27 agosto 2025

Adoração e o Princípio Regulador do Culto

Estudo ministrado na EBD da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE 

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER 
Capítulo XXI. Do Culto Religioso e Do Domingo 

Seção I. A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e é tão limitado pela sua própria vontade revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras. 


A adoração a Deus é a atividade mais fundamental e nobre da existência humana (Ap 4:10-11). Desde o início, o Criador desejou que Sua criação participasse de Sua alegria e manifestasse Sua glória, tornando a verdadeira adoração uma parte essencial da vida na terra e no céu (Jo 4:23-24). No entanto, para que essa adoração seja aceitável, ela deve ser direcionada ao Deus verdadeiro e imutável, exatamente como Ele se revelou e prescreveu (Êx 20:3-5), e não de acordo com nossas próprias ideias ou preferências. A compreensão da vontade de Deus para o culto é de extrema importância, pois a forma errada de adorar pode provocar a Sua ira, em vez de Sua bênção (Lv 10:1-2; Hb 12:28-29).

1. O Conhecimento de Deus: Revelação Natural e Sua Insuficiência

A existência e alguns atributos de Deus podem ser conhecidos por meio da "luz da natureza", ou seja, através da criação e da providência Divina (Sl 19:1-4). Observando a natureza, podemos perceber que existe um Deus com domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos (At 14:17; Mt 5:45). Seus atributos invisíveis, como Seu poder eterno e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, o que torna os seres humanos indesculpáveis por sua impiedade (Rm 1:19-20). A ordem do universo, por exemplo, é uma prova da inteligência suprema de Deus (Jó 12:7-9; Is 40:26).

Diante dessa manifestação de Deus na natureza, o ser humano é naturalmente levado a temê-Lo, amá-Lo, louvá-Lo, invocá-Lo, crer n'Ele e servi-Lo com todo o coração, alma e força (Dt 6:5; Sl 100:1-2; Jr 10:6-7). Este é um dever moral que une o homem a Deus (Mq 6:8). A verdadeira adoração é uma resposta de louvor a tudo o que Deus é, expressa em atitudes, ações, pensamentos e obras, baseada na Sua verdade (Jo 4:24; Rm 12:1). Não é uma opção, mas uma responsabilidade de todas as criaturas (Sl 96:7-9; Sl 150:6; Ap 14:6-7).

Contudo, apesar da clareza da revelação geral, ela não é suficiente para nos dar o conhecimento de Deus e de Sua vontade que é necessária para a salvação (1Co 1:21). A revelação natural não ensina os mistérios do evangelho, nem as obras da redenção e da graça e nem mesmo como deve ser a forma correta de adoração, que só podem ser conhecidas através da Palavra de Deus, as Escrituras (Rm 16:25-26; 2Tm 3:15). Portanto, a revelação especial nas Santas Escrituras é indispensável para nos guiar à salvação e ao modo correto de adoração (Sl 19:7-8; Jo 20:31; 2Tm 3:16-17).

2. O Modo Aceitável de Adoração: Instituição Divina e o Princípio Regulador do Culto

O ponto central da adoração aceitável a Deus é que Ele mesmo instituiu a forma pela qual deve ser adorado (Dt 12:32; Jo 4:24). Isso significa que o culto é "tão limitado pela sua própria vontade revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras" (Êx 20:4-5; Cl 2:23). Deus é ciumento em relação à Sua adoração (Êx 34:14), e ela precisa ser exatamente como Ele determinou, caso contrário, é como oferecer "fogo estranho", algo que Ele não ordenou (Lv 10:1-2).

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2.1. O Princípio Regulador do Culto (PRC)

Esta verdade é formalizada no que se chama Princípio Regulador do Culto (sigla PRC, Sl 119:105; 2Tm 3:16-17). Embora o termo tenha surgido no período puritano, o princípio existe desde que os seres humanos adoram a Deus (Gn 4:3-4; Hb 11:4). O PRC é uma aplicação específica do princípio de Sola Scriptura, que afirma que somente as Escrituras são a regra suficiente para a fé e a vida, incluindo a adoração (Is 8:20; Mt 28:20). Ele declara que, no culto, os crentes não devem fazer nada, exceto aquilo que foi explicitamente prescrito ou ordenado na Escritura, incluindo mandamentos, deduções lógicas e exemplos aprovados na Bíblia (Dt 12:32; 1Co 11:2).

