Mostrando postagens com marcador Sola Scriptura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sola Scriptura. Mostrar todas as postagens

31 outubro 2020

A Reforma e o "Sola Scriptura"

Por Augustus Nicodemus Lopes 

Hoje é o aniversário da Reforma Protestante. Seria bom lembrar um dos seus pilares, o conceito de Sola Scriptura, “Somente a Escritura”.

Se quisermos achar um evento que sirva como marco histórico para a origem do conceito, a resposta de Lutero na Dieta de Worms (1521) imediatamente vem à mente. Ao ser perguntado, pela segunda vez, se iria se retratar de suas posições expressas nas 95 teses, ele respondeu: 

“A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém.”

Em outras palavras, Lutero declarou que só aceitaria o que pudesse ser provado pelas Escrituras: “Sola Scriptura”

Aceitando somente a Escritura, Lutero deduziu que a salvação era somente pela graça (sola gratia), somente pela fé (sola fide) na pessoa e obra de Cristo (solus Christus), redundando em glória somente a Deus (soli Deo gloria), divergindo, assim, do que era ensinado na sua época e que era baseado na tradição, bulas e declarações de concílios. Como a venda de indulgências, por exemplo. Em outras palavras, o conceito de sola Scriptura é fundamental para o edifício da teologia da Reforma.

Mas, esclareçamos. Como cristão reformado, quando eu uso a expressão Sola Scriptura não estou negando que a Palavra de Deus, a princípio, foi transmitida oralmente, antes de ser escriturada. Também não estou negando que Deus se revelou à humanidade na natureza, por meio das coisas criadas (revelação geral, embora não salvífica) e nem estou reduzindo a atividade do Espírito Santo nos crentes ao momento de leitura da Bíblia. Nem nego a necessidade de pastores, mestres e evangelistas. Eu também não estou dizendo que a Bíblia é sempre clara em todas as suas partes e menos ainda que ela é exaustiva.

Quando os cristãos reformados declaram “Sola Scriptura!” eles estão dizendo fundamentalmente que a palavra que Deus falou através dos séculos através de pessoas que ele escolheu e inspirou, na qual Ele se revelou e revelou sua vontade para seu povo, se encontra agora somente nas Escrituras Sagradas, e em nenhum outro lugar. 

Esta revelação escrita é suficientemente clara em matérias pertinentes à salvação e santificação do povo de Deus e suficiente para que se conheça a Deus e a sua vontade.

Em outras palavras, Sola Scriptura significa que a única regra de fé e prática para os cristãos são as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamento, pela simples razão de que elas, e somente elas, são inspiradas por Deus. A tradição oral, os pronunciamentos dos concílios e líderes religiosos e as opiniões de teólogos não são. Eles podem ser úteis em nossa compreensão das Escrituras e das origens do Cristianismo, bem como nas aplicações de seus princípios às questões de nossos dias, quando não contradizem as Escrituras. Contudo, nenhum deles é a base e o fundamento para minha fé e as minhas práticas. 

Assim, eu não tenho nenhum problema em aceitar uma tradição oral desde que se possa demonstrar que ela tem origem no ensino dos apóstolos. Da mesma forma, aceito os ensinos dos Pais da Igreja que comprovadamente estão de acordo com os escritos do Novo Testamento.

Da mesma maneira, “revelações” e “profecias” que pretendem adicionar alguma coisa à Escritura, ou que a contradizem, são, como disse Jeremias, meros sonhos e ilusões de profetas que não têm o Espírito de Deus (Jer 23:9-40), pois “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Ap 19.10).

É claro que não vamos encontrar o slogan Sola Scriptura na Bíblia, pelo menos não como uma frase ou declaração. Mas existem evidências claras o suficiente para aceitarmos que, ao dizer que sua consciência estava cativa somente à palavra de Deus, Lutero estava expressando um princípio amplamente exposto nas Escrituras. 

