ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo XXI. Do Culto Religioso e Do Domingo
O culto religioso representa uma manifestação primordial da fé e devoção do ser humano a Deus. Longe de ser um conjunto de ritos vazios, o culto é uma expressão sincera de reverência, fé e obediência, que engloba diversos elementos essenciais. Em conformidade com a Confissão de Fé de Westminster e com o vasto embasamento em textos bíblicos, o culto comum a Deus não se restringe a um único ato, mas compreende uma série de elementos divinamente instituídos. Seu propósito primordial é glorificar a Deus e edificar o crente, destacando sua natureza espiritual. A verdadeira adoração, assim, deve ser bíblica, centrada em Deus, mediada por Cristo, cheia do Espírito e regida pela Palavra.
Este estudo irá explorar os elementos essenciais do culto a Deus, destacando a centralidade da Palavra, o cântico de salmos e hinos, a administração dos sacramentos e elementos ocasionais como juramentos, votos, jejuns e ações de graça. Desejamos aprofundar-nos no significado de um culto que agrada verdadeiramente a Deus, conforme as Escrituras e a tradição reformada.
1. A Palavra de Deus como Elemento Central do Culto
A Palavra de Deus, encontrada nas páginas das Escrituras do Antigo e Novo Testamento, é a única regra para nos dirigir na maneira de glorificar a Deus e nos alegrar nele. Ela é a fonte primária e única de autoridade e conhecimento teológico, indispensável para a fé e a prática cristã, sendo o fundamento para todas as noções teológicas.
Leitura das Escrituras com santo temor. A leitura das Escrituras com santo temor é um dos elementos divinamente prescritos do culto a Deus. Esta prática possui raízes profundas no Antigo Testamento e na sinagoga judaica, onde uma porção da Escritura era lida a cada sábado (Atos 15:21). A igreja primitiva continuou essa prática, e a própria Bíblia promete uma bênção àqueles que leem, ouvem e guardam as palavras da profecia (Apocalipse 1:3). A leitura pública da Palavra de Deus é crucial para a orientação e edificação do crente, visto que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, a repreensão, a correção e a educação na justiça (2 Timóteo 3:16). Ela pode tornar o homem sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2 Timóteo 3:15). É fundamental que essa leitura seja feita com entendimento, fé e reverência, submetendo o coração e a mente ao senhorio de Cristo.
Sã pregação da Palavra. A sã pregação da Palavra é um elemento ordinário e de suma importância no culto comum a Deus, considerada o meio mais importante da graça e indispensável para a fé em Cristo. A pregação é a proclamação autorizada do evangelho, que é a totalidade da Palavra de Deus revelada nas Escrituras. Ela não apenas comunica, mas também ensina, admoesta, conforta e refuta erros com base nas Escrituras (2 Timóteo 4:2). A eficácia salvífica da Palavra não reside tão somente nela mesma, mas também na operação do Espírito Santo, que a torna viva e eficaz. Os ministros são chamados e ordenados por Deus para este serviço, e a igreja é responsável por preservar, traduzir, interpretar e proclamar a Palavra de Deus a todos. A pregação expositiva sistemática, que percorre livros inteiros da Bíblia, é essencial para que o povo ouça a Palavra de Deus que transforma vidas.
Consciente atenção à Palavra, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência. A atenção consciente à Palavra é uma parte essencial do culto, exigindo diligência e concentração ao ouvir a pregação e o ensino (Atos 10:33; Mateus 13:19; Hebreus 4:2; Isaías 66:2). Receber a Palavra implica fé e amor: fé no assentimento à sua autoridade divina e amor por ela, desejando integrá-la na vida. Não se trata apenas de ouvir, mas de ser praticante da Palavra, e não enganar a si mesmo (Tiago 1:22). Ouvir a Palavra de Deus é, em essência, ouvir a Cristo (Lucas 10:16). É necessário preparar o coração, e o Espírito Santo ilumina a mente para a compreensão e obediência. A fé salvífica é um conhecimento prático do coração, uma apropriação pessoal do evangelho. A obediência à lei de Deus deve ser vista como um prazer para os cristãos (Salmo 1:2; 119:16,24,97).
2. O cântico de Salmos com gratidão no coração
O cântico de salmos com gratidão no coração é outra parte do culto comum oferecido a Deus (Tiago 5:13). A Bíblia nos exorta a falar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em nossos corações (Efésios 5:19). Esses cânticos incluem a instrução e admoestação recíproca (Colossenses 3:16), sendo expressões de louvor e adoração. Os Salmos, em particular, são composições poéticas que revelam a multiforme graça de Deus e abrangem uma variedade de temas da experiência humana. A prática de cantar salmos, hinos e cânticos espirituais possui um caráter ético-religioso, fundamentada na revelação de Deus. O próprio Deus se deleita em seu povo com cânticos (Sofonias 3:17).
3. A devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo
Os sacramentos são santos sinais e selos da aliança da graça, instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios. Eles confirmam o interesse do crente Nele, distinguem visualmente os membros da Igreja do resto do mundo e os obrigam solenemente ao serviço de Deus. São "palavras visíveis" de amor de Deus, eficazmente selando as promessas da aliança no coração dos crentes que os recebem pela fé.
