Mostrando postagens com marcador Falsos Mestres. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Falsos Mestres. Mostrar todas as postagens

15 abril 2025

[Exposição] Uma Falsa Paz | Mateus 7.21-23

21 Nem todo aquele que diz a mim: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas somente o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
22 Muitos dirão a mim naquele dia: ‘Senhor, Senhor! Não temos nós profetizado em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios? E, em teu nome, não realizamos muitos milagres?’
23 Então lhes declararei: Nunca os conheci. Afastai-vos da minha presença, vós que praticais o mal. (Mateus 7.21-23) 


Aqui estamos diante do fim do Sermão do Monte. Nas últimas palavras do Sermão, o próprio Filho de Deus nos confronta com a realidade de que a mera profissão de fé nem sempre garante a entrada no reino dos céus. A mensagem central desses versículos é o perigo do auto engano e da auto ilusão, um tema que ele conecta diretamente à advertência contra os falsos profetas no parágrafo anterior. Ele também ressalta que esses versículos servem para enfatizar que nada tem valor diante de Deus, exceto a verdadeira retidão e santidade.

Consideremos agora esta advertência em 3 pontos, pois ela nos chama para examinar o cerne de nossa relação com Deus.

1) Primeiramente, reflitamos sobre o significado de clamar "Senhor, Senhor"

Muitos podem invocar o nome de Cristo, professar a religião cristã, professar sujeição a Ele e até mesmo usar Seu nome em ministérios públicos, buscando reconhecimento e aceitação. Contudo, nem todos que proferem essas palavras com os lábios possuem um amor sincero e uma fé verdadeira em Cristo — "... este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim…" (Isaías 29:13).

A verdadeira entrada no reino dos céus não se resume a uma declaração verbal, mas sim a fazer a vontade do Pai que está nos céus — "Por que me chamais Senhor, Senhor, não fazem o que eu mando?" (Lucas 6:46). Essa vontade, no que concerne aos cristãos, envolve especialmente a fé em Cristo para vida e salvação, a fonte de toda verdadeira obediência evangélica — "E esta é a vontade daquele que me enviou: que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna" (João 6:40).

A ortodoxia, a crença correta sobre Jesus, é essencial — "Todo aquele que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus" (1 João 4:15), mas depender apenas dela é um perigo, pois até os demônios creem — "Crês tu que Deus é um só? Fazes bem. Também os demônios o crêem e estremecem" (Tiago 2:19).

O que devemos ter é a ortopraxia, que é a conduta correta baseada na doutrina bíblica ensinada por Jesus — "Se vocês sabem estas coisas, bem-aventurados serão se as praticarem" (João 13:17). A palavra ortopraxia vem do grego orthopraxia, que significa "prática correta", e é essa prática que evidencia a fé viva — "Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta" (Tiago 2:17).

2) Em segundo lugar, ponderemos sobre as falsas evidências de salvação que podem nos enganar

No dia do juízo, muitos dirão a Cristo: "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas obras maravilhosas?". É possível pregar a doutrina correta em nome de Cristo, expulsar demônios e realizar muitos milagres, e ainda assim ser excluído do reino. Essas obras, mesmo as mais extraordinárias, podem ser realizadas com motivos errados, buscando a própria glória e não a de Cristo — "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens" (Colossenses 3:23) — ou impulsionadas pela carne e não pelo Espírito — "Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus" (Romanos 8:14).

Até mesmo a operação de milagres não é prova de que um homem tem fé salvadora. A ênfase naquilo que fazemos em nome de Cristo não deve obscurecer a necessidade de um relacionamento genuíno com o próprio Cristo — "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3).

Vejamos alguns exemplos na Bíblia que comprovam que realizar “obras maravilhosas” em nome de Cristo não garante a salvação:

Balaão, embora fosse um profeta que recebeu revelações de Deus, agiu por ganância e foi posteriormente condenado — "Tendo abandonado o reto caminho, desviaram-se e seguiram pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o pagamento pela injustiça. Mas ele foi repreendido pela sua transgressão: um animal de carga mudo, falando com voz humana, refreou a insensatez do profeta" (2 Pedro 2:15,16).

Caifás, o sumo sacerdote que profetizou que Jesus morreria pela nação, falou uma verdade espiritual sem sequer compreender seu real significado — "Mas um deles, Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vocês não sabem nada, nem entendem que é melhor para vocês que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, Caifás não disse isto por conta própria, mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação” (João 11:49–51). Ainda assim, foi cúmplice na crucificação do Messias.

Os apóstolos, incluindo Judas Iscariotes, realizaram milagres, curas e expulsaram demônios — "Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças" (Lucas 9:1). Judas recebeu poder e autoridade sobre todos os demônios, mas ainda assim, traiu Jesus e se perdeu.