Para quem quiser depois consulta-los, acredito que os textos abaixo deixam claro que já há nas próprias Escrituras uma compreensão de que elas são inspiradas por Deus e que nelas Deus fala de maneira autoritativa e suficiente para seu povo: 

Jo 5.24; Jo 20.30-31; 2Pe 1.20-21; 2Tm 3.14-17; 1Co 14.37-38; 1Ts 4.8; 2Ts 3.14; 2Pe 3.15-16; Sl 19.7-9; Is 8.19-20; Jo 10.35; Rm 15.4; Hb 4.12; Ap. 22.18-19.

Há outras, mas estas bastam para mostrar que: (1) há uma clara consciência do conceito de Escritura como sendo o meio pelo qual Deus fala; (2) as Escrituras são consideradas, portanto, como a autoridade final nas coisas concernentes a Deus e nossa relação com ele e com os outros; (3) que nenhuma outra fonte de autoridade pode ser colocada ao lado das Escrituras.

É em passagens assim que os cristãos reformados se baseiam para dizer que é somente nas Escrituras que Deus nos fala de maneira autoritativa e final. E portanto, nossa consciência está cativa somente a elas. 

Enfim, Sola Scriptura.

Fonte: Facebook

25 outubro 2020

Devem os Pastores de Hoje se Importarem com a Reforma?

Por D.A. Carson

Pastores dedicados ao ministério têm tantas coisas a fazer. Além da preparação semanal cuidadosa de novos sermões e estudos bíblicos, das horas reservadas ao aconselhamento, do cuidado no desenvolvimento de relacionamentos excelentes, do evangelismo cuidadoso e atencioso (e prolongado!), da mentoria da próxima geração, das incessantes exigências de administração e supervisão, para não mencionar a nutrição de sua própria alma, há uma série regular de prioridades familiares, que incluem o cuidado de pais idosos e de netos preciosos e um cônjuge doente (ou qualquer número de permutações de tais responsabilidades), e, para alguns, com níveis de energia diminuídos em proporção inversa aos anos que vão avançando.

Portanto, por que deveria eu reservar horas valiosas para ler sobre a Reforma, que teve início há cerca de 500 anos? É verdade que os Reformadores viveram em tempos de mudanças rápidas, mas quantos deles pensaram seriamente sobre a epistemologia pós-moderna, sobre o transgenderismo ou a nova (in)tolerância? Se desejamos aprender com os antepassados, não seria mais sábio escolher algum mais recente? Não necessariamente.

O Pastor como Clínico Geral 

Um pastor é, por definição, algo semelhante a um clínico geral. Não é especialista em, digamos, divórcio e novo casamento, história de missões, análise cultural ou períodos específicos da história da igreja. No entanto, a maioria dos pastores necessita desenvolver conhecimentos básicos mínimos em todas estas áreas, como parte da aplicação da Palavra de Deus às pessoas ao seu redor. Isto significa que ele tem obrigação de dedicar algum tempo a cada ano à leitura em áreas abrangentes. Uma destas áreas é a teologia histórica. A literatura histórica bem selecionada nos expõe a diferentes culturas e tempos, expande nossos horizontes e nos permite ver como os cristãos de outros tempos e locais refletiram sobre o que a Bíblia diz e como aplicar o evangelho a toda a vida. Continue a ler!

Em segundo lugar e mais especificamente, um conhecimento progressivo da teologia histórica é uma maravilha para destruir a ilusão de que a exegese perspicaz e rigorosa começou nos séculos XIX ou XX. Nem tudo o que foi escrito há 500 anos, ou há 1.500 anos, é completamente admirável e vale a pena repetir, da mesma maneira como nem tudo escrito hoje é completamente admirável e vale a pena repetir. Mas tal leitura histórica é o único antídoto efetivo para a trágica atitude de um seminário (nome retido para proteger os culpados) que por muito tempo argumentou que seus alunos somente necessitavam aprender a fazer uma boa exegese e uma hermenêutica responsável: não necessitavam aprender o que os outros pensam, pois dominando a exegese e a hermenêutica, bastava virar a manivela e uma teologia fiel sairia por si só. Quanta ingenuidade de pensar que a exegese e a hermenêutica são disciplinas neutras e livres de valores! A verdade é que necessitamos estudar outros pastores teólogos, tanto de nossos dias quanto do passado, se quisermos crescer em riqueza, nuance, insight, autocorreção e fidelidade ao evangelho.

