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06 março 2024

A Doutrina da Expiação Limitada Prejudica o Evangelismo?


Por RC Sproul 

Uma objeção frequentemente citada contra a doutrina da expiação limitada é que ela enfraquece o evangelismo. Todos os cristãos ortodoxos, incluindo os calvinistas, creem e ensinam que a expiação de Jesus Cristo deve ser proclamada a todos os homens. Devemos dizer que Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Existe o equívoco de que, como os calvinistas creem na doutrina da expiação limitada, eles não têm paixão para sair e pregar a cruz a todos. Desde Agostinho, os calvinistas têm sido cuidadosos em insistir que o evangelho deve ser oferecido a todos os homens, mesmo sabendo que nem todos responderão a ele. Muitos calvinistas têm sido evangelistas zelosos.

A doutrina da expiação limitada, na realidade, auxilia o evangelismo. O calvinista sabe que nem todos responderão à mensagem do evangelho, mas também sabe com certeza que alguns responderão. Por outro lado, o arminiano não sabe que nem todos responderão. Na mente do arminiano, é uma possibilidade teórica que todos se arrependam e creiam. No entanto, o arminiano também precisa lidar com a possibilidade de que ninguém responda. Ele só pode esperar que sua apresentação do evangelho seja tão persuasiva que o descrente, perdido e morto em suas transgressões e pecados, escolha cooperar com a graça divina para aproveitar os benefícios oferecidos na expiação.

Se pudermos superar esses supostos problemas com a doutrina da expiação limitada, podemos começar a ver a sua glória – que a expiação que Cristo fez na cruz foi real e eficaz. Não foi apenas uma expiação hipotética. Foi uma expiação real. Ele não ofereceu uma expiação hipotética pelos pecados do seu povo; seus pecados foram expiados. Ele não deu uma propiciação hipotética pelos nossos pecados; Ele realmente aplacou a ira de Deus para conosco. Em contraste, de acordo com a outra visão, a expiação é apenas uma potencialidade. Jesus foi à cruz, pagou a pena do pecado e fez a expiação, mas agora Ele está sentado no céu torcendo as mãos e esperando que alguém se aproveite da obra que realizou. Isso é estranho à compreensão bíblica do triunfo e da vitória que Cristo alcançou em sua morte expiatória.

Em Sua Oração Sacerdotal em João 17:6–9a, Jesus disse:

“Eu manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu me os confiaste, e guardaram a tua palavra. Agora, reconheceram que todas as coisas que me deste vêm de ti... Eles... reconheceram de fato que eu procedi de ti e creram que tu me enviaste. Eu rogo por eles.”

Este era Jesus, o Salvador, falando aqui. Observe que Ele disse que estava orando por Seus discípulos - não pelo mundo. Na oração de intercessão mais comovente que Ele ofereceu neste mundo como nosso Sumo Sacerdote, Jesus disse explicitamente que não estava orando por todos. Em vez disso, Ele estava orando pelos eleitos.

Há um plano de Deus designado para a sua salvação. Não é uma reflexão posterior ou uma tentativa de corrigir um erro.

É concebível que Jesus estivesse disposto a morrer pelo mundo inteiro, mas não orar pelo mundo inteiro? Isso não faz sentido. Ele estava sendo coerente. Ele havia vindo para dar a sua vida pelas suas ovelhas. Ele iria morrer pelo seu povo, e deixou claro aqui que eram aqueles por quem Ele estava prestes a morrer. Não há aqui questão de indiscriminação. Jesus estava prestes a fazer a expiação, e essa expiação seria eficaz para todos para quem Ele pretendia que fosse eficaz.

Se você pertence ao rebanho de Cristo, um de Seus cordeiros, então pode saber com certeza que uma expiação foi feita por seus pecados. Você pode se perguntar como pode saber se está entre os eleitos. Não posso ler o seu coração ou os segredos do Livro da Vida do Cordeiro, mas Jesus disse: “‘As minhas ovelhas ouvem a minha voz’” (João 10:27a). Se você quer que a expiação de Cristo seja válida para você, e se você colocar sua confiança nessa expiação e confiar nela para reconciliá-lo com o Deus Todo-Poderoso, em um sentido prático, você não precisa se preocupar com as questões abstratas da eleição. Se você colocar sua confiança na morte de Cristo para a sua redenção e crer no Senhor Jesus Cristo, então pode ter certeza de que a expiação foi feita por você. Isso, mais do que qualquer outra coisa, resolverá para você a questão do mistério da eleição de Deus. A menos que você seja eleito, não crerá em Cristo; você não abraçará a expiação nem confiará no sangue derramado por Ele para a sua salvação. Se você quiser, pode tê-la. É oferecida a você se você crer e confiar.

Uma das declarações mais doces dos lábios de Jesus no Novo Testamento é esta: “‘Vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo’” (Mt 25:34b). Há um plano de Deus designado para a sua salvação. Não é uma reflexão posterior ou uma tentativa de corrigir um erro. Ao contrário, desde toda a eternidade, Deus determinou que redimiria para Si um povo, e o que Ele determinou fazer foi, de fato, realizado na obra de Jesus Cristo, Sua expiação na cruz. Sua salvação foi realizada por um Salvador que não é apenas um Salvador potencial, mas um Salvador real, Aquele que fez por você o que o Pai determinou que Ele fizesse. Ele é o seu Fiador, seu Mediador, seu Substituto, seu Redentor. Ele expiou seus pecados na cruz.