Os setenta discípulos também voltaram alegres dizendo que até os demônios se submetiam a eles em nome de Jesus — "Senhor, em seu nome os próprios demônios se submetem a nós!" (Lucas 10:17). Mas Jesus os advertiu: "... alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, e sim porque o nome de cada um de vocês está registrado no céu" (Lucas 10:20), revelando que o verdadeiro motivo de alegria não são as obras, mas a salvação.

Os judeus exorcistas, especialmente os filhos de Ceva, tentaram expulsar demônios usando o nome de Jesus sem o conhecerem de fato — "Os que faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço Jesus e sei quem é Paulo; mas vocês, quem são? E o possuído do espírito maligno saltou sobre eles, dominando a todos e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, nus e feridos, fugiram daquela casa" (Atos 19:14-16). Foram envergonhados e atacados pelo espírito maligno, demonstrando que o uso do nome de Jesus sem relacionamento com Ele é inútil.

Esses exemplos mostram claramente que operar sinais e milagres ou até mesmo falar verdades espirituais não é garantia de salvação. O que importa é ser conhecido por Cristo — "... se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele" (1 Coríntios 8:3).

3) Em terceiro e último lugar, confrontemo-nos com a terrível declaração: "Nunca vos conheci"

Cristo, o juiz, declara abertamente nunca ter tido amor ou afeição por aqueles que, apesar de suas obras em Seu nome, praticavam a iniquidade. Essa iniquidade pode residir em fazer a obra do Senhor enganosamente, pregando a si mesmos e buscando seus próprios interesses — "Evitem praticar as suas obras de justiça diante dos outros para serem vistos por eles" (Mateus 6:1,2) evidencia que a intenção do coração não pode ser mascarada por obras superficiais.

A ausência da presença de Cristo é o próprio inferno, demonstrando que sem um relacionamento genuíno com Ele, não há verdadeira luz ou vida — "Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha" (Mateus 12:30) reforça o perigo da separação espiritual.

O teste final não são as aparências externas ou os feitos realizados, mas sim a realidade íntima do coração e a genuína busca pela justiça e santidade — "...o Senhor não vê como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior, porém o Senhor vê o coração" (1 Samuel 16:7).

John Wesley, parafraseando sobre o verso 23, diz: “nunca houve um tempo que eu o aprovasse; por mais que eles tenham salvado tantas almas, eles próprios nunca foram salvos de seus pecados. Senhor, é o meu caso?”.

John Gill explica que o "conhecer" de Cristo implica afeição e aprovação. Ele também oferece uma interpretação do talmud da frase "Eu nunca te conheci" como significando que Cristo não os admitiria em Sua presença e glória. Gill ainda contextualiza a "iniquidade" praticada por essas pessoas não necessariamente como pecados abertos, mas como fazer a obra do Senhor enganosamente, buscando seus próprios interesses em vez da glória de Cristo.

Aplicação 

• Não confiar apenas na profissão verbal de fé: Meramente chamar Jesus de "Senhor, Senhor" não garante a salvação. É essencial que essa declaração seja acompanhada de um amor sincero por Cristo e uma fé verdadeira nele. Como Paulo esclarece, ninguém pode dizer "Senhor Jesus", senão pelo Espírito Santo. Não podemos confiar na nossa ortodoxia se não há ortopraxia!

• Examinar a motivação por trás do serviço cristão: Mesmo aqueles que pregam, expulsam demônios ou realizam milagres em nome de Cristo podem ser excluídos do reino dos céus se seus motivos forem impuros, buscando agradar aos homens, engrandecer a si mesmos ou promover seus próprios interesses em vez da glória de Cristo. A ênfase deve estar no próprio Cristo e no que Ele fez, e não apenas no que nós fazemos em Seu nome. Pregadores devem ser fieis dispensadores da palavra, buscando a glória de Deus e não a sua própria.

• Desconfiar de evidências superficiais de salvação: Não devemos nos iludir com o fervor emocional ou com a realização de obras impressionantes como garantia de salvação. O fervor pode ser meramente carnal. O poder de realizar milagres ou expulsar demônios pode ser concedido mesmo àqueles que não têm uma fé genuína. O próprio Judas Iscariotes tinha poder para expulsar demônios, mas se perdeu. Devemos alegrar-nos não pelos resultados aparentes, mas por termos o nosso nome escrito nos céus.

• Buscar genuína retidão e santidade: A verdadeira fé em Cristo se manifesta em fazer a vontade do Pai, o que implica uma vida de obediência evangélica e busca por santidade. Coisa alguma tem valor diante de Deus, exceto a verdadeira retidão. Qualquer coisa diferente disso, será como um “Senhor, Senhor!”. Se a nossa ideia de justificação pela fé não incluir a busca pela santificação, então não é o ensino bíblico.