Por que a Reforma? 

Mas por que focar especificamente na Reforma? Embora tenha sido desencadeada pela questão das indulgências, o debate sobre indulgências logo levou, direta ou indiretamente, a debates exploratórios sobre a autoridade, o lócus da revelação (Podemos desfrutar de um depósito ostensivamente dado à igreja abrangendo tanto as Escrituras quanto a Tradição, ou nos ater somente às Escrituras?), sobre o purgatório e a autoridade pela qual pecados são perdoados, sobre o tesouro de satisfações, sobre a natureza e o lócus da igreja, a natureza e autoridade de sacerdotes/presbíteros, a natureza e função da Eucaristia, sobre os santos, a justificação, a santificação, a natureza do novo nascimento, o poder escravizador do pecado, e muito mais.

Todas estas questões ainda são centrais no currículo teológico atual. Mesmo a questão das indulgências ainda é importante: tanto o Papa Bento quanto o Papa Francisco ofereceram indulgências plenárias especiais sob certas circunstâncias (embora em uma estrutura mais restrita do que a adotada por Tetzel). Além disso, o estudo da Reforma é especialmente salutar como resposta àqueles que pensam que a chamada “Grande Tradição”, preservada nos primeiros credos ecumênicos, é invariavelmente uma base adequada para a unidade ecumênica, como se não houvesse heresias inventadas após o século IV. Nesta frente, o estudo da Reforma é benéfico para gerar um pouco de realismo histórico.

Além da hermenêutica característica da Reforma que brotou da “sola Scriptura”, os Reformadores batalharam arduamente para desenvolver uma hermenêutica rigorosa que se afastasse dos caprichos da hermenêutica quádrupla que chegou ao topo durante a Idade Média. Isto não significa que fossem literalistas simplistas, incapazes de apreciar diferentes gêneros literários, metáforas sutis, e outras figuras simbólicas da fala; significa, ao contrário, que eles se esforçaram muito para deixar a Escritura falar em seus próprios termos, sem permitir que métodos externos fossem impostos ao texto como se fosse um filtro extra-textual projetado para garantir as respostas “certas”. Em parte, isso estava ligado à compreensão de “claritas Scripturae”, a perspicuidade ou clareza das Escrituras.

A teoria católica sobre a espiritualidade geralmente distingue entre a vida dos católicos comuns e a vida espiritual daqueles que são católicos realmente profundamente comprometidos. É quase uma versão católica da teologia da “vida superior”. Diz-se que leva à conexão mística com Deus, e que se caracteriza por práticas espirituais e disciplinas extraordinárias. Mas embora eu tenha lido bem, digamos, Julian de Norwich, encontrei grande quantidade de misticismo subjetivo e praticamente nenhum fundamento nas Escrituras ou no evangelho. E, por tudo que me é precioso, não consigo imaginar Pedro ou Paulo recomendando a retirada monástica para alcançar uma maior espiritualidade: é sempre um perigo quando certas práticas ascéticas se tornam caminhos normativos para a espiritualidade, quando não há apoio apostólico para elas.

Nossa geração contemporânea, cansada de abordagens meramente cerebrais ao cristianismo, é atraída por padrões patrísticos tardios ou medievais de espiritualidade. Que alívio, então, acorrer aos mais calorosos escritos dos Reformadores, e descobrir de novo a busca de Deus e sua justiça bem fundamentada nas sagradas Escrituras. É por isto que a carta de Lutero ao seu barbeiro permanece tão clássica: está cheia de aplicação piedosa do evangelho aos cristãos comuns, elaborando uma concepção de espiritualidade que não é reservada à elite dos eleitos, mas disponível a todos os irmãos e irmãs em Cristo. Da mesma forma, os capítulos de abertura do Livro III das Institutas de Calvino proporcionam uma reflexão mais profunda sobre a verdadeira espiritualidade do que muitos volumes contemporâneos muito mais extensos.

