20 setembro 2025

Os Elementos do Culto a Deus

Estudo bíblico proferido na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XXI. Do Culto Religioso e Do Domingo 

Seção V. A leitura das Escrituras, com santo temor; a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência; o cântico de salmos, com gratidão no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo – são partes do culto comum oferecido a Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso.


O culto religioso representa uma manifestação primordial da fé e devoção do ser humano a Deus. Longe de ser um conjunto de ritos vazios, o culto é uma expressão sincera de reverência, fé e obediência, que engloba diversos elementos essenciais. Em conformidade com a Confissão de Fé de Westminster e com o vasto embasamento em textos bíblicos, o culto comum a Deus não se restringe a um único ato, mas compreende uma série de elementos divinamente instituídos. Seu propósito primordial é glorificar a Deus e edificar o crente, destacando sua natureza espiritual. A verdadeira adoração, assim, deve ser bíblica, centrada em Deus, mediada por Cristo, cheia do Espírito e regida pela Palavra.

Este estudo irá explorar os elementos essenciais do culto a Deus, destacando a centralidade da Palavra, o cântico de salmos e hinos, a administração dos sacramentos e elementos ocasionais como juramentos, votos, jejuns e ações de graça. Desejamos aprofundar-nos no significado de um culto que agrada verdadeiramente a Deus, conforme as Escrituras e a tradição reformada.
 
[OBS: a oração é um elemento de culto e foi abordado no estudo sobre O Culto ao Deus Triuno e a Oração]

1. A Palavra de Deus como Elemento Central do Culto

A Palavra de Deus, encontrada nas páginas das Escrituras do Antigo e Novo Testamento, é a única regra para nos dirigir na maneira de glorificar a Deus e nos alegrar nele. Ela é a fonte primária e única de autoridade e conhecimento teológico, indispensável para a fé e a prática cristã, sendo o fundamento para todas as noções teológicas.

Leitura das Escrituras com santo temor. A leitura das Escrituras com santo temor é um dos elementos divinamente prescritos do culto a Deus. Esta prática possui raízes profundas no Antigo Testamento e na sinagoga judaica, onde uma porção da Escritura era lida a cada sábado (Atos 15:21). A igreja primitiva continuou essa prática, e a própria Bíblia promete uma bênção àqueles que leem, ouvem e guardam as palavras da profecia (Apocalipse 1:3). A leitura pública da Palavra de Deus é crucial para a orientação e edificação do crente, visto que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, a repreensão, a correção e a educação na justiça (2 Timóteo 3:16). Ela pode tornar o homem sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2 Timóteo 3:15). É fundamental que essa leitura seja feita com entendimento, fé e reverência, submetendo o coração e a mente ao senhorio de Cristo.

Sã pregação da Palavra. A sã pregação da Palavra é um elemento ordinário e de suma importância no culto comum a Deus, considerada o meio mais importante da graça e indispensável para a fé em Cristo. A pregação é a proclamação autorizada do evangelho, que é a totalidade da Palavra de Deus revelada nas Escrituras. Ela não apenas comunica, mas também ensina, admoesta, conforta e refuta erros com base nas Escrituras (2 Timóteo 4:2). A eficácia salvífica da Palavra não reside tão somente nela mesma, mas também na operação do Espírito Santo, que a torna viva e eficaz. Os ministros são chamados e ordenados por Deus para este serviço, e a igreja é responsável por preservar, traduzir, interpretar e proclamar a Palavra de Deus a todos. A pregação expositiva sistemática, que percorre livros inteiros da Bíblia, é essencial para que o povo ouça a Palavra de Deus que transforma vidas.

Consciente atenção à Palavra, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência. A atenção consciente à Palavra é uma parte essencial do culto, exigindo diligência e concentração ao ouvir a pregação e o ensino (Atos 10:33; Mateus 13:19; Hebreus 4:2; Isaías 66:2). Receber a Palavra implica fé e amor: fé no assentimento à sua autoridade divina e amor por ela, desejando integrá-la na vida. Não se trata apenas de ouvir, mas de ser praticante da Palavra, e não enganar a si mesmo (Tiago 1:22). Ouvir a Palavra de Deus é, em essência, ouvir a Cristo (Lucas 10:16). É necessário preparar o coração, e o Espírito Santo ilumina a mente para a compreensão e obediência. A fé salvífica é um conhecimento prático do coração, uma apropriação pessoal do evangelho. A obediência à lei de Deus deve ser vista como um prazer para os cristãos (Salmo 1:2; 119:16,24,97).