• Aplicar testes de caráter e natureza interior: Em vez de focar apenas nas aparências externas, devemos examinar o caráter interior, buscando os sinais distintivos de um verdadeiro crente, como humildade, mansidão e fome e sede de justiça, conforme ensinado no Sermão do Monte.

• Reconhecer o perigo do autoengano: A auto decepção sobre a nossa salvação geralmente ocorre quando dependemos de falsas evidências. É crucial enfrentar honestamente essa verdade e buscar em Cristo a verdadeira fome e sede de justiça. No dia do juízo, haverá muitas surpresas, com pessoas que foram louvadas neste mundo sendo excluídas do reino.

22 outubro 2023

[Exposição] Despertem e Lembrem-se | 2 Pedro 1.12-21

A vida autêntica é a melhor defesa contra os falsos ensinamentos. Uma igreja em crescimento dificilmente se torna vítima de apóstatas e de seu cristianismo falsificado. No entanto, a vida cristã deve ser baseada na Palavra de Deus, pois ela está investida de autoridade. Para os falsos mestres, é fácil seduzir pessoas sem conhecimento da Bíblia, principalmente àqueles que desejam ter algum tipo de “experiências” com o Senhor. É perigoso edificar a fé somente sobre experiências subjetivas e ignorar a revelação objetiva.

Pedro trata da experiência cristã na primeira parte do primeiro capítulo (1-11) e na outra metade (12-21) vai abordar a revelação da Palavra de Deus. Seu objetivo é mostrar a importância de conhecer as Escrituras, a Palavra de Deus, e de se firmar inteiramente nela. O cristão que sabe em que crê e por que crê, raramente será seduzido por falsos mestres e por suas doutrinas errôneas. Pedro vai ressaltar a confiabilidade e durabilidade da Palavra de Deus fazendo um contraste entre as Escrituras e os homens, as experiências e o mundo.

Esta carta foi escrita aos cristãos da Ásia Menor, de acordo com 1 Pedro, no período de 67 dC, já no fim do reinado de Nero. É considerada uma “literatura de heresia”, ou seja, um dos livros do NT escrito para combater heresias. E talvez o tipo de heresia combatido nesta carta tenha sido o Gnosticismo¹ que já no séc 1 “rondava” círculos cristãos. Apesar das controvérsias, o autor é geralmente atribuído a Simão Pedro, o apóstolo de Jesus Cristo (1.1), que foi testemunha ocular da transfiguração de Jesus e que o negou por 3 vezes.

No texto que lemos, percebemos a preocupação de Pedro em levar os seus leitores a um patamar de edificação espiritual que fosse seguro contra os falsos mestres. E esse patamar só seria alcançado mediante o “despertamento” e o constante “lembrete” das verdades recebidas, do verdadeiro ensino. Daí temos o tema: Despertem e Lembrem-se!

1) Os homens morrem, mas a Palavra vive (v. 12-15)

Sabemos que os apóstolos e profetas do Novo Testamento lançaram os alicerces da Igreja (Ef 2.20) através da pregação e do ensino, e nós, de gerações posteriores, edificamos sobre esses alicerces. No entanto, os homens não constituem a fundação. Jesus é a fundação (1Co 3.11). Ele é a pedra angular que dá coesão ao edifício (Ef 2.20). Se a Igreja deseja permanecer de pé, não pode ter sua base construída sobre homens; antes, deve ser edificada sobre Jesus Cristo.

Podemos perceber pelo menos três motivações que dão razão ao ministério de Pedro ao escrever esta carta.

1) Obediência às ordens de Cristo, “sempre estarei pronto” (verso 12). Jesus havia dito a ele que quando ele se convertesse, deveria fortalecer os irmãos (ver Lc 22.32). Estar sempre pronto é o contrário de viver em preguiça, uma vez que a preguiça leva à destruição eterna (Pv 13.4; 24.30-34) e ser diligente leva à glória eterna. Pedro tencionava lembrá-los sempre. Mesmo que haja o conhecimento e determinação, há a necessidade de motivação e exortação.

2) Esta lembrança era a coisa certa a fazer (verso 13). “Considero justo…”, ou seja, “creio que é correto e apropriado”. É sempre correto estimular os crentes e lembrá-los da Palavra de Deus.

3) Diligência (verso 15). A palavra que o apóstolo usa aqui é a mesma que usou os versos 5 e 10. Significa “apressar-se em fazer algo”, “ser zeloso em fazer algo”. Pedro sabia que iria morrer em breve (ver João 21.18), por isso, desejava cumprir suas responsabilidades espirituais antes que fosse tarde demais. Pedro tinha consciência que a brevidade do seu mandato, aumenta o peso da sua responsabilidade diante de seus leitores. Uma vez que não sabemos quando iremos morrer, deveríamos começar a ser diligentes hoje mesmo!

