Estudo proferido EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, em Recife/PE.
ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Capítulo XXI. Do Culto Religioso e Do Domingo
Seção II. O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve, depois da queda, ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente a de Cristo.
Seção III. A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos presentes.
Seção IV. A oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.
Vamos nos aprofundar na compreensão da natureza, do objeto e dos requisitos do culto religioso, com um foco especial na oração, conforme revelado pelas Escrituras e interpretado pelos parágrafos da CFW. O culto religioso é apresentado como a atividade mais nobre e importante do ser humano, sendo a expressão mais elevada do serviço que a criatura deve prestar a Deus. A verdadeira adoração é fundamental tanto para a vida da igreja na terra quanto para a vida celestial.
1. O Objeto do Culto Religioso: Deus Triúno e a Exclusividade Divina
O centro do culto cristão reside em seu objeto exclusivo: Deus. As Escrituras e a Confissão de Fé de Westminster (CFW) afirmam categoricamente que o culto religioso deve ser prestado a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e somente a Ele. Esta exigência deriva diretamente da própria natureza de Deus e é um ditame da natureza humana, embora a Bíblia seja essencial para nos instruir sobre como adorá-Lo.
A. A adoração ao Deus Triúno. A doutrina da Trindade é de importância central para a fé cristã, sendo o núcleo e a raiz de todas as doutrinas. A obra da regeneração ou novo nascimento no homem é totalmente trinitária, manifestada pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pela comunhão do Espírito Santo. É em Seu nome que somos batizados, e a Ele sempre daremos graças e honra.
- Adoração ao Pai: O culto é dirigido ao Pai, a quem Jesus nos ensinou a invocar (Mateus 6.9-13).
- Adoração ao Filho, Jesus Cristo: Jesus Cristo deve ser honrado igualmente com o Pai, como atesta João 5.23. A adoração a Ele não é meramente um respeito reverente, mas a mesma adoração que foi recusada por apóstolos (Atos 14.13-15) e anjos (Apocalipse 19.10; 22.9) por serem meros homens ou criaturas. As Escrituras confirmam a divindade de Cristo não apenas em Seu caráter de Logos e Filho de Deus, mas também como Deus-homem e Mediador (Salmos 2.11,12; 97.7; Hebreus 1.6; Mateus 2.2,11; 8.2; 9.18; 14.33; 15.25; 28.9,17; Lucas 24.52; João 2.23; 9.38; Atos 7.59,60). Sua obra mediadora de redenção é a mais excelente das bênçãos, impelindo-nos a adorá-Lo como nosso Redentor.
- Adoração ao Espírito Santo: O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade, da mesma substância e igual em poder e glória ao Pai e ao Filho. Ele deve ser crido, amado, obedecido e adorado juntamente com eles (Mateus 3.16-17; Mateus 28.19; 2 Coríntios 13.13; João 15.26; João 16.13-14; João 17.24; João 16.14). A totalidade da igreja cristã, desde o Credo Niceno de 381 d.C., concordou que a adoração ao Espírito Santo é apropriada. Sua associação com o Pai e o Filho no batismo (Mateus 28.19) demonstra Sua personalidade e Seu direito à adoração.
B. Exclusividade do culto a Deus e proibição de culto a criaturas. O cristianismo reformado ensina que unicamente Deus deve ser adorado e invocado. É expressamente proibido prestar culto "nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura" (Colossenses 2.18; Apocalipse 19.10; Romanos 1.25). Deus é um Ser zeloso, e Ele é adorado como Ele quer ser, ou não é adorado de modo algum. Atribuir significado espiritual a algo que as Escrituras não fazem é a essência da idolatria.
Em contraste, a Igreja de Roma, por exemplo, ensina que a Virgem Maria, outros santos e até anjos devem receber algum grau de culto religioso, ser invocados para auxílio e podem interceder. Imagens e relíquias de santos e mártires também são adorados. Contudo, essas distinções de culto (como latria, dulia, hiperdulia) são consideradas de pouca utilidade, pois qualquer homenagem que envolva a imputação de atributos divinos a uma criatura é idolátrica.