Fonte: Ligonier


29 novembro 2020

Quando todas as coisas se fizerem novas

Por R. C. Sproul

Como pastor e teólogo, tive que pensar sobre muitas questões difíceis ao longo dos anos. Verdade seja dita, no entanto, o problema mais difícil que enfrentei é o problema do sofrimento. Todos nós enfrentamos o sofrimento de alguma forma, e todos nós conhecemos pessoas que viveram vidas tão dolorosas que nos perguntamos como elas puderam prosseguir.

Não quero, jamais, minimizar ou negar a dor que o sofrimento traz. O cristianismo não é um sistema de negação estoica em que fingimos que tudo está bem, mesmo quando estamos enfrentando as piores coisas. Ao mesmo tempo, não ousamos esquecer a esperança cristã de que um dia o sofrimento irá embora para sempre. Quando lidamos com o sofrimento, tendemos a ter o nosso olhar completamente fixo no presente, mas a resposta cristã ao sofrimento, ao mesmo tempo que nos incumbimos em aliviar o sofrimento presente tanto quanto podemos, olha além do presente para o futuro.

A própria essência do secularismo é a tese de que o hic et nunc, o aqui e agora, é tudo o que existe. Não existe um reino eterno. Mas, como cristãos, somos chamados a considerar o presente à luz do eterno. Isso é o que Jesus pregou repetidamente. O que aproveita ao homem se neste tempo e neste lugar ele ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma (Lc 9.25)?

A Escritura diz que o fim define o significado do início (Ec 7.8). Só Deus conhece o fim desde o início de forma abrangente, mas em sua Palavra, ele nos dá um vislumbre do fim para o qual estamos caminhando. E se pudermos focalizar nossa atenção no fim, e não apenas no agora e na dor que sentimos aqui, podemos começar a entender nossa dor na perspectiva certa.

Ao revelar o novo céu e a nova terra, Apocalipse 21-22 nos dá um dos vislumbres mais claros do futuro. Deixe-me mencionar alguns.

“Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (21.3-4). Quando eu era pequeno, a vida era difícil. Havia um menino em nossa comunidade que era muito maior do que eu e era um valentão. Uma vez ele me bateu e eu corri para casa chorando. E minha mãe estava na cozinha usando seu avental e disse: “Venha aqui”. Eu entrei, e então ela se inclinou e enxugou minhas lágrimas – uma das formas mais ternas de comunicação – com a barra do avental. Quando minha mãe enxugou minhas lágrimas, fiquei realmente consolado e encorajado a voltar à batalha. Mas eu voltaria e, mais cedo ou mais tarde, me machucaria de novo e choraria de novo, e minha mãe teria que enxugar minhas lágrimas novamente. Mas quando Deus enxugar nossas lágrimas, elas nunca mais fluirão, por toda a eternidade. (A menos, é claro, que sejam lágrimas de alegria.)

Essa é a perspectiva eterna. Isso é o fim do começo. No momento vivemos no vale das lágrimas, mas essa situação não é permanente porque Deus enxugará nossas lágrimas.

João também diz: “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto” (v. 4). Morte, tristeza, choro, dor – tudo isso pertence às coisas anteriores, que passarão. Posso imaginar tendo conversas com você na nova Jerusalém, e você dirá: “Lembra-se daquela época, quando costumávamos nos preocupar com o problema do sofrimento?” E eu direi: “Mal me lembro o que era.”

Então, no versículo 22, lemos sobre outra coisa que não estará lá. Não apenas não haverá tristeza ou morte, mas tampouco haverá templo na Nova Jerusalém do novo céu e nova terra. Mas como pode a nova Jerusalém ser a cidade sagrada sem um templo? Bem, João quer dizer que não haverá construção de templos. Haverá outro tipo de templo, diz João – “o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro”. O mais belo santuário terrestre deste mundo ficará fora de moda na nova Jerusalém, porque estaremos na presença de Deus e do Cordeiro.

“Nunca mais haverá qualquer maldição” (22.3). Você conhece aquela música “Joy to the World”? Eu amo a linha da música que termina com “até onde a maldição é encontrada”. Quão longe é isso? Nesta escuridão atual, a maldição se estende até o fim da terra – para nossas vidas, para nosso trabalho, para nossos negócios, para nossos relacionamentos. Todos sofrem sob as dores da maldição de um mundo decaído. É por isso que existe um anseio cósmico, onde toda a criação geme juntamente esperando a manifestação dos filhos de Deus, esperando por aquele momento quando a maldição for removida (Rm 8.19). Não haverá ervas daninhas ou joio na nova Jerusalém. A terra não resistirá aos nossos arados porque a maldição não será encontrada. “Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão” (Ap 22.3).

E então temos a maior esperança, a promessa mais maravilhosa do Novo Testamento – veremos a face de Deus (v. 4). Em toda a nossa vida podemos nos aproximar do Senhor, sentir sua presença e falar com ele, mas não podemos ver seu rosto. Mas se perseverarmos na dor e no sofrimento deste mundo presente, a visão de Deus nos espera do outro lado. Você pode imaginar isso? Você pode imaginar olhar para a glória revelada de Deus por um segundo? Isso fará com que cada dor que já experimentei neste mundo valha a pena.

“Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (v. 6) – não a pomada ou o ópio para entorpecer nossa dor presente, mas a verdade do Deus Todo-Poderoso, que nos fez, que nos conhece, que pelo sofrimento de seu Filho redimiu seu povo. Ele nos garantiu que, se estivermos em Cristo somente pela fé, estaremos destinados à glória, e nada pode descarrilhar esse trem. Portanto, essas coisas anteriores que nos causam tanto sofrimento passarão e ele fará novas todas as coisas.