mortos e controlar os elementos da natureza, Jesus demonstrava seu poder divino, mas ao mesmo tempo expressava sua compaixão humana. (2) Jesus sofrendo: Ao ser tentado, sentir fome, sede e fadiga, Jesus experienciou as mesmas limitações que nós, demonstrando sua plena humanidade. (3) Jesus perdoando pecados: Ao perdoar os pecados, Jesus exercia seu poder divino de autoridade sobre o pecado, mas ao mesmo tempo demonstrava sua misericórdia e graça.
A união hipostática é um mistério revelado por Deus e recebido pela fé. Embora desafie a compreensão humana, essa doutrina é a base para a salvação. Somente um Salvador que é plenamente Deus e plenamente homem pode ser o mediador perfeito entre Deus e a humanidade, satisfazendo as demandas da justiça divina e, ao mesmo tempo, se compadecer de nossas fraquezas.

A Doutrina das duas naturezas de Cristo ao longo da história

A igreja cristã enfrentou muitos desafios à doutrina da divindade de Cristo ao longo de sua história, particularmente nos séculos IV e V. Esses desafios, frequentemente chamados de heresias, forçaram a igreja a definir mais claramente suas crenças e convocar concílios para resolver disputas doutrinárias e condenar os ensinamentos heréticos.

Aqui estão alguns exemplos importantes:

  • Docetismo: Essa heresia, prevalente nos primeiros séculos da igreja, negava a verdadeira humanidade de Cristo, afirmando que ele apenas parecia ter um corpo físico. A igreja primitiva rejeitou fortemente o docetismo, enfatizando a realidade da encarnação de Cristo e a importância de sua humanidade para a salvação. O apóstolo João, por exemplo, argumentou que negar que Jesus realmente se manifestou na carne era uma marca do anticristo (1 João 4:2,3).
  • Arianismo: Surgindo no século IV, o arianismo, liderado por Ário, ensinava que Jesus era um ser criado, embora exaltado, e não eterno e igual a Deus, o Pai. O Concílio de Nicéia, em 325 d.C., foi convocado especificamente para lidar com essa heresia. O concílio rejeitou o arianismo, afirmando que Jesus é "gerado, não criado" e "da mesma substância (homoousios) do Pai". Essa declaração enfatizou a plena divindade de Cristo e sua igualdade com o Pai (ver João 1:1; Hebreus 1:3; Filipenses 2:6; Colossenses 1:15-17; João 14:9).
  • Monofisismo: Essa heresia, surgindo no século V, afirmava que Jesus tinha apenas uma natureza, uma mistura divina e humana, em vez de duas naturezas distintas (divina e humana) unidas em uma pessoa. O Concílio de Calcedônia, em 451 d.C., condenou o monofisismo, afirmando que Jesus Cristo é "perfeitamente Deus e perfeitamente homem" em duas naturezas "sem mistura, confusão, separação ou divisão".
Além dessas grandes heresias, a igreja lidou com outras variações de crenças sobre a natureza de Cristo:

  • Apolinarismo: Essa heresia negava a plena humanidade de Cristo ao afirmar que ele não possuía uma alma humana, mas que o Logos divino (a Palavra) tomava o lugar de sua alma. A igreja rejeitou essa visão, afirmando que Cristo tinha tanto um corpo quanto uma alma humana, além de sua natureza divina.
  • Nestorianismo: Contrário ao monofisismo, o nestorianismo enfatizava demais a distinção entre as naturezas divina e humana de Cristo, sugerindo que ele era duas pessoas distintas. A igreja rejeitou essa visão, afirmando a unidade da pessoa de Cristo, enquanto mantinha a distinção de suas duas naturezas.
Esses debates e as definições doutrinárias resultantes moldaram profundamente a teologia cristã e continuam sendo tópicos importantes de discussão e estudo teológico hoje.

Considerações e Conclusões

A doutrina da união hipostática nos convida a contemplar o amor incomensurável de Deus, que enviou seu Filho ao mundo na semelhança da carne pecaminosa para nos reconciliar consigo mesmo.