Existem argumentos sólidos contra a invocação de santos e anjos:
- Atributos Divinos: A invocação pressupõe conhecimento, poder e vontade no invocado, atributos que pertencem unicamente a Deus, o único sondador dos corações, onisciente e onipotente (1 Reis 8.39; 2 Crônicas 6.30; Apocalipse 2.23; Jeremias 17.10). As Escrituras demonstram que esses atributos não pertencem às criaturas e frequentemente atribuem aos santos ignorância das atividades da terra (Isaías 63.16; Eclesiastes 9.6; 2 Reis 22.20).
- Servos de Deus: Anjos e santos, como João, recusaram a adoração, afirmando serem conservos de Deus (Apocalipse 19.10).
- Não instituído por Deus: A invocação de Deus é imposta em toda parte nas Escrituras, mas em parte alguma se faz menção da invocação de criaturas. Tudo o que não provém da fé é pecado (Romanos 14.23), e um culto não instituído por Deus só pode ser corrupto.
- Prática da Igreja Primitiva: A invocação de santos era desconhecida da igreja apostólica e das primeiras épocas do Cristianismo. Pais da igreja como Justino Mártir, Irineu, Tertuliano e Atanásio afirmavam que somente Deus deve ser adorado.
C. A mediação exclusiva de Cristo. Após a queda, o culto a Deus não deve ser prestado por meio de qualquer outro, senão unicamente pela mediação de Cristo (João 14.6; 1 Timóteo 2.5; Efésios 2.18; Colossenses 3.17). Cristo é o único Mediador e Cabeça da Igreja. Sua obra mediadora aplica e comunica a redenção, intercedendo por Seu povo e revelando os mistérios da salvação pela Palavra e pelo Espírito (Salmos 2.11,12; Hebreus 1.6; Mateus 2.2,11; João 5.22,23; Filipenses 2.7-11; Apocalipse 5.12). Jesus abriu o caminho para que os pecadores se aproximassem do Pai santíssimo (João 14.6), atuando como nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 4.14; 7.26-28). Assim, os homens têm livre acesso a Deus através de Cristo, sem necessidade da intervenção de sacerdotes humanos para assegurar este acesso ou a comunicação de benefícios.
D. A natureza da verdadeira adoração e seus elementos. A verdadeira adoração é sempre uma resposta à Palavra de Deus. Para adorar a Deus, Ele precisa falar conosco primeiro, e Sua Palavra guia, enriquece, define, dirige e inspira nossa adoração. Sem conhecimento da Palavra, adoramos um "fantasma ou ídolo".
A adoração verdadeira deve ser "em espírito e em verdade" (João 4.23-24). Isso significa que a adoração é uma resposta profunda e interna do homem (espírito ou coração) que é capacitada pelo Espírito Santo, e realizada com a mente, com integridade em relação à fidelidade para com a revelação de Deus. O Espírito Santo é o único que nos capacita a oferecer um culto verdadeiro (João 4.24; Filipenses 3.3).
O culto bíblico deve ser centrado em Deus, e não no homem. Seu objetivo é glorificar a Deus, não buscar a satisfação de nossas próprias necessidades ou benefícios egoístas. Fazer de qualquer outra coisa que não Deus o centro do culto é, em suma, idolatria. O culto é também uma expressão de obediência à aliança que Deus firmou conosco.
Deus providenciou instruções inequívocas sobre como Seu povo deve e não deve adorá-Lo. O modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é aquele que Ele mesmo instituiu e que se encontra expresso nas Escrituras. Qualquer coisa que não seja ordenada explicitamente ou deduzida logicamente da Palavra de Deus é proibida; não basta que algo não seja proibido, é necessário que seja ordenado por Deus. A adoração inventada pela razão humana é rejeitada por Deus, pois Ele proíbe qualquer culto não autorizado em Sua Palavra (Marcos 7.7; Mateus 15.9; Isaías 29.13).
