Estudo proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE
Seção VII. Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto a Deus, assim também, em sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo até à ressurreição de Cristo esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado dia do Senhor (domingo), e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão.
A luz da natureza revela que existe um Deus que é Senhor e Soberano sobre todas as coisas, e que, por isso, deve ser temido, amado, e servido. A própria criação, por meio dos céus e do firmamento, testifica continuamente da glória e do eterno poder de Deus, tornando os homens indesculpáveis em reconhecê-Lo. Disso decorre, como uma lei da natureza, que uma proporção adequada de tempo deve ser dedicada ao culto a Deus. Além dessa lei natural, Deus, em Sua Palavra, estabeleceu especificamente a observância do sábado através de um preceito positivo, moral e perpétuo, que obriga todos os homens em todas as épocas.
Este preceito, incluído no Decálogo, distingue-se por ser composto de um aspecto moral imutável — a obrigação de reservar um dia em sete para o descanso e adoração — e um aspecto positivo ou cerimonial — a determinação do dia exato. A defesa da perpetuidade do mandamento repousa na inalterabilidade do princípio moral, mesmo após a mudança do dia específico, como será demonstrado pelas Escrituras.
1) A Natureza Perpétua e Moral do Mandamento Semanal
A obrigação de santificar um dia em sete é anterior à lei mosaica e permanece inalterada na dispensação do Novo Testamento, pois está arraigada na própria ordem da criação. O mandamento é moral, porque se baseia na relação permanente do homem com Deus, o Criador, e nas necessidades inalteráveis de nossa natureza humana e animal.
Tópicos da Obrigatoriedade Perpétua:
- Fundamento na Criação: A instituição do sábado ocorreu imediatamente após a obra de criação. Deus completou Sua obra em seis dias e descansou no sétimo (Gênesis 2:2,3), abençoando e santificando este dia. Este padrão (seis dias de trabalho seguidos por um de descanso) foi estabelecido como um modelo para a humanidade.
- Lei Moral no Decálogo: O Quarto Mandamento, que exige a consagração de um dia em sete, faz parte do Decálogo, que é a lei moral de Deus para todos os homens e em todas as épocas (Romanos 13:8-10). Se os outros nove mandamentos são morais e perpétuos, seria incongruente que apenas o quarto fosse meramente cerimonial e temporal.
- Preceito Misto: O mandamento do sábado é "misto", sendo a exigência de reservar um tempo fixo para o culto divino moral e perpétua, enquanto a determinação precisa do sétimo dia (na ordem) era cerimonial e, portanto, passível de mudança. A observância do ciclo de um dia em sete (em frequência) permanece como uma ordenança moral.
2) O Sábado no Antigo Testamento: Um Memorial da Criação e um Tipo de Redenção
O Sábado (do hebraico shabbat, que significa "cessar" ou "descanso") foi estabelecido para ser um memorial perpétuo da obra de criação (Êxodo 20:11). Deus santificou o dia, separando-o do uso secular e dedicando-o ao culto divino.
A Observância no Antigo Pacto:
- Sinal da Aliança: Sob o pacto mosaico, o sábado também se tornou um sinal entre Deus e Israel (Êxodo 31:13,16, 17; Ezequiel 20:12), lembrando-os de seu livramento da escravidão no Egito (Deuteronômio 5:12).
- Propósito Tipológico: Além de comemorar a criação e a libertação, o sábado semanal tinha um sentido tipológico, prefigurando o descanso espiritual e celestial em Cristo (Colossenses 2:16,17). Este descanso, que começou a ser desfrutado na terra, só será consumado plenamente no céu novo e na terra nova.
A severidade da observância sob o Antigo Testamento, com restrições como a proibição de acender fogo e a pena capital por violação, pertencia aos aspectos cerimoniais e temporais do mandamento mosaico e não se aplica diretamente ao sábado cristão.
3) A Mudança do Dia: Da Criação à Nova Criação em Cristo
O dia de observância semanal permaneceu sendo o sétimo dia até a ressurreição de Cristo. A partir da consumação da obra da redenção, houve uma mudança significativa e divinamente sancionada para o primeiro dia da semana.
Razões para a Mudança:
- A Ressurreição de Cristo: Jesus Cristo ressuscitou dos mortos no primeiro dia da semana. A ressurreição é o ponto de virada da história, marcando o amanhecer da nova criação.
- Descanso da Obra da Redenção: Assim como o sábado original comemorava o descanso de Deus de Sua obra da criação, o primeiro dia da semana comemora o descanso do Filho de Deus de Suas obras de sofrimento e o cumprimento da redenção. A nova criação, mais gloriosa que a primeira, merece um memorial distinto.
- Autoridade Apostólica Divina: A mudança foi feita pelos apóstolos, sob a direção do Espírito Santo, estabelecendo o primeiro dia como o dia de reunião e culto para os cristãos. Fica provado evidentemente que os cristãos primitivos se reuniam no primeiro dia para partir o pão (Ceia do Senhor) e para a realização da coleta das ofertas (Atos 20:7; 1 Coríntios 16:1,2).
4) O Dia do Senhor: O Sábado Cristão e Sua Continuidade
Desde a ressurreição de Cristo, o primeiro dia da semana é conhecido na Escritura como o Dia do Senhor (Apocalipse 1:10). Essa designação demonstra a apropriação do princípio do sábado pela igreja, sob a autoridade de Jesus Cristo.
O Senhorio de Cristo e a Perpetuidade do Sábado:
- Jesus afirmou ser "Senhor até mesmo do sábado" (Marcos 2:27,28), um direito que Lhe pertence por ser o Filho do Homem, o Deus encarnado, e o cabeça da aliança.
- Ao invés de abolir o preceito, Cristo o cumpriu e confirmou toda a Lei Moral (Mateus 5:17,18).
- O Dia do Senhor, como o Sábado Cristão, há de continuar até ao fim do mundo.
- Este dia deve ser santificado por um santo descanso de ocupações seculares e recreações lícitas nos outros dias, e pela dedicação de todo o tempo a exercícios públicos e particulares de adoração a Deus, excetuando-se as obras de necessidade e misericórdia (Lucas 4:16; Mateus 12:11,12).
Conclusão
Portanto, a exigência de dedicar um tempo de adoração a Deus é, em primeiro lugar, uma lei da natureza. Esta exigência foi formalizada por Deus em Sua Palavra, estabelecendo um preceito moral e perpétuo que obriga a todos os homens em todos os séculos a santificar um dia em sete como descanso. O dia de observância, originalmente o último da semana em memória da criação (Gênesis 2:2,3), foi solenemente alterado para o primeiro dia da semana, que é o Domingo, após a ressurreição de Jesus Cristo, tornando-se o Dia do Senhor (Apocalipse 1:10), o memorial da Nova Criação e da Redenção, e deve ser observado até o fim dos tempos como o Sábado Cristão.








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