Em contraste com a ideia de que "o que não é proibido é permitido" (geralmente identificado como Princípio Normativo), o PRC é mais rigoroso: tudo o que não é ordenado é proibido no culto (Dt 12:32; Cl 2:20-23). Isso porque a mente humana, por ser imperfeita e inclinada ao erro, não pode ser confiada para instituir formas aceitáveis de culto (Rm 8:7; Sl 14:1-3).

Vários textos bíblicos apoiam o PRC:

  • Deuteronômio 12.32: "Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás". Este versículo se refere diretamente ao culto e ao PRC. Perceba o seguinte: só podemos observar aquilo que Deus ordena! Deus silencia quanto ao uso de velas no culto, Deus silencia quanto ao uso de movimentos corporais, gestos, peças teatrais, mímicas… Deus não fala nada sobre esses tais elementos. Ele nem ordena e nem proíbe. No entanto, o silêncio de Deus não é “carta branca” para se colocar no culto. Se Ele ordenou, devemos observar; se Ele não ordenou, não devemos observar!
  • Mateus 15.9: Jesus afirma: "Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens". Isso condena claramente a adoração baseada em ideias humanas.
  • Colossenses 2.23: Fala de "culto de si mesmo" ou "adoração da vontade", reforçando que práticas religiosas inventadas pelos homens são inaceitáveis, mesmo que feitas com sinceridade.
  • Levítico 10.2: O caso de Nadabe e Abiú, que foram mortos por oferecerem "fogo estranho" que Deus não havia ordenado, ilustra que tudo na adoração precisa ter autorização da Palavra de Deus.
  • E temos um episódio sobre a observância às ordens de Deus em 2 Samuel 6.6,7 e também em 1 Crônicas 13.9,10. O contexto é quando Davi estava levando a arca da aliança para Jerusalém, e os bois que puxavam a carroça tropeçaram. Um homem chamado Uzá estendeu a mão para segurar a arca e foi morto por Deus, porque ninguém (nem mesmo os levitas) poderia tocar nela. Esses dois textos mostram a santidade da arca e como Deus havia dado ordens específicas de como ela deveria ser transportada (apenas pelos levitas, com varas, e nunca tocada diretamente – Números 4.15). Não duvidamos da “boa vontade” de Uzá, no entanto, foi castigado por não observar o que Deus ordenou!

2.2. O que Não Fazer no Culto

O PRC molda o culto reformado para ser simples, bíblico, transferível, flexível e reverente. Ele proíbe diversas práticas:

  • Não às imagens ou representações visíveis: Deus proíbe expressamente fazer imagens esculpidas ou figuras de qualquer coisa para adorar (Êx 20:4-5; Lv 26:1). Representar Deus ou qualquer pessoa da Trindade por meio de uma imagem ou cenas de algum filme ou série de tv, é impossível e perverso, e qualquer culto ou invocação religiosa dirigida a outro ser que não seja Deus constitui idolatria (Jr 10:8-10; Rm 1:22-23).
  • Não às invenções humanas: O culto não pode seguir as imaginações e invenções dos homens (Dt 12:32; Cl 2:20-23). Deus desaprova todos os modos de adoração que não são expressamente autorizados por Sua Palavra (Lv 10:1-2).
  • Não à adoração a criaturas: O culto religioso deve ser prestado exclusivamente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e somente a Ele (Mt 4:10; Ap 14:7). Não deve ser prestado a anjos, santos ou qualquer outra criatura (Cl 2:18). Após a Queda, o culto deve ser prestado a Deus unicamente através da mediação de Cristo (Hb 9:24-28; Jo 14:6).
  • Não a "fogo estranho" ou ofertas não autorizadas: Qualquer coisa na adoração precisa ter a autorização da Palavra de Deus; não é suficiente que algo não seja proibido (Lv 10:1-2; Dt 12:32). É necessário que seja ordenado diretamente nas Escrituras (2Tm 3:16-17).
  • Não a elementos não autorizados: Atividades como teatro, dança litúrgica, gestos ou espetáculos de marionetes não são formas de adoração, pregação ou oração, mas elementos novos não autorizados que desviam a atenção e minam a simplicidade da adoração que Deus deseja (Cl 2:20-23; Dt 4:2).

2.3. O que Fazer no Culto

A verdadeira adoração deve ser "em espírito e em verdade" (João 4.24).

  • Em espírito refere-se à atitude interna do adorador, um envolvimento de todo o ser: coração, alma/espírito, mente e força, com uma afeição profunda por Deus.
  • Em verdade significa que a adoração deve ser regulada pela Palavra de Deus, sendo uma resposta inteligente e amorosa à revelação d'Ele. Adorar a Deus sem Sua Palavra é adorar o que não se sabe.