2. O cântico de Salmos com gratidão no coração

O cântico de salmos com gratidão no coração é outra parte do culto comum oferecido a Deus (Tiago 5:13). A Bíblia nos exorta a falar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em nossos corações (Efésios 5:19). Esses cânticos incluem a instrução e admoestação recíproca (Colossenses 3:16), sendo expressões de louvor e adoração. Os Salmos, em particular, são composições poéticas que revelam a multiforme graça de Deus e abrangem uma variedade de temas da experiência humana. A prática de cantar salmos, hinos e cânticos espirituais possui um caráter ético-religioso, fundamentada na revelação de Deus. O próprio Deus se deleita em seu povo com cânticos (Sofonias 3:17).

3. A devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo

Os sacramentos são santos sinais e selos da aliança da graça, instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios. Eles confirmam o interesse do crente Nele, distinguem visualmente os membros da Igreja do resto do mundo e os obrigam solenemente ao serviço de Deus. São "palavras visíveis" de amor de Deus, eficazmente selando as promessas da aliança no coração dos crentes que os recebem pela fé.

Natureza e número dos sacramentos. A eficácia dos sacramentos não reside neles mesmos, nem na piedade ou intenção do administrador, mas unicamente na obra do Espírito Santo e na bênção de Cristo que os instituiu. No Evangelho, há apenas dois sacramentos ordenados por Cristo: o Batismo e a Ceia do Senhor (Mateus 28:19; 1 Coríntios 11:23-29; Atos 2:42). A teologia reformada considera infundada a multiplicação de sacramentos observada por outras tradições.

Administração e recepção dos sacramentos. Os sacramentos devem ser administrados por ministros da Palavra legalmente ordenados. Na Ceia do Senhor, os elementos são pão e vinho, e ambos devem ser igualmente recebidos por todos os membros da Igreja. A devida administração envolve a palavra de instituição, oração e bênção, consagrando os elementos para um uso sagrado. A recepção deve ser digna (1 Coríntios 11:23-29), o que implica fé. Aqueles que os recebem indignamente atraem juízo sobre si mesmos. Os sacramentos são meios de graça para os crentes, fortalecendo e confirmando a fé, nutrindo espiritualmente e aumentando a certeza da salvação. Eles não são para converter pecadores, mas para edificar os que já creem, e a graça é recebida pela fé, e não por um ritual mecânico (ex opere operato).

Sacramentos do Antigo e do Novo Testamento. Os sacramentos do Antigo Testamento, como a circuncisão e a páscoa, eram em substância os mesmos que os do Novo Testamento em relação às coisas espirituais que significavam, sendo sinais e selos da mesma aliança da graça (Romanos 4:11). Embora as formas fossem diferentes (o Antigo Testamento tinha um aspecto nacional e apontava para o futuro sacrifício de Cristo, enquanto o Novo aponta para o sacrifício já consumado), a essência espiritual era a mesma.

4. Elementos ocasionais de culto

Além dos elementos ordinários do culto, a Confissão de Fé de Westminster menciona elementos ocasionais, que são apropriados em certas ocasiões e devem ser usados de um modo santo e religioso (Hebreus 12:28).

Juramentos religiosos. Um juramento é um ato de culto, um chamado a Deus para julgar quem o pronuncia, caso não tenha falado a verdade. Devem ser feitos somente em nome de Deus (Deuteronômio 6:13; Neemias 10:29), pois nenhuma criatura pode ser a testemunha suprema da verdade. É proibido jurar falsamente ou em vão (Êxodo 20:7; Jeremias 5:7; Mateus 5:34, 37; Tiago 5:12).

Votos. Um voto é uma promessa solene feita a Deus, que pode expressar gratidão por um favor concedido ou por uma bênção desejada. Assim como os juramentos, os votos devem ser feitos somente a Deus (Salmo 76:11; Isaías 19:21; Eclesiastes 5:4-5). É crucial que não prometam algo proibido pela Palavra de Deus, e votos insensatos são condenados.

Jejuns solenes. Jejuns solenes são um elemento ocasional do culto, frequentemente acompanhados de oração. A Escritura ensina que o jejum não é aceitável a Deus quando surge de uma regulação mecânica, mas deve ser motivado pela busca a Deus em momentos de necessidade, como exemplificado em Joel 2:12, Ester 4:16, Mateus 9:15 e 1 Coríntios 7:5.