A Reforma é de importância central para a compreensão da história ocidental moderna. Três movimentos em grande escala prepararam o cenário para o mundo ocidental contemporâneo: o Renascimento, a Reforma e o Iluminismo. Cada um dos três é complexo, e os estudiosos continuam a debater suas muitas facetas. No entanto, a reivindicação básica do papel fundamental destes três movimentos não pode ser facilmente contestada.

Por que esta Reforma? 

Há lições a serem aprendidas com a Reforma sobre a soberania de Deus em movimentos de reavivamento e reforma. Afinal de contas, houve outros reformadores e movimentos de reforma que eram promissores, mas basicamente se dissiparam. John Wycliffe (c.1320 – 1384) era um teólogo, filósofo, eclesiástico, reformador eclesiástico e tradutor bíblico, e o trabalho que ele fez prenunciou a Reforma, mas não se pode dizer que a precipitou. Jan Hus (1369 – 1415) foi um padre checo, reformador, estudioso, reitor da Universidade Charles em Praga, e arquiteto de um movimento reformador, muitas vezes chamado de “hussitismo”, mas como seria de esperar, foi martirizado e seu movimento, embora importante na Boêmia, alcançou pouco mais na Europa do que um status de antecessor.

Por que razão Lutero, Calvino e Zwinglio viveram, o tempo suficiente para dar direção a uma Reforma maciça, enquanto o tradutor bíblico William Tyndale (1494—1536) foi assassinado? A retrospectiva histórica oferece muitas razões pelas quais este viveu e aquele morreu, por que uma ação reformadora se esgotou e outra acendeu uma chama irreprimível. Vale a pena entender os detalhes históricos mas os olhos da fé verão a mão de Deus na reforma genuína e nos recordarão de oferecer nossos louvores pelo que Ele fez, e nossas petições pelo que ainda lhe pedimos que faça.

Exponha a Bíblia, envolva-se com a Teologia 

A Reforma se destaca como um movimento que buscou integrar a exegese dos livros bíblicos com o que hoje chamaríamos de teologia sistemática. Nem todos os Reformadores fizeram isso da mesma maneira. Alguns agiram como se estivessem expondo os textos bíblicos, mas tendiam, na realidade, a saltar de uma palavra ou frase seminal para a próxima palavra ou frase seminal, parando em cada ponto para descarregar tratamentos teológicos dos vários “loci”.

Outros, como Bucer, seguiram o texto mais de perto, mas também descarregaram seu tratamento dos “loci” no caminho, tornando seus comentários extraordinariamente longos e densos. Calvino se esforçou em seus comentários para o que chamou de “brevidade lúcida”, e reservou sua teologia sistemática principalmente para aquilo que se encorpou e se tornou os quatro volumes de Institutas da Religião Cristã. Na verdade, os comentários de Calvino são tão “simples” que não poucos estudiosos o criticaram por não incluir teologia suficiente neles.

Mas o que é impressionante sobre todos estes Reformadores, independentemente de seus sucessos ou fracassos para realizar uma integração adequada, é a maneira como eles simultaneamente tentaram expor a Bíblia e se envolver em análise teológica séria. Em contraste, hoje poucos sistemáticos são excelentes exegetas, e poucos exegetas manifestam muito interesse pela teologia sistemática. As exceções apenas comprovam a regra.

Compreender o tempo deles — e o nosso 

Os Reformadores entendiam seus tempos muito bem. Embora se apoiassem na “norma normativa” das Sagradas Escrituras, eles realmente entendiam onde estavam as linhas sísmicas em seu época e locais. Alguns dos mesmos problemas permanecem hoje. Por outro lado, o que devemos retirar dos Reformadores a este respeito não é simplesmente uma lista de tópicos sobre os quais eles se concentraram, mas a importância de entender nossos tempos e aprender como engajar nossa época com a verdade das Escrituras.

Continue a ler!