Os elementos que devem compor o culto são aqueles instituídos por Deus em Sua Palavra:

  • Leitura e Pregação da Palavra: A leitura no idioma do povo e a exposição eficiente da Palavra é essencial (2Tm 4:2; Hb 4:12). A pregação é o principal instrumento pelo qual o Espírito Santo age (At 1:8; Rm 10:14-15).
  • Oração: As orações públicas devem ser feitas em língua comum para que todos possam participar (1Co 14:15-17). A oração deve ser oferecida através de Cristo e com fé (Jo 14:13-14; Hb 4:16).
  • Canto e Música: Os cânticos devem ser bíblicos e compreensíveis, servindo para ensinar e edificar, como Salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5:19; Cl 3:16; Sl 147:1), com uma batida musical moderada para que não venha a provocar certos movimentos corporais.
  • Sacramentos: A Ceia do Senhor e o Batismo, símbolos instituídos por Cristo, devem ser explicados e administrados biblicamente (1Co 11:23-26; Mt 28:19-20), sem que se adorem os elementos em si, mas o Doador (Jo 6:53-56).
  • Ofertas: A apresentação de dízimos e ofertas também faz parte do culto (Ml 3:10; 2Co 9:7).
  • Comunhão: O culto também tem uma dimensão horizontal, onde os adoradores demonstram cuidado uns pelos outros (Hb 10:24-25; 1Jo 3:16-18).
  • Reverência, Simplicidade, Ordem e Decência: São atitudes e características essenciais na adoração (1Co 14:40; Sl 89:7; Mt 6:6).

Recapitulando…

A adoração ao verdadeiro Deus é um mandamento inegável, evidente tanto na revelação geral (natureza e consciência humana) quanto, de forma mais completa e salvífica, na revelação especial das Escrituras Sagradas. Embora a luz da natureza revele o poder, a bondade e a soberania de Deus, ela não é suficiente para nos fornecer o conhecimento necessário para a salvação e para o modo aceitável de adoração.

A essência do culto aceitável reside no Princípio Regulador do Culto (PRC), que estabelece que Deus só pode ser adorado de acordo com a Sua própria vontade revelada nas Escrituras. Isso exclui firmemente as imaginações e invenções humanas, as sugestões de Satanás, e qualquer forma de representação visível, bem como a adoração a anjos, santos ou qualquer criatura. O culto deve ser dirigido exclusivamente ao Pai, Filho e Espírito Santo, e, após a Queda, somente por meio da mediação de Cristo.

A seriedade do culto a Deus é imensa, pois Ele zela por ele. É um privilégio enorme nos apresentarmos diante do Deus Santo e Soberano, e devemos fazê-lo com reverência, temor e alegria, focando sempre n'Ele e em Sua glória. Ao vivermos e adorarmos segundo os Seus termos, glorificamos a Deus e experimentamos a rica fonte de alegria, poder e significado que Ele proporciona.



05 agosto 2025

A Relevância e o Estudo do Puritanismo

O Puritanismo, movimento que floresceu na Inglaterra e na Nova Inglaterra durante os séculos XVI e XVII, representa um período de profunda transformação espiritual e social, cuja influência ressoa até os dias atuais. Sua relevância advém não apenas de seu impacto histórico, mas também da riqueza de sua produção teológica e prática, que continua a oferecer valiosas lições para o pensamento e a vida cristã contemporânea. O estudo dos puritanos é fundamental para compreender as raízes de muitos princípios protestantes evangélicos modernos e para evitar distorções e mal-entendidos sobre o movimento.

1. Características Fundamentais do Puritanismo

Para compreender a relevância dos puritanos, é essencial examinar suas crenças e práticas centrais. Eles eram ministros e teólogos piedosos, preocupados com uma vida pura e alinhada às doutrinas da graça soberana de Deus.

A Centralidade e Autoridade da Escritura. A base do pensamento e da vida puritana era a inabalável convicção na primazia e suficiência da Bíblia como a Palavra de Deus. Para eles, a Escritura era a única regra infalível para a fé e a prática. Eles se dedicavam a pesquisar as Escrituras, a conferir seus achados e a aplicá-los a todas as áreas da vida. John Flavel (1628-1691) afirmou: "As Escrituras nos ensinam a melhor maneira de viver, a mais nobre maneira de sofrer e a maneira mais animadora de morrer".