Ações de graça em ocasiões especiais. As ações de graça em ocasiões especiais também são um componente ocasional do culto a Deus. Elas representam expressões de gratidão a Deus por Suas bênçãos e livramentos, como visto em Salmos 107 e Ester 9:22. A gratidão e o louvor são considerados sacrifícios aceitáveis a Deus (Hebreus 13:15).

5. Princípios orientadores da adoração

A adoração aceitável a Deus é regida pelo Princípio Regulador do Culto, que afirma que só podemos adorar de acordo com o que Deus revelou em Sua Palavra. Este princípio protege contra as imaginações e invenções humanas, bem como contra a introdução de cerimônias suntuosas e luxuosas ou símbolos não prescritos.

Além disso, o culto deve ser centrado em Deus, não no homem. Deve ser dialógico, com Deus falando através de Sua Palavra (leitura, pregação, sacramentos, bênçãos) e o povo respondendo em cânticos, orações e ofertas. A adoração também deve ser simples, sem as complexidades da antiga aliança, que encontrou seu cumprimento em Cristo. Acima de tudo, Deus deseja o coração do adorador, com sinceridade, devoção e uma vida santa.
 
Conclusão

O culto solene oferecido a Deus, conforme ensinado pelas Escrituras e sistematizado na Confissão de Fé de Westminster, é mais do que um mero ritual, sendo uma interação viva e espiritual com o Deus Triúno. Ele se manifesta através dos elementos divinamente instituídos, que moldam a mente, o coração e as mãos do crente para uma vida de fidelidade e gratidão. A essência de toda essa adoração reside na reverência e no santo temor a Deus, reconhecendo Sua soberania e buscando Sua glória em obediência à Sua Palavra.

O Culto ao Deus Triuno e a Oração

Estudo proferido EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE. 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XXI. Do Culto Religioso e Do Domingo 

Seção II. O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve, depois da queda, ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente a de Cristo.

Seção III. A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos presentes.

Seção IV. A oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.


Vamos nos aprofundar na compreensão da natureza, do objeto e dos requisitos do culto religioso, com um foco especial na oração, conforme revelado pelas Escrituras e interpretado pelos parágrafos da CFW. O culto religioso é apresentado como a atividade mais nobre e importante do ser humano, sendo a expressão mais elevada do serviço que a criatura deve prestar a Deus. A verdadeira adoração é fundamental tanto para a vida da igreja na terra quanto para a vida celestial.

1. O Objeto do Culto Religioso: Deus Triúno e a Exclusividade Divina 

O centro do culto cristão reside em seu objeto exclusivo: Deus. As Escrituras e a Confissão de Fé de Westminster (CFW) afirmam categoricamente que o culto religioso deve ser prestado a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e somente a Ele. Esta exigência deriva diretamente da própria natureza de Deus e é um ditame da natureza humana, embora a Bíblia seja essencial para nos instruir sobre como adorá-Lo.

A. A adoração ao Deus Triúno. A doutrina da Trindade é de importância central para a fé cristã, sendo o núcleo e a raiz de todas as doutrinas. A obra da regeneração ou novo nascimento no homem é totalmente trinitária, manifestada pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pela comunhão do Espírito Santo. É em Seu nome que somos batizados, e a Ele sempre daremos graças e honra.

  1. Adoração ao Pai: O culto é dirigido ao Pai, a quem Jesus nos ensinou a invocar (Mateus 6.9-13).
  2. Adoração ao Filho, Jesus Cristo: Jesus Cristo deve ser honrado igualmente com o Pai, como atesta João 5.23. A adoração a Ele não é meramente um respeito reverente, mas a mesma adoração que foi recusada por apóstolos (Atos 14.13-15) e anjos (Apocalipse 19.10; 22.9) por serem meros homens ou criaturas. As Escrituras confirmam a divindade de Cristo não apenas em Seu caráter de Logos e Filho de Deus, mas também como Deus-homem e Mediador (Salmos 2.11,12; 97.7; Hebreus 1.6; Mateus 2.2,11; 8.2; 9.18; 14.33; 15.25; 28.9,17; Lucas 24.52; João 2.23; 9.38; Atos 7.59,60). Sua obra mediadora de redenção é a mais excelente das bênçãos, impelindo-nos a adorá-Lo como nosso Redentor.
  3. Adoração ao Espírito Santo: O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade, da mesma substância e igual em poder e glória ao Pai e ao Filho. Ele deve ser crido, amado, obedecido e adorado juntamente com eles (Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.13; João 15.26; João 16.13-14; João 17.24; João 16.14). A totalidade da igreja cristã, desde o Credo Niceno de 381 d.C., concordou que a adoração ao Espírito Santo é apropriada. Sua associação com o Pai e o Filho no batismo (Mateus 28.19) demonstra Sua personalidade e Seu direito à adoração.

