Estudo ministrado na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE
Seção I. A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e é tão limitado pela sua própria vontade revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.
A adoração a Deus é a atividade mais fundamental e nobre da existência humana (Ap 4:10-11). Desde o início, o Criador desejou que Sua criação participasse de Sua alegria e manifestasse Sua glória, tornando a verdadeira adoração uma parte essencial da vida na terra e no céu (Jo 4:23-24). No entanto, para que essa adoração seja aceitável, ela deve ser direcionada ao Deus verdadeiro e imutável, exatamente como Ele se revelou e prescreveu (Êx 20:3-5), e não de acordo com nossas próprias ideias ou preferências. A compreensão da vontade de Deus para o culto é de extrema importância, pois a forma errada de adorar pode provocar a Sua ira, em vez de Sua bênção (Lv 10:1-2; Hb 12:28-29).
1. O Conhecimento de Deus: Revelação Natural e Sua Insuficiência
A existência e alguns atributos de Deus podem ser conhecidos por meio da "luz da natureza", ou seja, através da criação e da providência Divina (Sl 19:1-4). Observando a natureza, podemos perceber que existe um Deus com domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos (At 14:17; Mt 5:45). Seus atributos invisíveis, como Seu poder eterno e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, o que torna os seres humanos indesculpáveis por sua impiedade (Rm 1:19-20). A ordem do universo, por exemplo, é uma prova da inteligência suprema de Deus (Jó 12:7-9; Is 40:26).
Diante dessa manifestação de Deus na natureza, o ser humano é naturalmente levado a temê-Lo, amá-Lo, louvá-Lo, invocá-Lo, crer n'Ele e servi-Lo com todo o coração, alma e força (Dt 6:5; Sl 100:1-2; Jr 10:6-7). Este é um dever moral que une o homem a Deus (Mq 6:8). A verdadeira adoração é uma resposta de louvor a tudo o que Deus é, expressa em atitudes, ações, pensamentos e obras, baseada na Sua verdade (Jo 4:24; Rm 12:1). Não é uma opção, mas uma responsabilidade de todas as criaturas (Sl 96:7-9; Sl 150:6; Ap 14:6-7).
Contudo, apesar da clareza da revelação geral, ela não é suficiente para nos dar o conhecimento de Deus e de Sua vontade que é necessária para a salvação (1Co 1:21). A revelação natural não ensina os mistérios do evangelho, nem as obras da redenção e da graça e nem mesmo como deve ser a forma correta de adoração, que só podem ser conhecidas através da Palavra de Deus, as Escrituras (Rm 16:25-26; 2Tm 3:15). Portanto, a revelação especial nas Santas Escrituras é indispensável para nos guiar à salvação e ao modo correto de adoração (Sl 19:7-8; Jo 20:31; 2Tm 3:16-17).
2. O Modo Aceitável de Adoração: Instituição Divina e o Princípio Regulador do Culto
O ponto central da adoração aceitável a Deus é que Ele mesmo instituiu a forma pela qual deve ser adorado (Dt 12:32; Jo 4:24). Isso significa que o culto é "tão limitado pela sua própria vontade revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras" (Êx 20:4-5; Cl 2:23). Deus é ciumento em relação à Sua adoração (Êx 34:14), e ela precisa ser exatamente como Ele determinou, caso contrário, é como oferecer "fogo estranho", algo que Ele não ordenou (Lv 10:1-2).
Adquira livros sobre o culto reformado:
- Adoração Evangélica, por Jeremiah Burroughs
- Culto Segundo Deus, por Augustus Nicodemus Lopes
- O Que é um Culto Reformado?, por Daniel Hyde
- O Princípio Regulador no Culto, por Paulo Anglada
- SOLA SCRIPTURA e o Princípio Regulador do Culto, por Brian M. Schwertley
2.1. O Princípio Regulador do Culto (PRC)
Esta verdade é formalizada no que se chama Princípio Regulador do Culto (sigla PRC, Sl 119:105; 2Tm 3:16-17). Embora o termo tenha surgido no período puritano, o princípio existe desde que os seres humanos adoram a Deus (Gn 4:3-4; Hb 11:4). O PRC é uma aplicação específica do princípio de Sola Scriptura, que afirma que somente as Escrituras são a regra suficiente para a fé e a vida, incluindo a adoração (Is 8:20; Mt 28:20). Ele declara que, no culto, os crentes não devem fazer nada, exceto aquilo que foi explicitamente prescrito ou ordenado na Escritura, incluindo mandamentos, deduções lógicas e exemplos aprovados na Bíblia (Dt 12:32; 1Co 11:2).