Qual era o objetivo de Pedro? A resposta encontra-se em duas palavras usadas nos versos 12, 13 e 15 - lembrados e lembranças. Pedro desejava gravar a Palavra de Deus na mente dos seus leitores a fim de que jamais se esquecessem dela. “Despertai-vos com essas lembranças” (verso 13). O termo “despertar” significa estimular, acordar.

Os leitores desta carta conheciam a verdade e eram até confirmados na verdade (verso 12), mas isso não garantiam que se lembrariam para sempre dela e que a aplicariam. É por isso que o Espírito Santo foi dado à igreja, entre outros motivos, para lembrar os cristãos das lições que o Senhor Jesus ensinou (João 14.26). Lembrem-se: os homens morrem, mas a Palavra de Deus permanece!

Se não tivéssemos a revelação escrita confiável, estaríamos à mercê da memória humana. Felizmente é possível sim depender da Palavra de Deus pois ela está escrita e continuará escrita até a vinda de Jesus Cristo. É através desta Palavra escrita que somos salvos (1Pe 1.23-25). É através desta Palavra escrita que somos nutridos por ela (1Pe 2.2). É através desta Palavra escrita que somos guiados e protegidos ao crer e obedecer.

2) As experiências passam, mas a Palavra permanece (v.16-18)

Dos versos 16 a 18 temos como tema central a transfiguração de Jesus Cristo. Esse relato encontramos em Mateus 17, Marcos 9 e Lucas 9. No entanto, esses autores não estavam lá presentes quando ela ocorreu. Mas Pedro estava lá. Pedro traz à memória sua experiência de ter presenciado aquele evento.

Importante ressaltar o uso da primeira pessoa no plural. Trata-se de uma referência a Pedo, Tiago e João, os únicos apóstolos que presenciaram a Transfiguração. E serve para autenticar o testemunho apostólico, pois o evento descrito não foi visto apenas por Pedro. E também serve de testemunho para não acusar Pedro de ter criado essa “fábula engenhosa”. E cabe uma pergunta aqui: qual o significado da Transfiguração?

1) Confirmou o testemunho de Pedro acerca de Jesus Cristo (ver Mt 16.13-16). Pedro viu o Filho em sua glória e ouviu o Pai dizer do céu: “este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2 Pe 1.17).

2) A Transfiguração teve um significado especial para Jesus Cristo, que se aproximava do Calvário. Foi a forma do Pai fortalecer o Filho para a provação terrível de ser sacrificado pelos pecados do seu povo. A Transfiguração foi prova de que, quando estamos dentro da vontade de Deus, o sofrimento conduz à glória.

3) Mensagem relacionada ao Reino prometido. Note que para cada relato da Transfiguração em Mateus, Marcos e Lucas, o relato começa com uma declaração sobre o Reino de Deus. Jesus prometeu que antes de morrerem, alguns discípulos veriam o Reino de Deus em poder (ver Mateus 16.28, Marcos 9.1, Lucas 9.27). E isso se cumpriu no monte da transfiguração.

Agora podemos entender porque Pedro usa esse acontecimento: para refutar falsos ensinos que dizia que o Reino de Deus nunca viria (ver 2 Pe 3.3 em diante). Daí Pedro apresenta um resumo do que viu e ouviu no monte da transfiguração. Viu a glória de Jesus e ouviu o testemunho do Pai sobre o Filho.

Nós não testemunhamos pessoalmente a Transfiguração, mas Pedro estava lá e apresenta um registro preciso de sua experiência na sua carta. As experiências passam, mas a Palavra de Deus permanece. As experiências são subjetivas, mas a Palavra de Deus é objetiva. As experiências podem ser interpretadas de diferentes formas pelos participantes, mas a Palavra de Deus apresenta uma única mensagem clara. As memórias de nossas experiências podem ser distorcidas inconscientemente, mas a Palavra de Deus não muda e permanece para sempre.

Ao lembrar da Transfiguração, Pedro afirma várias doutrinas importantes da fé cristã. Declara que Jesus Cristo é o Filho de Deus, da Sua Divindade. Declara a obra que Jesus Cristo veio fazer na terra, sua morte e ressurreição, trazendo redenção dos pecadores. Declara a veracidade das Escrituras, pois a Lei e os Profetas (Moisés e Elias) apontavam para Jesus Cristo (Hb 1.1-3). Declara a realidade do Reino de Deus, que o sofrimento conduziria à glória e que a cruz resultaria na sua coroação.