Em Cristo, encontramos a expressão máxima da graça e da verdade. Ele é o único caminho para o Pai, o único nome dado entre os homens pelo qual podemos ser salvos (ver João 14:6; Atos 4:10-12; Romanos 5:8). Que a contemplação da pessoa de Cristo, Deus encarnado, gere em nós profunda gratidão, adoração e um desejo insaciável de conhecê-lo mais e viver para a sua glória.


29 julho 2024

Cristo, o nosso único Mediador

Estudo proferido na Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana do Ibura em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo VIII. De Cristo, o Mediador 


Na seção I do capítulo 8, temos o seguinte: 
Seção I. Aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado. 

O Propósito Eterno de Deus em Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster, em seu oitavo capítulo, discorre sobre a pessoa e a obra de Cristo como mediador. A seção I, especificamente, trata do propósito eterno de Deus em escolher e ordenar Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, para a importante função de mediador entre Deus e o homem. Este estudo visa analisar os pontos chave apresentados nesta seção, fundamentando-os com base nas Escrituras Sagradas.

A Escolha e Ordenação de Cristo 

A Confissão inicia afirmando que Deus, em Seu eterno propósito, escolheu e ordenou o Senhor Jesus para ser o mediador entre Deus e os homens. Essa escolha e ordenação são fundamentadas em diversas passagens bíblicas, como Isaías 42:1, que profetiza a vinda do Servo do Senhor, escolhido e amado por Deus para estabelecer o direito na terra. Pedro também afirma que Cristo, como cordeiro sem defeito e sem mácula, foi preordenado antes da fundação do mundo para ser o nosso redentor. (1 Pedro 1:19-20).

Os Três Ofícios de Cristo 

A Confissão prossegue elencando os três ofícios exercidos por Cristo em Sua função mediadora: Profeta, Sacerdote e Rei. Esses ofícios não são separados, mas interligados e refletem diferentes aspectos de sua obra de redenção.

Profeta: Cristo é apresentado como o profeta definitivo, aquele que revela a vontade de Deus de forma completa e perfeita. Em Atos 3:22, Pedro o identifica como o profeta semelhante a Moisés, prometido por Deus em Deuteronômio 18:15-18. Assim como os profetas do Antigo Testamento foram enviados por Deus para revelar Sua vontade, Jesus veio como o profeta supremo, a própria Palavra de Deus encarnada (João 1:1,18). Ele revelou Deus ao mundo através de seus ensinamentos, milagres e, finalmente, através de sua morte e ressurreição (Hebreus 1:1,2). Diferentemente dos profetas anteriores que falavam “assim diz o Senhor”, Jesus falava com Sua própria autoridade: “em verdade, em verdade Eu vos digo”. Jesus continua seu ministério profético hoje através do Espírito Santo, ensinando os crentes através das Escrituras (João 14:26; 16:12-14).

Sacerdote: A função sacerdotal de Cristo é destacada em Hebreus 5:5-6, onde é apresentado como o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. No Antigo Testamento, os sacerdotes faziam intercessão a Deus pelo povo e ofereciam sacrifícios pelos pecados. O sacerdócio de Cristo é superior ao levítico por ser eterno, perfeito e ter um sacrifício superior (Hebreus 8:6). Jesus se tornou o sumo sacerdote perfeito, oferecendo-se como o sacrifício perfeito pelos pecados do seu povo. Sua morte na cruz expiou a culpa do pecado e removeu a barreira entre Deus e o homem (Hebreus 7:20-28). Ele continua a interceder por nós no céu, aplicando os benefícios de seu sacrifício (Romanos 8:34; Hebreus 7:25).