B. Exclusividade do culto a Deus e proibição de culto a criaturas. O cristianismo reformado ensina que unicamente Deus deve ser adorado e invocado. É expressamente proibido prestar culto "nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura" (Colossenses 2.18; Apocalipse 19.10; Romanos 1.25). Deus é um Ser zeloso, e Ele é adorado como Ele quer ser, ou não é adorado de modo algum. Atribuir significado espiritual a algo que as Escrituras não fazem é a essência da idolatria.

Em contraste, a Igreja de Roma, por exemplo, ensina que a Virgem Maria, outros santos e até anjos devem receber algum grau de culto religioso, ser invocados para auxílio e podem interceder. Imagens e relíquias de santos e mártires também são adorados. Contudo, essas distinções de culto (como latria, dulia, hiperdulia) são consideradas de pouca utilidade, pois qualquer homenagem que envolva a imputação de atributos divinos a uma criatura é idolátrica.

Existem argumentos sólidos contra a invocação de santos e anjos:

  • Atributos Divinos: A invocação pressupõe conhecimento, poder e vontade no invocado, atributos que pertencem unicamente a Deus, o único sondador dos corações, onisciente e onipotente (1 Reis 8.39; 2 Crônicas 6.30; Apocalipse 2.23; Jeremias 17.10). As Escrituras demonstram que esses atributos não pertencem às criaturas e frequentemente atribuem aos santos ignorância das atividades da terra (Isaías 63.16; Eclesiastes 9.6; 2 Reis 22.20).
  • Servos de Deus: Anjos e santos, como João, recusaram a adoração, afirmando serem conservos de Deus (Apocalipse 19.10).
  • Não instituído por Deus: A invocação de Deus é imposta em toda parte nas Escrituras, mas em parte alguma se faz menção da invocação de criaturas. Tudo o que não provém da fé é pecado (Romanos 14.23), e um culto não instituído por Deus só pode ser corrupto.
  • Prática da Igreja Primitiva: A invocação de santos era desconhecida da igreja apostólica e das primeiras épocas do Cristianismo. Pais da igreja como Justino Mártir, Irineu, Tertuliano e Atanásio afirmavam que somente Deus deve ser adorado.

C. A mediação exclusiva de Cristo. Após a queda, o culto a Deus não deve ser prestado por meio de qualquer outro, senão unicamente pela mediação de Cristo (João 14.6; 1 Timóteo 2.5; Efésios 2.18; Colossenses 3.17). Cristo é o único Mediador e Cabeça da Igreja. Sua obra mediadora aplica e comunica a redenção, intercedendo por Seu povo e revelando os mistérios da salvação pela Palavra e pelo Espírito (Salmos 2.11,12; Hebreus 1.6; Mateus 2.2,11; João 5.22,23; Filipenses 2.7-11; Apocalipse 5.12). Jesus abriu o caminho para que os pecadores se aproximassem do Pai santíssimo (João 14.6), atuando como nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 4.14; 7.26-28). Assim, os homens têm livre acesso a Deus através de Cristo, sem necessidade da intervenção de sacerdotes humanos para assegurar este acesso ou a comunicação de benefícios.

D. A natureza da verdadeira adoração e seus elementos. A verdadeira adoração é sempre uma resposta à Palavra de Deus. Para adorar a Deus, Ele precisa falar conosco primeiro, e Sua Palavra guia, enriquece, define, dirige e inspira nossa adoração. Sem conhecimento da Palavra, adoramos um "fantasma ou ídolo".

A adoração verdadeira deve ser "em espírito e em verdade" (João 4.23-24). Isso significa que a adoração é uma resposta profunda e interna do homem (espírito ou coração) que é capacitada pelo Espírito Santo, e realizada com a mente, com integridade em relação à fidelidade para com a revelação de Deus. O Espírito Santo é o único que nos capacita a oferecer um culto verdadeiro (João 4.24; Filipenses 3.3).