16 agosto 2020

A Suficiência da Escritura

Primeiro, é necessário compreender o que Sola Scriptura faz e o que ela não declara. O princípio Reformador da Sola Scriptura associa-se à suficiência da Escritura como nossa autoridade suprema em todas as questões espirituais. Sola Scriptura significa simplesmente que toda verdade necessária para nossa salvação e vida espiritual é ensinada tanto explícita como implicitamente na Escritura.

Não se pretende que toda verdade de todo tipo seja encontrada na Escritura. Os defensores mais ardorosos da Sola Scriptura admitem, por exemplo, que a Escritura tem pouco ou nada a dizer acerca das estruturas do DNA [ácido ribonucléico], microbiologia, regras da gramática chinesa ou a ciência dos foguetes interplanetários. Esta ou aquela "verdade científica", por exemplo, pode ou não ser realmente verdadeira, pode ou não ser abonada pela Escritura - mas a Escritura é uma "Palavra mais segura", mantendo-se acima de toda outra verdade em sua autoridade e exatidão. Ela é “mais confiável", de acordo com o apóstolo Pedro, do que os dados que conseguimos de primeira mão intermédio de nossos sentidos (2Pe 1.19). Consequentemente, pois, a Escritura é a autoridade mais alta e suprema acima de qualquer matéria em que ela se manifeste. 

Há muitas questões importantes, porém, sobre as quais a Escritura silencia. Sola Scriptura não diz o contrário. Nem advoga que tudo o que Jesus ou os apóstolos ensinaram está preservado na Escritura. Ela tão-somente indica que tudo o que nos é necessário, tudo o que se acumula em nossa consciência e tudo o que Deus requer de nós é proporcionado pela Escritura. 

Além disso, somos proibidos de acrescentar ou retirar palavras ou conceitos da Escritura (cf. Dt 4.2; 12.32; Ap 22.18,19). Fazê-lo é pôr sobre os ombros das pessoas um fardo que o próprio Deus não tencionou sem (cf. Mt 23.4).

A Escritura é, portanto, o padrão perfeito e único de verdade espiritual, revelando infalivelmente tudo o devemos crer para nossa salvação, e tudo isso devemos fazer para glorificar a Deus. Isso - nem mais, nem menos -  o que Sola Scriptura ensina. 

A Confissão de Fé de Westminster define a suficiência da Escritura nestas palavras: "Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens" (1.6).

Os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana incluem a seguinte declaração sobre Sola Scriptura: “A Escritura Sagrada contém todas as coisas necessárias à salvação: de modo que tudo quanto não for lido nela, nem puder ser provado por meio dela, não deve ser requerido de nenhum homem" (artigo 6).

Portanto, Sola Sriptura proclama simplesmente que a Escritura é suficiente. O fato de Jesus ter feito e ensinado muitas coisas não registradas na Escritura (Jo 20.30; 21.25) é totalmente irrelevante para o princípio da Sola Scriptura. O fato de a maioria dos sermões dos apóstolos nas primeiras igrejas formadas não terem sido escritos e preservados para nós não diminui em nada a verdade da suficiência bíblica. O que é certo é que tudo quanto é necessário está na Escritura – e estamos proibidos de ultrapassar o que está escrito (1Co 4.6).

Como outros capítulos neste volume* têm demonstrado e demonstrarão, a Escritura invoca para si mesma essa suficiência - e em lugar algum mais nitidamente do em 2Timóteo 3.15-17. Um breve resumo dessa passagem é apropriado também aqui. Em resumo, o versículo 15 afirma que a Escritura é suficiente para a salvação: “..desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus". O versículo 16 declara a autoridade absoluta da Escritura, a qual é "inspirada por Deus" (em grego, theopneustos) e útil para a nossa instrução. E o versículo 17 diz que a Escritura é capaz de equipar o homem de Deus "para toda boa obra". Portanto, a afirmação de que a Bíblia não ensina Sola Scriptura é simplesmente equivocada.

John F. MacArthur Jr.
*Fonte: Sola Scriptura, numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico, vários autores, Ed. Cultura Cristã, p. 138.