Pedro não pôde dividir essa experiência conosco, mas registrou essa experiência para que o tivéssemos gravado permanentemente na Palavra de Deus. Não é possível reproduzir essa experiência, porém temos o relato que nos devem conduzir à reflexão e meditação.

3) O mundo escurece, mas a Palavra resplandece (v.19-21)

O mundo tem-se deteriorado a cada nova geração. O mundo está mergulhado em trevas e isso não deveríamos nos espantar. Jesus advertia seus ouvintes que a igreja seria alvo de impostores que ensinariam falsas doutrinas (Mt 7.13-29), Paulo faz uma alerta semelhante aos presbíteros de Éfeso (At 20.28-35) e também em suas cartas (Rm 16.17-20; 2Co 11.1-15; Gl 1.1-9; Fp 3.17-21; Cl 2; 1Tim 4; 2Tm 3-4) e até mesmo João faz esse tipo de advertência (1Jo 2.18-29; 4.1-6). Ou seja, temos admoestações claras de que o mundo moral, espiritual, só iria de mal a pior e que afetaria a Igreja.

O mundo só escureceria cada vez mais, e a Palavra de Deus resplandeceria cada vez mais. Pedro faz três declarações acerca dessa Palavra:

É a Palavra confirmada (verso 19a). A experiência de Pedro no monte da transfiguração foi real e o registro bíblico é confiável. A Transfiguração foi uma demonstração da promessa da Palavra profética e hoje essa promessa é ainda mais certa por causa do que Pedro experimentou. A Transfiguração confirmou as promessas proféticas. Os apóstatas tentariam desacreditar a promessa da vinda de Cristo, mas as Escrituras são fiéis. A promessa do Reino foi reafirmada por Moisés, por Elias, pelo próprio Jesus Cristo e pelo Pai. E o Espírito Santo registrou essa verdade para ser lida para a sua Igreja. Pedro faz um tributo à validade das Escrituras, onde elas são mais dignas de crédito do que uma voz ouvida do céu. Aqui temos uma censura aos falsos mestres que, indo além das Escrituras, criam de forma artificial, teorias místicas. A experiência pela qual Pedro passou deu certeza da realidade futura.

“O testemunho do Senhor é fiel” (Sl 19.7). “Fidelíssimos são os teus testemunhos” (Sl 93.5). “Fiéis todos os seus preceitos” (Sl 111.7). “Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos…” (Sl 119.128).

É a Palavra resplandecente (verso 19b). Pedro chama o mundo de “lugar tenebroso”. A palavra “tenebroso” aqui tem o sentido de algo “obscuro”. É um retrato de um porão escuro ou de um pântano sinistro. A história da humanidade começou em um jardim, belíssima, e hoje essa história está obscura, tenebrosa e sinistra. O sistema desse mundo indica a condição espiritual do nosso coração. Ainda podemos ver a beleza de Deus na criação, mas não vemos beleza alguma no que a humanidade faz com essa criação.

Deus é luz e a sua Palavra é luz: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). Jesus Cristo iniciou seu ministério “aos que viviam na região e sombra da morte e resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4.16). Sua vinda a este mundo foi a aurora de um novo dia (Lc 1.78). Para a igreja, Jesus Cristo é “a brilhante estrela da manhã” (Ap 22.16). Ele é o “sol da justiça” (Mt 4.1,2).

É a Palavra dada pelo Espírito (versos 20,21). Pedro aqui declara a doutrina da inspiração das Escrituras. Pedro afirma que as Escrituras não foram redigidas por homens que usaram as próprias idéias e palavras, mas sim por homens “movidos pelo Espírito Santo”, ou de acordo com a palavra grega pheromenói (“controlados e conduzidos”), eles foram conduzidos pelo Espírito Santo. As Escrituras não foram inventadas por homens, mas sim inspiradas por Deus.

Mais uma vez, vemos Pedro refutando os falsos mestres que ensinavam “palavras fictícias” (2Pe 2.3) e distorciam as Escrituras de modo a fazê-las significar outras coisas (2Pe 3.16) e que negavam a promessa da vinda de Cristo (2Pe 3.3,4). Uma profecia das Escrituras deve ser interpretada não com base nos pensamentos arraigados da velha natureza humana, tal como aquela dos falsos mestres, mas com base no que o Espírito Santo torna claro sobre o seu significado, já que Jesus enviou o Espírito para guiar os crentes à verdade (Jo 16.13). As Escrituras não resultam de um desvendamento particular. Os profetas não inventaram, pela força do desejo humano, aquilo que escreveram.

Deus é o Autor das Escrituras. Foi Ele quem as deu, bem como Ele é a correta interpretação, mediante iluminação.

Conclusão

Os homens morrem, mas a Palavra de Deus vive. As experiências passam, mas a Palavra permanece. O mundo escurece, mas a luz da Palavra de Deus resplandece. O cristão que edifica a vida pela Palavra de Deus e que espera a vinda do Salvador Jesus Cristo dificilmente será enganado por falsos mestres.