A interpretação bíblica puritana seguia o que hoje é considerado o padrão protestante. Eles insistiam em uma leitura literal e gramatical, rejeitando as interpretações alegóricas arbitrárias comuns na Idade Média. Embora reconhecessem a linguagem figurada em certas passagens, como Cantares de Salomão, sua regra era buscar o sentido natural do texto. A Bíblia era vista como clara e acessível a qualquer leitor sincero em todos os assuntos essenciais à salvação e à moral cristã. Os puritanos também enfatizavam a interpretação de passagens em seu contexto e a coerência de toda a Escritura. Thomas Gouge (1609-1681) declarou: "Não há uma condição em que possa cair um filho de Deus para a qual não haja uma direção e uma regra na Palavra, em alguma medida apropriada".

A Primazia e o Estilo da Pregação. Para os puritanos, a pregação era uma atividade de suma importância, a "carruagem que leva Cristo de um lado a outro do mundo", como disse Richard Sibbes (1577-1635). Eles viam o pregador como um "embaixador do Deus todo-poderoso triúno", e seus sermões não eram meras dissertações, mas declarações autoritativas da vontade de Deus.

O método de pregação puritano era distintamente expositivo, doutrinário e aplicativo. William Perkins (1558-1602), em sua obra "A Arte de Profetizar", delineou um processo de três passos: (1) Leitura e estudo do texto para descobrir seu sentido básico; (2) Extração de doutrinas a partir do texto; e (3) Aplicação prática dessas doutrinas aos ouvintes. Essa abordagem garantia que o sermão estivesse sempre enraizado na Escritura e buscasse envolver o intelecto e a consciência dos ouvintes.

O estilo de pregação puritano era marcado pela simplicidade e clareza, evitando adornos retóricos que pudessem desviar a atenção da verdade divina. Henry Smith (1560-1591) resumiu esse ideal: "Pregar de forma simples não é pregar rudemente, nem indoutamente, nem confusamente, mas pregar tão simples e perspicazmente que o homem mais simples possa entender o que é ensinado, como se ouvisse seu nome". O objetivo principal era a edificação espiritual e a conversão, não a excelência estética. Eles visavam "atingir os corações e consciências" dos pecadores, "tirando deles todo o seu sentimento de justiça própria para, então, levá-los ao Senhor Jesus Cristo".

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Teologia Doutrinária e Piedade Prática. Os puritanos se distinguiam pela união indissociável entre a doutrina e a prática. Sua teologia não era um exercício puramente intelectual, mas visava produzir uma "piedade inteligente e cristocêntrica" e uma "santidade que deseja conhecer a vontade de Deus para segui-La". Para eles, a doutrina era o "desdobramento do significado das Escrituras", e as pessoas precisavam conhecê-la para viverem bem.

A piedade puritana era profundamente experimental e focada no coração. Eles enfatizavam a necessidade de autoexame e de uma fé sentida no coração. A "casuística da consciência" era uma parte fundamental de seu ministério, oferecendo orientação prática para os desafios morais e espirituais da vida diária. Richard Baxter (1615-1691), por exemplo, dedicou sua obra "A Christian Directory" (1673) a "percepções perspicazes para a vida do crente, expondo teologia prática e casuística com mais de um milhão de palavras". Esse era um manual abrangente para a conduta cristã, buscando aplicar a lei moral em situações específicas. Eles se esforçavam para guiar os crentes em como orar, meditar, comportar-se na família e lidar com problemas comunitários, sempre baseados em diretrizes bíblicas. Apesar das críticas de legalismo, os puritanos eram cuidadosos em distinguir a fé salvadora da fé temporária e em levar o pecador a Cristo sem usurpar o papel do Espírito Santo.

A Família Cristã e o Dia do Senhor. Os puritanos dedicaram grande atenção à vida familiar, sendo creditados por "criar a família cristã no mundo de língua inglesa". Eles viam a família como uma "pequena igreja" e enfatizavam o ensino diligente da Bíblia e do catecismo dentro do lar. William Gouge (1575-1647) escreveu sobre os deveres paternos, oferecendo "percepções psicológicas da natureza da infância e da adolescência" que eram notavelmente modernas.

A santificação do domingo, ou Dia do Senhor, era outro pilar da piedade puritana. Eles forneciam diretrizes detalhadas sobre como guardar o domingo de forma santa, distinguindo entre obras de piedade, misericórdia e necessidade.

Valorização da Educação e do Conhecimento. Contrariando estereótipos, os puritanos eram um movimento profundamente culto e valorizavam a educação. Muitos deles eram formados nas universidades de Oxford e Cambridge, e alguns eram líderes acadêmicos proeminentes. Eles acreditavam que "a Escritura é razão em sua forma mais elevada" e que o estudo abrangente do conhecimento humano deveria ser integrado à revelação bíblica. Para John Cotton (1584-1652), a razão era uma "indispensável sabedoria em nós". Eles incentivavam a leitura extensiva, a pesquisa e o pensamento crítico, mas sempre com um propósito prático e espiritual, e não meramente acadêmico.