O culto bíblico deve ser centrado em Deus, e não no homem. Seu objetivo é glorificar a Deus, não buscar a satisfação de nossas próprias necessidades ou benefícios egoístas. Fazer de qualquer outra coisa que não Deus o centro do culto é, em suma, idolatria. O culto é também uma expressão de obediência à aliança que Deus firmou conosco.

Deus providenciou instruções inequívocas sobre como Seu povo deve e não deve adorá-Lo. O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é aquele que Ele mesmo instituiu e que se encontra expresso nas Escrituras. Qualquer coisa que não seja ordenada explicitamente ou deduzida logicamente da Palavra de Deus é proibida; não basta que algo não seja proibido, é necessário que seja ordenado por Deus. A adoração inventada pela razão humana é rejeitada por Deus, pois Ele proíbe qualquer culto não autorizado em Sua Palavra (Marcos 7.7; Mateus 15.9; Isaías 29.13).

Um culto que agrada a Deus é aquele que Ele pede, condizente com Suas ordenanças, centrado n'Ele, que fala com Ele, feito de forma simples e objetiva, com alegria, para glorificá-Lo. Os elementos regulares do culto na igreja apostólica incluíam:

  • Leitura da Palavra: A leitura pública da Escritura é fundamental, sendo a Palavra de Deus viva e ativa (Hebreus 4.12) e uma ferramenta do Espírito Santo para trazer vida e nutrição espiritual.
  • Pregação da Palavra: A sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela são partes essenciais do culto. O sermão, que explica um texto ou interconecta vários para uma aplicação coerente, é o centro do culto. A Palavra de Deus pregada é o poder de Deus para a salvação (Romanos 10.17).
  • Cânticos: O cântico de Salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão no coração faz parte do culto (Colossenses 3.16; Efésios 5.19). Os cânticos devem ser modelados pelos Salmos bíblicos, ricos em conteúdo teológico e experimental, e devem ensinar sobre Deus e Seus caminhos.
  • Sacramentos: A devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo (Batismo e Ceia do Senhor) são partes do culto, sendo selos do pacto da graça.
  • Confissão de Pecados: A confissão corporativa de pecados é uma prática tradicional em muitas liturgias reformadas.
  • Credos e Confissões: A recitação de credos e confissões em uníssono pode produzir unidade doutrinária e identificar o povo de Deus.

No culto, é exigida reverência perante Deus (Hebreus 12.28-29; Eclesiastes 5.1), com temor diante do grande nome de Deus. O culto deve ser feito com inteligência, concentração e reflexão, sendo crucial que o coração esteja preparado e sincero, pois a hipocrisia e a falsidade são incompatíveis com a verdadeira adoração.

2. A Natureza e os Requisitos da Oração

A oração, com ações de graça, é uma parte especial e fundamental do culto religioso (Filipenses 4.6). É o meio pelo qual nos comunicamos com Deus. Deus a exige de todos os homens (Salmos 65.2), sendo uma ordenança importante que santifica todas as coisas para nós (1 Timóteo 4.5).

A. Condições para que uma oração seja aceita. Para que a oração seja aceita por Deus, ela deve ser feita conforme critérios específicos:

Em nome do Filho: Deve ser feita "em nome do Filho" (João 14.13-14; 1 Pedro 2.5). Isso significa que, embora dirigida ao Pai, sua aceitabilidade e eficácia dependem do relacionamento do crente com Cristo, que santifica as orações imperfeitas e as torna agradáveis a Deus. A oração é uma resposta crente à Palavra de Deus (Mateus 21.22; João 15.7).

Pelo auxílio do Espírito: Deve ser feita "pelo auxílio de seu Espírito" (Romanos 8.26). O Espírito Santo socorre as nossas fraquezas e intercede por nós com gemidos inexprimíveis, guiando-nos em nossas petições. Ele é o autor e princípio das orações, incitando-as no coração dos crentes. O cristão, sem o Espírito, não consegue orar, nem acertar os alvos de Deus, pois o desejo de orar, a assistência e o controle da oração vêm do Espírito Santo.

Segundo a vontade de Deus: Deve estar "segundo a sua vontade" (1 João 5.14). Isso implica que nossas petições devem refletir a vontade revelada de Deus em Sua Palavra.