Em contraste com a ideia de que "o que não é proibido é permitido" (geralmente identificado como Princípio Normativo), o PRC é mais rigoroso: tudo o que não é ordenado é proibido no culto (Dt 12:32; Cl 2:20-23). Isso porque a mente humana, por ser imperfeita e inclinada ao erro, não pode ser confiada para instituir formas aceitáveis de culto (Rm 8:7; Sl 14:1-3).
Vários textos bíblicos apoiam o PRC:
- Deuteronômio 12.32: "Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás". Este versículo se refere diretamente ao culto e ao PRC. Perceba o seguinte: só podemos observar aquilo que Deus ordena! Deus silencia quanto ao uso de velas no culto, Deus silencia quanto ao uso de movimentos corporais, gestos, peças teatrais, mímicas… Deus não fala nada sobre esses tais elementos. Ele nem ordena e nem proíbe. No entanto, o silêncio de Deus não é “carta branca” para se colocar no culto. Se Ele ordenou, devemos observar; se Ele não ordenou, não devemos observar!
- Mateus 15.9: Jesus afirma: "Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens". Isso condena claramente a adoração baseada em ideias humanas.
- Colossenses 2.23: Fala de "culto de si mesmo" ou "adoração da vontade", reforçando que práticas religiosas inventadas pelos homens são inaceitáveis, mesmo que feitas com sinceridade.
- Levítico 10.2: O caso de Nadabe e Abiú, que foram mortos por oferecerem "fogo estranho" que Deus não havia ordenado, ilustra que tudo na adoração precisa ter autorização da Palavra de Deus.
- E temos um episódio sobre a observância às ordens de Deus em 2 Samuel 6.6,7 e também em 1 Crônicas 13.9,10. O contexto é quando Davi estava levando a arca da aliança para Jerusalém, e os bois que puxavam a carroça tropeçaram. Um homem chamado Uzá estendeu a mão para segurar a arca e foi morto por Deus, porque ninguém (nem mesmo os levitas) poderia tocar nela. Esses dois textos mostram a santidade da arca e como Deus havia dado ordens específicas de como ela deveria ser transportada (apenas pelos levitas, com varas, e nunca tocada diretamente – Números 4.15). Não duvidamos da “boa vontade” de Uzá, no entanto, foi castigado por não observar o que Deus ordenou!
2.2. O que Não Fazer no Culto
O PRC molda o culto reformado para ser simples, bíblico, transferível, flexível e reverente. Ele proíbe diversas práticas:
- Não às imagens ou representações visíveis: Deus proíbe expressamente fazer imagens esculpidas ou figuras de qualquer coisa para adorar (Êx 20:4-5; Lv 26:1). Representar Deus ou qualquer pessoa da Trindade por meio de uma imagem ou cenas de algum filme ou série de tv, é impossível e perverso, e qualquer culto ou invocação religiosa dirigida a outro ser que não seja Deus constitui idolatria (Jr 10:8-10; Rm 1:22-23).
- Não às invenções humanas: O culto não pode seguir as imaginações e invenções dos homens (Dt 12:32; Cl 2:20-23). Deus desaprova todos os modos de adoração que não são expressamente autorizados por Sua Palavra (Lv 10:1-2).
- Não à adoração a criaturas: O culto religioso deve ser prestado exclusivamente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e somente a Ele (Mt 4:10; Ap 14:7). Não deve ser prestado a anjos, santos ou qualquer outra criatura (Cl 2:18). Após a Queda, o culto deve ser prestado a Deus unicamente através da mediação de Cristo (Hb 9:24-28; Jo 14:6).