A mensagem de Pedro é: “despertem e lembrem-se!”. Há igrejas que, sem saber, dão espaço para o diabo atuar. Lembram da parábola do joio em Mateus 13.24-30? “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Mas, enquanto todos estavam dormindo, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e foi embora”.

Devemos ter o cuidado com as falsificações de Satanás. Ele possui cristãos falsos (2Co 11.26) que acreditam num evangelho falso (Gl 1.6-9), estimula uma falsa justificação (Rm 10.1-3) e tem até mesmo uma igreja falsa (Ap 2.9). No final dos tempos, chegará ao cúmulo de produzir um falso cristo (2Ts 2.1-12).

Devemos permanecer alertas para que os ministros de Satanás não se infiltrem e causem estragos na congregação dos cristãos verdadeiros (2Pe 2; 1Jo 4.1-6). Nem tudo que é feito dentro do cristianismo é um produto de cristãos verdadeiros. Quando nós “dormimos”, Satanás se põe a trabalhar. Devemos nos opor a Satanás com a mesma diligência que ele se opõe ao verdadeiro ensino. Despertemos e lembremo-nos!

_________________________
¹
O gnosticismo do primeiro século era um movimento religioso e filosófico que se desenvolveu no Império Romano durante os primeiros séculos do cristianismo. Os gnósticos acreditavam em uma dualidade entre o espírito e a matéria, e que o mundo material era mau e satânico. O espírito humano, portanto, era prisioneiro do corpo. A salvação, para os gnósticos, era alcançada por meio do conhecimento (gnosis), que era transmitido a um iniciado por um mestre gnóstico. Os gnósticos acreditavam que Jesus Cristo era um ser espiritual, e não um ser humano. Eles acreditavam que Jesus Cristo era uma emanação da divindade superior, e que havia descido ao mundo material para libertar o espírito humano. Os gnósticos rejeitavam a crença cristã de que Jesus Cristo havia se tornado humano e que havia sofrido e morrido na cruz e negavam a ressurreição de Jesus Cristo.


28 outubro 2020

Falsos Mestres, um “Câncer” Dentro da Igreja

Por Vilmar Rodrigues Nascimento 

Zelo espiritual é uma qualidade indispensável ao verdadeiro pregador da Palavra de Deus. No entanto, esse mesmo zelo tem sido usado por falsos mestres moralistas e farisaicos com fins espúrios. É por isso que os falsos líderes são tão amados e admirados. Eles exercem suas funções eclesiásticas levantando a bandeira do zelo pelas coisas sagradas, quando na verdade, são lobos vorazes em pele de cordeiros. 

A história bíblica, eclesiástica e teológica é prova contundente que muitos hereges foram grandemente estimados por suas pregações e ensinos moralistas. Louis Berkhof escreveu sobre o herege Márcion nestes termos:

“Homem de zelo profundo e de grande habilidade, que labutava no espírito de um reformador. A princípio procurou sujeitar a Igreja à sua maneira de pensar, mas não conseguindo êxito em sua obra reformista, sentiu–se constrangido a organizar seus seguidores numa Igreja separada, buscando aceitação universal para seus pontos de vista através de ativa propaganda” (A História das Doutrinas Cristãs. Editora: PES. Pg. 49).


Márcion ensinava uma distinção absoluta entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Para ele, o Deus do AT não era o mesmo do NT. Entendia a matéria como má, portanto, negava a encarnação de Cristo. O apóstolo João em sua primeira Carta à Igreja escreveu alertando tal fenômeno:

“Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feitos anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 Jo 2.18, 19).


Muitos blasfemadores saíram da Igreja ao serem confrontados e combatidos pelos apologetas. Outros, porém, ficaram disseminando seus erros doutrinários travestidos de zelo espiritual. Os falsos líderes eram e continuam sendo amados porque seus ensinos culminam em práticas pecaminosas que se adéquam ao gosto e interesses de seus ávidos ouvintes. Nesse contexto, como “serpentes”, os falsos mestres continuam tentando muitos membros da Igreja, que atraídos pelos seus discursos arrebatadores são seduzidos e atacados com “veneno” mortal: a heresia.

Todos os falsos mestres receberão no porvir o justo juízo de Deus e Sua implacável ira, castigando-os eternamente em todos os seus pecados.