Natureza e número dos sacramentos. A eficácia dos sacramentos não reside neles mesmos, nem na piedade ou intenção do administrador, mas unicamente na obra do Espírito Santo e na bênção de Cristo que os instituiu. No Evangelho, há apenas dois sacramentos ordenados por Cristo: o Batismo e a Ceia do Senhor (Mateus 28:19; 1 Coríntios 11:23-29; Atos 2:42). A teologia reformada considera infundada a multiplicação de sacramentos observada por outras tradições.
Administração e recepção dos sacramentos. Os sacramentos devem ser administrados por ministros da Palavra legalmente ordenados. Na Ceia do Senhor, os elementos são pão e vinho, e ambos devem ser igualmente recebidos por todos os membros da Igreja. A devida administração envolve a palavra de instituição, oração e bênção, consagrando os elementos para um uso sagrado. A recepção deve ser digna (1 Coríntios 11:23-29), o que implica fé. Aqueles que os recebem indignamente atraem juízo sobre si mesmos. Os sacramentos são meios de graça para os crentes, fortalecendo e confirmando a fé, nutrindo espiritualmente e aumentando a certeza da salvação. Eles não são para converter pecadores, mas para edificar os que já creem, e a graça é recebida pela fé, e não por um ritual mecânico (ex opere operato).
Sacramentos do Antigo e do Novo Testamento. Os sacramentos do Antigo Testamento, como a circuncisão e a páscoa, eram em substância os mesmos que os do Novo Testamento em relação às coisas espirituais que significavam, sendo sinais e selos da mesma aliança da graça (Romanos 4:11). Embora as formas fossem diferentes (o Antigo Testamento tinha um aspecto nacional e apontava para o futuro sacrifício de Cristo, enquanto o Novo aponta para o sacrifício já consumado), a essência espiritual era a mesma.
4. Elementos ocasionais de culto
Além dos elementos ordinários do culto, a Confissão de Fé de Westminster menciona elementos ocasionais, que são apropriados em certas ocasiões e devem ser usados de um modo santo e religioso (Hebreus 12:28).
Juramentos religiosos. Um juramento é um ato de culto, um chamado a Deus para julgar quem o pronuncia, caso não tenha falado a verdade. Devem ser feitos somente em nome de Deus (Deuteronômio 6:13; Neemias 10:29), pois nenhuma criatura pode ser a testemunha suprema da verdade. É proibido jurar falsamente ou em vão (Êxodo 20:7; Jeremias 5:7; Mateus 5:34, 37; Tiago 5:12).
Votos. Um voto é uma promessa solene feita a Deus, que pode expressar gratidão por um favor concedido ou por uma bênção desejada. Assim como os juramentos, os votos devem ser feitos somente a Deus (Salmo 76:11; Isaías 19:21; Eclesiastes 5:4-5). É crucial que não prometam algo proibido pela Palavra de Deus, e votos insensatos são condenados.
Jejuns solenes. Jejuns solenes são um elemento ocasional do culto, frequentemente acompanhados de oração. A Escritura ensina que o jejum não é aceitável a Deus quando surge de uma regulação mecânica, mas deve ser motivado pela busca a Deus em momentos de necessidade, como exemplificado em Joel 2:12, Ester 4:16, Mateus 9:15 e 1 Coríntios 7:5.
Ações de graça em ocasiões especiais. As ações de graça em ocasiões especiais também são um componente ocasional do culto a Deus. Elas representam expressões de gratidão a Deus por Suas bênçãos e livramentos, como visto em Salmos 107 e Ester 9:22. A gratidão e o louvor são considerados sacrifícios aceitáveis a Deus (Hebreus 13:15).
5. Princípios orientadores da adoração
A adoração aceitável a Deus é regida pelo Princípio Regulador do Culto, que afirma que só podemos adorar de acordo com o que Deus revelou em Sua Palavra. Este princípio protege contra as imaginações e invenções humanas, bem como contra a introdução de cerimônias suntuosas e luxuosas ou símbolos não prescritos.
Além disso, o culto deve ser centrado em Deus, não no homem. Deve ser dialógico, com Deus falando através de Sua Palavra (leitura, pregação, sacramentos, bênçãos) e o povo respondendo em cânticos, orações e ofertas. A adoração também deve ser simples, sem as complexidades da antiga aliança, que encontrou seu cumprimento em Cristo. Acima de tudo, Deus deseja o coração do adorador, com sinceridade, devoção e uma vida santa.
O culto solene oferecido a Deus, conforme ensinado pelas Escrituras e sistematizado na Confissão de Fé de Westminster, é mais do que um mero ritual, sendo uma interação viva e espiritual com o Deus Triúno. Ele se manifesta através dos elementos divinamente instituídos, que moldam a mente, o coração e as mãos do crente para uma vida de fidelidade e gratidão. A essência de toda essa adoração reside na reverência e no santo temor a Deus, reconhecendo Sua soberania e buscando Sua glória em obediência à Sua Palavra.