Qualidades internas: A oração deve ser feita "com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança" (Salmos 47.7; Eclesiastes 5.1-2; Hebreus 12.28; Gênesis 18.27; Tiago 5.16; Tiago 1.6-7; Marcos 11.24; Mateus 6.12,14-15; Efésios 6.18).

  • Inteligência e reverência: É um serviço racional, no qual a ignorância é incompatível, exigindo conhecimento adequado de Deus (1 Coríntios 14.15). A oração não deve ser um mero serviço labial (Isaías 29.13; Ezequiel 33.31; Mateus 15.8) ou vãs repetições (Mateus 6.7). É preciso vir à presença de Deus com muito temor e reverência.
  • Humildade: Exige um reconhecimento de nossa dependência e insuficiência, abandonando todo pensamento de glória pessoal e auto segurança, rendendo glória ao Senhor em nosso estado de profunda humildade.
  • Fervor, fé, amor e perseverança: A oração exige muito fervor, zelo e constância. A fé é fundamental para a oração aceitável (Tiago 1.6-7; Marcos 11.24), sendo despertada pela mensagem da Palavra de Cristo (Romanos 10.17). Deve-se orar com sinceridade de coração e sem hipocrisia (Salmos 145.18; 29.13). O amor e a perseverança completam essa atitude espiritual.

Língua conhecida: Se a oração for vocal, deve ser proferida "em uma língua conhecida dos presentes" (1 Coríntios 14.14). Isso garante que a oração seja para a edificação e instrução de todos, em contraste com o uso de línguas estranhas que não edificam, permitindo que a igreja acompanhe e expresse sua concordância dizendo "amém".

B. Sujeitos legítimos e ilegítimos da oração. A oração deve ser feita por coisas lícitas (1 João 5.14).

Oração por coisas lícitas e pessoas vivas: Deve ser feita "por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro" (1 Timóteo 2.1-2; João 17.20; 2 Samuel 7.29; Rute 4.12). Isso inclui orar por reis e todos os que estão em autoridade, para que vivamos uma vida tranquila e pacífica (1 Timóteo 2.1-2), bem como por ministros da igreja (Romanos 15.30; 1 Tessalonicenses 5.25). Isso abrange intercessões pelos necessitados e pela propagação do evangelho.

Proibição de orar pelos mortos e pelo pecado para a morte:

  • Não em favor dos mortos: A oração não deve ser feita "em favor dos mortos" (2 Samuel 12.21-23; Lucas 16.25-26; Apocalipse 14.13). As Escrituras não oferecem base para a ideia de purificação pós-morte, como o purgatório, ou para uma segunda chance de responder ao evangelho após a morte. Orar pelos mortos enfraquece a confiança na suficiência do sacrifício de Cristo e em Sua intercessão eficaz.
  • Não em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte: Não deve ser feita "em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte" (1 João 5.16). Este "pecado para a morte" é um conceito grave, embora não se especifique quando alguém o cometeu. A Escritura, especialmente no Novo Testamento, discute a blasfêmia contra o Espírito Santo como um pecado de grande culpabilidade e castigo, que apóstolos e profetas infalíveis não ousariam silenciar. No entanto, os cristãos são incentivados a orar pelos seus semelhantes mesmo quando tiverem caído em pecado.

Conclusão

Com o coração grato, reconhecemos o culto religioso como a mais nobre das atividades humanas, um privilégio exclusivo e inteiramente dedicado a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Rejeitamos veementemente a adoração a anjos, santos ou qualquer outra criatura, pois somente o Deus zeloso é digno de nossa total devoção.

Após a Queda, nossa única e abençoada aproximação a Deus se dá pela mediação singular e perfeita de Jesus Cristo, nosso amado e único Mediador. Nossa adoração deve ser sempre "em espírito e em verdade", uma resposta genuína do coração, capacitada pelo Espírito Santo e fielmente guiada pela Santa Palavra. Isso se manifesta na leitura e pregação da Palavra, em cânticos espirituais e na digna recepção dos sacramentos.

A oração, parte essencial do culto, deve ser oferecida em nome do Filho amado, com o auxílio do Espírito Santo e em conformidade com a vontade divina. Ela deve ser permeada de inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança, abrangendo tudo o que é lícito e todas as classes de pessoas. Contudo, jamais deve se estender aos mortos ou àqueles que cometeram o pecado para a morte, pois em Deus, o Deus Triúno, reside toda a nossa esperança e o nosso mais sublime louvor.