- Não a "fogo estranho" ou ofertas não autorizadas: Qualquer coisa na adoração precisa ter a autorização da Palavra de Deus; não é suficiente que algo não seja proibido (Lv 10:1-2; Dt 12:32). É necessário que seja ordenado diretamente nas Escrituras (2Tm 3:16-17).
- Não a elementos não autorizados: Atividades como teatro, dança litúrgica, gestos ou espetáculos de marionetes não são formas de adoração, pregação ou oração, mas elementos novos não autorizados que desviam a atenção e minam a simplicidade da adoração que Deus deseja (Cl 2:20-23; Dt 4:2).
2.3. O que Fazer no Culto
A verdadeira adoração deve ser "em espírito e em verdade" (João 4.24).
- Em espírito refere-se à atitude interna do adorador, um envolvimento de todo o ser: coração, alma/espírito, mente e força, com uma afeição profunda por Deus.
- Em verdade significa que a adoração deve ser regulada pela Palavra de Deus, sendo uma resposta inteligente e amorosa à revelação d'Ele. Adorar a Deus sem Sua Palavra é adorar o que não se sabe.
Os elementos que devem compor o culto são aqueles instituídos por Deus em Sua Palavra:
- Leitura e Pregação da Palavra: A leitura no idioma do povo e a exposição eficiente da Palavra é essencial (2Tm 4:2; Hb 4:12). A pregação é o principal instrumento pelo qual o Espírito Santo age (At 1:8; Rm 10:14-15).
- Oração: As orações públicas devem ser feitas em língua comum para que todos possam participar (1Co 14:15-17). A oração deve ser oferecida através de Cristo e com fé (Jo 14:13-14; Hb 4:16).
- Canto e Música: Os cânticos devem ser bíblicos e compreensíveis, servindo para ensinar e edificar, como Salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5:19; Cl 3:16; Sl 147:1), com uma batida musical moderada para que não venha a provocar certos movimentos corporais.
- Sacramentos: A Ceia do Senhor e o Batismo, símbolos instituídos por Cristo, devem ser explicados e administrados biblicamente (1Co 11:23-26; Mt 28:19-20), sem que se adorem os elementos em si, mas o Doador (Jo 6:53-56).
- Ofertas: A apresentação de dízimos e ofertas também faz parte do culto (Ml 3:10; 2Co 9:7).
- Comunhão: O culto também tem uma dimensão horizontal, onde os adoradores demonstram cuidado uns pelos outros (Hb 10:24-25; 1Jo 3:16-18).
- Reverência, Simplicidade, Ordem e Decência: São atitudes e características essenciais na adoração (1Co 14:40; Sl 89:7; Mt 6:6).
Recapitulando…
A adoração ao verdadeiro Deus é um mandamento inegável, evidente tanto na revelação geral (natureza e consciência humana) quanto, de forma mais completa e salvífica, na revelação especial das Escrituras Sagradas. Embora a luz da natureza revele o poder, a bondade e a soberania de Deus, ela não é suficiente para nos fornecer o conhecimento necessário para a salvação e para o modo aceitável de adoração.
A essência do culto aceitável reside no Princípio Regulador do Culto (PRC), que estabelece que Deus só pode ser adorado de acordo com a Sua própria vontade revelada nas Escrituras. Isso exclui firmemente as imaginações e invenções humanas, as sugestões de Satanás, e qualquer forma de representação visível, bem como a adoração a anjos, santos ou qualquer criatura. O culto deve ser dirigido exclusivamente ao Pai, Filho e Espírito Santo, e, após a Queda, somente por meio da mediação de Cristo.
A seriedade do culto a Deus é imensa, pois Ele zela por ele. É um privilégio enorme nos apresentarmos diante do Deus Santo e Soberano, e devemos fazê-lo com reverência, temor e alegria, focando sempre n'Ele e em Sua glória. Ao vivermos e adorarmos segundo os Seus termos, glorificamos a Deus e experimentamos a rica fonte de alegria, poder e significado que Ele proporciona.
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