Nos dias atuais os falsos líderes continuam sendo amados e admirados, mas com uma grande diferença: a mídia. Os holofotes em torno deles têm potencializado não só o amor e admiração, mas terrivelmente a veneração e idolatria de seus seguidores. Qual o principal fundamento para tanto "sucesso"? O amor e o prazer ao pecado travestido de falsa piedade, zelo e moralismo. Acontece assim: Os falsos líderes injetam “veneno” através dos falsos ensinos em seus seguidores e seus seguidores tornam-se um com eles e, ao mesmo tempo, dependentes deles, ao ponto de precisarem de mais “veneno” e mais “veneno”... O resultado é mais amor ao pecado e mais prazer em pecar. Esse ciclo é mortal. O “veneno” injetado mata. Os sintomas do “câncer” são bem vistos no estilo de vida dos falsos mestres e seus seguidores, eles são: egocêntricos e excêntricos. Idólatras e oportunistas. Avarentos e mundanos. Hedonistas e narcisistas. Tornam-se consumidores insaciáveis. É por isso que Paulo ao exortar os jovens pastores Timóteo e Tito, disse enfaticamente:

“É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11). “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocações, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Tm 6.3–5).

Em 1 Tm 1.3–7 o apóstolo Paulo exorta e orienta Timóteo bem como a igreja em Éfeso sobre o dano que os falsos mestres podem fazer ao povo de Deus e a causa de Cristo. No verso 7 está escrito: “Pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações”. O verbo “pretender” no original grego significa: Querer, ter em mente, desejar muito, estar resolvido. O modo verbal particípio presente deixa claro a ação de continuidade. A voz no original é ativa. Portando, os falsos mestres amam continuamente o que fazem e não abrirão mão por ativamente amarem serem o que são – falsos mestres. O restante do versículo e capítulo é uma conclusão lógica à luz do contexto de toda carta do que são capazes e estão dispostos a fazer.

É importante frisar que Paulo ensina Timóteo e a igreja, que os falsos mestres agem abertamente como se fossem verdadeiros “mestres da lei”. Contudo, eles não sabem “nem o que dizem”, que dirá “os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações”. O verbo “passar” no original significa: Ser, existir, acontecer. Ele está expressando uma ação contínua e ativa. Conclui-se que os falsos mestres jamais abrirão mão de ensinarem por amarem o que fazem. Eles continuarão ativamente dentro da igreja disseminando implacavelmente seus falsos ensinos e para melhor resultado, passam-se por “mestres da lei”. Ou seja, tais hereges existem e acontecem falsamente no meio protestante como “mestres da lei”. Que “câncer!” Que lástima! Que tragédia!

Paulo deixa claro à igreja que os falsos mestres “fazem ousadas asseverações”. Eis aqui uma forma clássica de ação: Eles são firmes em seus discursos e enfáticos no método de impressão de seus ensinos através de uma impressionante impostação vocálica. Eles almejavam o púlpito sagrado. Amam pregar. O verbo “asseverar” no original significa: Afirmar com ênfase, declarar de forma contundente. Seu sentido no texto é colocado por Paulo como uma certeza contínua. Portanto, os falsos mestres sempre usarão a oratória como método e recurso para atingir seus objetivos. E mais: Paulo usa a voz média no original, significando que eles sempre estarão preocupados com seus próprios interesses: O amor, prazer e entrega ao pecado.

Muitos falsos mestres existiam dentro da igreja em Éfeso. Mas Paulo faz questão imediata de citar dois nominalmente: “Himeneu e Alexandre” (1 Tm 1.20). O apóstolo antes de fazer menção dos nomes, usa o verbo no original “rejeitar” no verso 19: “tendo eles rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé”. Esse verbo significa: Expulsar para fora de si mesmo, repulsar. É um particípio no aoristo. O aoristo expressa uma ação realiza e acabada. O sentido fica assim: “Alexandre e Himeneu tendo uma vez rejeitado definitivamente a boa consciência, vieram a naufragar na fé”. A voz média é usada para expressar que o sujeito age em benefício próprio. Significando que os dois tomaram tal decisão visando seus próprios interesses. A convicção de Paulo foi clara e objetiva: “os entreguei a Satanás”. Qual propósito? “para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem” (v.20).

A igreja em Éfeso não poderia mais se deixar doutrinar e influenciar pelos falsos mestres. Paulo consciente desta realidade exorta Timóteo bem como a igreja:

“Este é o dever que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (vv.18, 20).