Um culto que agrada a Deus é aquele que Ele pede, condizente com Suas ordenanças, centrado n'Ele, que fala com Ele, feito de forma simples e objetiva, com alegria, para glorificá-Lo. Os elementos regulares do culto na igreja apostólica incluíam:
- Leitura da Palavra: A leitura pública da Escritura é fundamental, sendo a Palavra de Deus viva e ativa (Hebreus 4.12) e uma ferramenta do Espírito Santo para trazer vida e nutrição espiritual.
- Pregação da Palavra: A sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela são partes essenciais do culto. O sermão, que explica um texto ou interconecta vários para uma aplicação coerente, é o centro do culto. A Palavra de Deus pregada é o poder de Deus para a salvação (Romanos 10.17).
- Cânticos: O cântico de Salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão no coração faz parte do culto (Colossenses 3.16; Efésios 5.19). Os cânticos devem ser modelados pelos Salmos bíblicos, ricos em conteúdo teológico e experimental, e devem ensinar sobre Deus e Seus caminhos.
- Sacramentos: A devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo (Batismo e Ceia do Senhor) são partes do culto, sendo selos do pacto da graça.
- Confissão de Pecados: A confissão corporativa de pecados é uma prática tradicional em muitas liturgias reformadas.
- Credos e Confissões: A recitação de credos e confissões em uníssono pode produzir unidade doutrinária e identificar o povo de Deus.
No culto, é exigida reverência perante Deus (Hebreus 12.28-29; Eclesiastes 5.1), com temor diante do grande nome de Deus. O culto deve ser feito com inteligência, concentração e reflexão, sendo crucial que o coração esteja preparado e sincero, pois a hipocrisia e a falsidade são incompatíveis com a verdadeira adoração.
2. A Natureza e os Requisitos da Oração
A oração, com ações de graça, é uma parte especial e fundamental do culto religioso (Filipenses 4.6). É o meio pelo qual nos comunicamos com Deus. Deus a exige de todos os homens (Salmos 65.2), sendo uma ordenança importante que santifica todas as coisas para nós (1 Timóteo 4.5).
A. Condições para que uma oração seja aceita. Para que a oração seja aceita por Deus, ela deve ser feita conforme critérios específicos:
Em nome do Filho: Deve ser feita "em nome do Filho" (João 14.13-14; 1 Pedro 2.5). Isso significa que, embora dirigida ao Pai, sua aceitabilidade e eficácia dependem do relacionamento do crente com Cristo, que santifica as orações imperfeitas e as torna agradáveis a Deus. A oração é uma resposta crente à Palavra de Deus (Mateus 21.22; João 15.7).
Pelo auxílio do Espírito: Deve ser feita "pelo auxílio de seu Espírito" (Romanos 8.26). O Espírito Santo socorre as nossas fraquezas e intercede por nós com gemidos inexprimíveis, guiando-nos em nossas petições. Ele é o autor e princípio das orações, incitando-as no coração dos crentes. O cristão, sem o Espírito, não consegue orar, nem acertar os alvos de Deus, pois o desejo de orar, a assistência e o controle da oração vêm do Espírito Santo.
Segundo a vontade de Deus: Deve estar "segundo a sua vontade" (1 João 5.14). Isso implica que nossas petições devem refletir a vontade revelada de Deus em Sua Palavra.
Qualidades internas: A oração deve ser feita "com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança" (Salmos 47.7; Eclesiastes 5.1-2; Hebreus 12.28; Gênesis 18.27; Tiago 5.16; Tiago 1.6-7; Marcos 11.24; Mateus 6.12,14-15; Efésios 6.18).
- Inteligência e reverência: É um serviço racional, no qual a ignorância é incompatível, exigindo conhecimento adequado de Deus (1 Coríntios 14.15). A oração não deve ser um mero serviço labial (Isaías 29.13; Ezequiel 33.31; Mateus 15.8) ou vãs repetições (Mateus 6.7). É preciso vir à presença de Deus com muito temor e reverência.
