26 junho 2025

A Nação de Israel nos Símbolos de Fé de Westminster

Este texto tem a intenção de mostrar o entendimento dos Puritanos, através dos documentos que eles mesmo redigiram no século XVII, sobre o que eles pensavam a respeito da nação de Israel. As declarações da Confissão de Fé, do Catecismo Maior e do Breve Catecismo são exposições do pensamento puritano, o qual entendo ser a interpretação mais próxima das Escrituras.

Os Símbolos de Fé de Westminster esclarecem que Israel, como nação, foi historicamente o povo de Deus no Antigo Testamento. Contudo, o conceito de "povo de Deus" se expandiu para incluir a Igreja, composta por crentes de todas as nações, após a vinda de Cristo. Este estudo pretende detalhar essa compreensão, abordando o papel de Israel no plano divino e a transição para a universalidade da Igreja no pensamento puritano.

1) Israel como Povo de Deus no Antigo Testamento

Os Símbolos de Fé de Westminster explicitam que Israel era o povo escolhido por Deus para um propósito especial no Antigo Testamento.

✔ Pacto Divino: Deus estabeleceu um pacto específico com Israel, libertando-os da escravidão. O prefácio dos Dez Mandamentos, conforme a Pergunta 43 do Breve Catecismo de Westminster e a Pergunta 101 do Catecismo Maior de Westminster, declara: “Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. O Catecismo Maior de Westminster ainda enfatiza que, nessas palavras, Deus se manifesta como "um Deus em pacto com todo o seu povo e com o Israel antigo".

✔ Igreja sob Tutela: Israel era considerado uma "Igreja sob sua tutela". A Confissão de Fé de Westminster (Capítulo III, Seção IV) afirma que Deus deu a Israel "leis cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas", considerando-os uma Igreja sob sua orientação.

✔ Guardiões das Escrituras: As Escrituras do Antigo Testamento foram originalmente escritas em hebraico, a "língua original do antigo povo de Deus" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo I, Seção VIII). Além disso, "aos judeus foram confiados os oráculos de Deus", como citado na Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I, Seção III, com referência a Romanos 3:2; e Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 4).

✔ Origem da Salvação: A salvação teve sua origem nos judeus, como afirmado em João 4:22 e no Capítulo XXI, Seção V da Confissão de Fé de Westminster: “a salvação vem dos judeus”.

✔ Cristo como Rei de Israel: Cristo, como Redentor, exerce o ofício de Rei e é reconhecido como "o Rei de Israel!" conforme João 1:49, citado na Pergunta 23 do Breve Catecismo de Westminster.

2) A Transição e a Igreja como o Povo de Deus no Novo Testamento

Com a vinda de Cristo, houve uma mudança fundamental na relação de Deus com seu povo, culminando na universalização da Igreja.

✔ Abolição das Leis Cerimoniais e Judiciais: As leis cerimoniais e judiciais dadas a Israel foram "todas abolidas sob o Novo Testamento" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XIX, Seção III), e as leis judiciais "deixaram de vigorar quando o país daquele povo também deixou de existir" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XIX, Seção IV). Isso indica uma mudança na forma de relacionamento de Deus com seu povo e o cumprimento do propósito nacional de Israel em sua forma anterior.

✔ Pacto da Graça Universal: O pacto da graça, base da relação de Deus com seu povo, é feito "com Cristo, como o segundo Adão; e, nele, com todos os eleitos, como sua semente" (pergunta 31 do Catecismo Maior de Westminster). Este pacto é uma continuidade da promessa feita a Abraão, visando que a "bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo VII, Seção VI e pergunta 34 do Catecismo Maior de Westminster, também Gálatas 3:14). A justificação de Deus é "mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção" entre judeus e gentios (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo VII, Seção VI; pergunta 70 do Catecismo Maior de Westminster e pergunta 35 do Catecismo Maior de Westminster).