É importante ressaltar que Paulo imediatamente no verso 20 cita Himeneu e Alexandre. Por quê? O próprio contexto da carta deixa claro que esses falsos líderes e sua corja não estavam preocupados com o parecer paulino sobre eles. Eles estavam interessados em disseminar suas heresias a fim de darem vazão aos seus desejos carnais e egoístas. Paulo destaca bem tal motivação aos fiéis no capítulo 6.3–10. No verso 5 está escrito: “... homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”. Aqui há uma grande lição para a igreja em todos os tempos no que concerne à prevenção e combate aos falsos líderes. Paulo faz uma afirmação categórica: os falsos mestres são contínuos em seus objetivos. Portanto, não cabe aos líderes e à igreja serem flexíveis com eles. Eles devem ser implacavelmente combatidos. Por isso que o apóstolo Paulo em nome da saúde da igreja e da glória de Cristo não hesitou em citar nomes. Aqui não houve espaço para o hasteamento da tão famosa bandeira hodierna do politicamente correto! Paulo usou o verbo “supor” que no original significa: manter pelo costume ou uso, considerar. O modo verbal é o genitivo, indicando posse. O tempo verbal expressando continuidade e a voz indicando ação do sujeito. 

Para os primeiros leitores ficou clara a mensagem. Ou seja, os falsos mestres estavam viciados no uso contínuo e ativo da fé religiosa como fonte de lucro. Estavam exercendo grande influência sobre as casas e em especial as mulheres (5.1–16). Agindo assim, perpetuavam sua influência e poder dentro da igreja. Eles almejavam tomar posse completa do púlpito – que é a expressão máxima da verdadeira pregação Cristocêntrica – e o transformar em sua mais elevada tribuna pervertendo–o para os seus mais espúrios e avarentos propósitos. O “câncer” mortal do falso ensino estava se espalhando dentro da igreja em Éfeso (2 Tm 2.17,18). É neste contexto que devemos analisar e entender o famoso versículo: “porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nesta cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (v.10).

Os falsos mestres de hoje são bem parecidos com os de ontem. Seus erros e práticas são mais visíveis por força da velocidade da informação e propaganda. Os pecados são os mesmos. Os objetivos são os mesmos. Eles amam e se deleitam no prazer do pecado. Precisam custear seus mais exóticos, estapafúrdios e caros desejos carnais. Como? Eles se infiltram na igreja a fim de usá-la para fins gananciosos. Eles nunca saíram por completo de nosso meio. Deus os mantém dentro de seu soberano, sapiente e eterno plano. Naquele grande dia tudo será revelado. Inclusive alguns mistérios que giram em torno dos falsos mestres em sua constante permanência no seio da igreja eleita: “O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 Tm 2.19). Confiemos. Descansemos. Porém, não nos acovardemos. Paulo nesta particularidade é implacável para com seu pupilo na fé, Timóteo:

“Tem cuidado de ti mesmo e da sã doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”. “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a mansidão” (1 Tm 4.16; 6.11).


Timóteo, além do cuidado pessoal, tinha que velar pela sã doutrina, bem como fugir da avareza ao mesmo tempo em que deveria levar a igreja à constante vigilância tendo como alvo a vida eterna, a pátria celestial. A igreja atual tem sofrido constantemente com os falsos mestres moralistas travestidos de uma falsa piedade e zelo espiritual. Não é por falta de advertência bíblica. Paulo alertou contundentemente a igreja em Filipos. No capítulo 3.2, os falsos mestres são chamados de “cães”. Eles estão dentro da igreja que pertence ao Senhor Jesus Cristo. Eles são indomesticáveis. Organizam-se em matilhas. São impuros, egocêntricos, avarentos, idólatras, carnais, moralistas e hipócritas (Fl 3.1–21). Eles precisam ser urgentemente amordaçados (Tt 1.11).

Então por que a igreja atual tem demasiadamente tolerado tais mestres em seu meio e púlpito? Por que a liderança tem sido em geral indiferente há tão grande lástima? Certamente, o mundanismo que tem permeado todas as áreas da igreja é um agente potencializador e, em muito tem cooperado para tal quadro decadente. Contudo, não minimizemos os desejos mais espúrios e carnais dos falsos mestres e dos seus admiradores que têm se alimentado de seus erros e práticas antibíblicas. Tragicamente, os “Himeneu(s) e Alexandre(s)”, têm sido mais ouvidos do que os “Timóteo(s)” e “Tito(s)”. Quem são midiáticos? Quem são propagandistas? Quem alimenta o ego e a carne? Quem ama o ovacionismo? Quem alimenta o sistema religioso institucionalizado mercantilista? Quem ama desesperadamente o dinheiro? A resposta é muito simples – Os falsos mestres e seus seguidores, a igreja “mundanizada” e escravizada pela mídia mercantilista.

Que faremos então? Oremos, preguemos e paguemos o preço em prol do verdadeiro evangelho, o antigo, mas sempre atual evangelho da graça de Cristo, que nunca foi contrário à propagação do reino nos quadrantes do mundo. Ocupemos então, os meios de comunicação de forma bíblica e piedosa a fim de proclamarmos a salvação em Cristo, mas também, o juízo de Deus contra todos àqueles que não passam de verdadeiros aproveitadores.

Soli Deo Gloria. Amém!

Fonte: Bereianos