- Humildade: Exige um reconhecimento de nossa dependência e insuficiência, abandonando todo pensamento de glória pessoal e auto segurança, rendendo glória ao Senhor em nosso estado de profunda humildade.
- Fervor, fé, amor e perseverança: A oração exige muito fervor, zelo e constância. A fé é fundamental para a oração aceitável (Tiago 1.6-7; Marcos 11.24), sendo despertada pela mensagem da Palavra de Cristo (Romanos 10.17). Deve-se orar com sinceridade de coração e sem hipocrisia (Salmos 145.18; 29.13). O amor e a perseverança completam essa atitude espiritual.
Língua conhecida: Se a oração for vocal, deve ser proferida "em uma língua conhecida dos presentes" (1 Coríntios 14.14). Isso garante que a oração seja para a edificação e instrução de todos, em contraste com o uso de línguas estranhas que não edificam, permitindo que a igreja acompanhe e expresse sua concordância dizendo "amém".
B. Sujeitos legítimos e ilegítimos da oração. A oração deve ser feita por coisas lícitas (1 João 5.14).
Oração por coisas lícitas e pessoas vivas: Deve ser feita "por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro" (1 Timóteo 2.1-2; João 17.20; 2 Samuel 7.29; Rute 4.12). Isso inclui orar por reis e todos os que estão em autoridade, para que vivamos uma vida tranquila e pacífica (1 Timóteo 2.1-2), bem como por ministros da igreja (Romanos 15.30; 1 Tessalonicenses 5.25). Isso abrange intercessões pelos necessitados e pela propagação do evangelho.
Proibição de orar pelos mortos e pelo pecado para a morte:
- Não em favor dos mortos: A oração não deve ser feita "em favor dos mortos" (2 Samuel 12.21-23; Lucas 16.25-26; Apocalipse 14.13). As Escrituras não oferecem base para a ideia de purificação pós-morte, como o purgatório, ou para uma segunda chance de responder ao evangelho após a morte. Orar pelos mortos enfraquece a confiança na suficiência do sacrifício de Cristo e em Sua intercessão eficaz.
- Não em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte: Não deve ser feita "em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte" (1 João 5.16). Este "pecado para a morte" é um conceito grave, embora não se especifique quando alguém o cometeu. A Escritura, especialmente no Novo Testamento, discute a blasfêmia contra o Espírito Santo como um pecado de grande culpabilidade e castigo, que apóstolos e profetas infalíveis não ousariam silenciar. No entanto, os cristãos são incentivados a orar pelos seus semelhantes mesmo quando tiverem caído em pecado.
Conclusão
Com o coração grato, reconhecemos o culto religioso como a mais nobre das atividades humanas, um privilégio exclusivo e inteiramente dedicado a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Rejeitamos veementemente a adoração a anjos, santos ou qualquer outra criatura, pois somente o Deus zeloso é digno de nossa total devoção.
Após a Queda, nossa única e abençoada aproximação a Deus se dá pela mediação singular e perfeita de Jesus Cristo, nosso amado e único Mediador. Nossa adoração deve ser sempre "em espírito e em verdade", uma resposta genuína do coração, capacitada pelo Espírito Santo e fielmente guiada pela Santa Palavra. Isso se manifesta na leitura e pregação da Palavra, em cânticos espirituais e na digna recepção dos sacramentos.
A oração, parte essencial do culto, deve ser oferecida em nome do Filho amado, com o auxílio do Espírito Santo e em conformidade com a vontade divina. Ela deve ser permeada de inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança, abrangendo tudo o que é lícito e todas as classes de pessoas. Contudo, jamais deve se estender aos mortos ou àqueles que cometeram o pecado para a morte, pois em Deus, o Deus Triúno, reside toda a nossa esperança e o nosso mais sublime louvor.
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