✔ Natureza Universal da Igreja: A Igreja visível não está mais restrita a uma nação. Sob o Evangelho, a graça e a salvação são manifestadas "em maior plenitude, evidência e eficácia a todas as nações" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo VII, Seção VI; Catecismo Maior de Westminster, pergunta 35). Jesus ordenou que se fizessem discípulos de "todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". A pregação do arrependimento para a remissão de pecados deve ser feita "a todas as nações, começando de Jerusalém".

✔ Terminologia Aplicada à Igreja: A Igreja é descrita com termos que antes se aplicavam a Israel, como "raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus" (1 Pedro 2:9), mostrando que os crentes, tanto judeus quanto gentios, agora formam o povo de Deus. A Igreja visível, sob o Evangelho, "não sendo restrita a uma nação, como antes, sob a Lei", agora é "católica ou universal", composta por "todos aqueles que, pelo mundo inteiro, professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos" (Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXV, Seção II; Catecismo Maior de Westminster, pergunta 62).

✔ Batismo como Sinal da Nova Aliança: O Batismo, como sinal e selo da aliança, é aplicado não apenas aos que professam fé, mas também aos "filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja)" (Confissão de Fé de Westminster Capítulo XXVIII, Seção IV). Isso é análogo à circuncisão no Antigo Testamento (Confissão de Fé de Westminster Capítulo XXVIII, Seção I; Catecismo Maior de Westminster pergunta 165; Breve Catecismo de Westminster pergunta 94), que era o "selo da justiça da fé" para Abraão, tornando-o "o pai de todos os que creem", independentemente de serem circuncidados ou não. Isso reitera a inclusão de todos os crentes e seus descendentes na aliança.

✔ Essa continuidade demonstra a inclusão de todos os crentes e seus descendentes na aliança, uma vez que o pacto da graça, sob o evangelho, manifesta-se "com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual a todas as nações – tanto aos judeus como aos gentios" (Confissão de Fé de Westminster Capítulo VII, Seção VI; Catecismo Maior de Westminster pergunta 35). A justificação de Deus é "mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção" entre judeus e gentios (Rm 3.22; Confissão de Fé Capítulo VII, Seção VI). De fato, a justificação dos crentes, tanto sob o Antigo Testamento quanto sob o Novo Testamento, é, em todos os aspectos, "uma e a mesma" (Confissão de Fé Capítulo XI, Seção VI).

✔ Inclusão de Judeus na Igreja Universal: As orações na Oração Dominical incluem o pedido para que o evangelho seja propagado por todo o mundo, os "judeus, chamados, e que a plenitude dos gentios seja trazida à Igreja" (Catecismo Maior de Westminster, pergunta 191). Isso indica que o plano de Deus para Israel, como povo, é que eles sejam chamados e integrados na mesma Igreja que inclui os gentios. A Igreja invisível é definida como "o número completo dos eleitos que foram e que serão reunidos em um corpo sob Cristo, o Cabeça" (Catecismo Maior de Westminster, pergunta 64), reforçando a ideia de uma unidade futura do povo de Deus sob Cristo.

Portanto...

Os Símbolos de Fé de Westminster não defendem que a nação de Israel ainda possua um propósito específico, à parte da Igreja, no sentido de uma missão ou função nacionalmente distinta. Pelo contrário, eles indicam que o propósito de Deus é que os judeus, assim como os gentios, sejam chamados eficazmente e se unam à Igreja de Cristo, formando um único "povo de Deus" universal (Confissão de Fé de Westminster Capítulo XXV, Seção II; Catecismo Maior de Westminster pergunta 191).

Os Símbolos de Westminster afirmam que Israel foi a nação escolhida por Deus para revelar sua lei e salvação, sendo o "antigo povo de Deus". No entanto, com a Nova Aliança em Jesus Cristo, o conceito de "povo de Deus" universalizou-se e expandiu-se para incluir crentes de todas as nações, formando a Igreja. Essa expansão não anula a eleição histórica de Israel, mas demonstra a plenitude do plano de Deus para justificar e chamar a si pessoas de toda a humanidade "mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem".

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