Rei: O reinado de Cristo é eterno e absoluto. Salmos 2:6 declara que Deus estabeleceu Seu Rei sobre Sião, e Lucas 1:33 profetiza que o Seu reinado não terá fim. Jesus é o Rei prometido que reina para sempre. Seu reino não é deste mundo, mas é um reino espiritual que governa os corações e vidas de seus seguidores. Cristo reina agora na vida dos crentes e na Igreja, subjugando seus inimigos e estendendo seu reino (Filipenses 2:6-11). O reinado de Cristo exige submissão e obediência da Igreja (Colossenses 1:18). Ele exerce seu reinado chamando pessoas para si, dando-lhes o Espírito Santo, protegendo-as do mal e conduzindo-as à santidade. Um dia, ele retornará para estabelecer seu reino visivelmente na terra. O reinado de Cristo será consumado em sua segunda vinda, quando estabelecerá seu reino eterno (Daniel 2:44; Isaías 9:7).

Esses ofícios, além de essenciais para a obra mediadora de Cristo, revelam a plenitude da Sua pessoa e a suficiência da Sua obra. É importante entender que os três ofícios de Cristo estão interligados. Como profeta, ele revela o caminho da salvação. Como sacerdote, ele torna possível essa salvação através de seu sacrifício. E como rei, ele governa os corações daqueles que são salvos. Negligenciar um desses ofícios é distorcer a pessoa e a obra de Cristo.
 
Cristo: Cabeça e Salvador da Igreja 

A Confissão afirma que Cristo, como Mediador, é a Cabeça e Salvador da Igreja. Efésios 5:23 o apresenta como cabeça da igreja, que é o Seu corpo. O título "Cabeça" destaca a autoridade de Cristo sobre a Igreja. Assim como a cabeça direciona o corpo, Cristo governa e guia a Igreja. Efésios 5:23 reforça essa ideia, comparando a relação de Cristo e a Igreja à de um marido e sua esposa, sendo Cristo a cabeça da Igreja, que é o Seu corpo (ver Efésios 1:22; 4:15; Colossenses 1:18; 2:19). A função de "Salvador" aponta para a obra redentora de Cristo em favor da Igreja. Ele a salva do pecado e da condenação através de seu sacrifício na cruz. Ele redime, perdoa e reconcilia seu povo com Deus (Romanos 5:8; 2 Coríntios 5:19; Efésios 1:7; Hebreus 9:28).

Cristo: Herdeiro de Todas as Coisas e Juiz do Mundo 

Além dos ofícios mencionados, a seção I também destaca que Cristo é o herdeiro de todas as coisas e o juiz do mundo. Hebreus 1:2 afirma que Deus constituiu Cristo herdeiro de todas as coisas. Isso significa que toda a criação está sob o domínio de Cristo. E Atos 17:31 declara que Deus estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que Ele designou, Jesus Cristo. Ele é o juiz designado por Deus para julgar o mundo com justiça.

O Povo de Cristo 

A Confissão de Fé de Westminster finaliza a seção I mencionando o povo de Cristo, escolhido desde a eternidade para ser Sua semente. João 17:6 confirma essa eleição, com Jesus orando ao Pai por aqueles que lhe foram dados, afirmando que são Seus. Essa doutrina é central na teologia reformada, enfatizando a iniciativa de Deus na salvação. Deus, em Sua soberania, escolheu um povo para Si antes da fundação do mundo (ver Romanos 9:11-13; Efésios 1:4-5; 2 Timóteo 1:9; João 6:37; 1 Pedro 1:1-2).

Conclusão 

A seção I do capítulo 8 da Confissão de Fé de Westminster apresenta um resumo conciso, porém rico, da obra de Cristo como mediador. Através dos ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, Cristo cumpre o propósito eterno de Deus de redimir um povo para Si, reconciliando-o consigo mesmo e estabelecendo o Seu Reino eterno. É fundamental que a Igreja de Cristo mantenha a centralidade da pessoa e da obra de Cristo em sua vida e ministério. A ênfase na divindade e humanidade de Cristo é crucial para a compreensão da Sua obra como Mediador. Ele é divino para que Seu sacrifício tenha valor infinito e humano para que possa representar a humanidade.