2. A Relevância do Estudo do Puritanismo na Atualidade

O estudo do Puritanismo é de grande valia para o cristão e para a igreja de hoje, oferecendo tanto exemplos a seguir quanto advertências a considerar.

Correção de Equívocos e Estereótipos. Uma das contribuições mais importantes do estudo do Puritanismo é a desconstrução de mal-entendidos e caricaturas. A imagem popular de puritanos como "inimigos da diversão" ou "moralistas legalistas" é amplamente falsa. Na verdade, eles valorizavam o descanso e as recreações honestas como necessárias para o corpo e a mente. Seu rigor moral não era um legalismo externo, mas uma busca por uma piedade genuína que começava no coração, como expressou Thomas Watson (c. 1620-1686): "A civilidade não é pureza; um homem pode estar coberto de virtudes morais... e ainda ir para o inferno".

Além disso, o estudo dos puritanos contrasta com a superficialidade de grande parte do evangelismo moderno, que, segundo Erroll Hulse (1931-2018), pode focar em uma "prática evangelística superficial com seu chamado ao altar", produzindo "cristãos muito superficiais". Os puritanos, por sua vez, tinham uma "visão mais ampla sobre o que é o evangelho" e abordavam o pecado com profundidade, buscando levar o pecador a valorizar Cristo de forma genuína.

Lições para o Cristão Contemporâneo. Os puritanos oferecem um modelo de maturidade espiritual e de vida cristã holística. Eles integravam sua fé em todas as esferas da vida — trabalho, casamento, família, educação — com o objetivo de honrar a Deus em tudo. Esse "cristianismo totalmente abrangente" é um antídoto para a disjunção moderna entre o sagrado e o secular.

Sua profundidade bíblica e teológica é uma inspiração para superar o "analfabetismo bíblico" contemporâneo. A leitura de suas obras pode "expandir sua mente e enriquecer seu coração na apreciação dos puritanos", ensinando como "pensar biblicamente, falar biblicamente, viver biblicamente".

A piedade autêntica e o combate ao pecado são outros legados importantes. Eles nos lembram da necessidade de uma "piedade autêntica, bíblica e inteligente", da luta contra o pecado inerente e da importância da "convicção de pecado e do arrependimento". Seu foco em sondar a consciência e expor o pecado é uma característica que falta em muitos sermões e abordagens modernas.

O Despertar do Interesse e Acesso à Literatura Puritana. Desde a segunda metade da década de 1950, houve um notável ressurgimento do interesse pela literatura puritana, com muitas reimpressões de suas obras. O livro "Paixão pela Pureza: Conheça os Puritanos" de Joel R. Beeke e Randall J. Pederson é um exemplo disso, pois "promove a rica herança deixada por nossos antepassados puritanos" e serve como um guia abrangente para suas obras e biografias. Este "recurso superlativo" tem o propósito de "despertar maior interesse pelos escritos destes teólogos que foram os maiores pregadores, depois dos apóstolos".

3. Como Abordar o Estudo dos Puritanos

Para extrair o máximo proveito do estudo dos puritanos, algumas abordagens são recomendadas:

1. Comece com Obras Introdutórias. Para aqueles que estão começando, autores como Leland Ryken ("Santos no Mundo: Os Puritanos Como Eles Eram Realmente") e Erroll Hulse ("Quem Foram os Puritanos?") são excelentes pontos de partida. O próprio "Paixão pela Pureza" é um guia valioso.

2. Engajamento Profundo e Meditativo. A leitura dos puritanos exige paciência e dedicação. Como J.I. Packer sugere, não se trata apenas de ler, mas de "estudar", "decifrar" e "viver com" as obras. Eles escreviam para serem digeridos lentamente, permitindo que a verdade "afete não apenas a mente, mas também o coração". É um exercício de meditação e autoexame, aplicando as verdades à própria vida.

3. Foco Prático, Não Apenas Acadêmico. O objetivo de estudar os puritanos é mais prático do que teórico. Deve-se buscar aprender deles como lidavam com os "mesmos problemas e dificuldades que nos confrontam". Evite o "escolasticismo puritano" ou o "intelectualismo árido" que se limita a citar textos e exibir conhecimento teórico.

4. Análise Crítica e Não Servil. Embora sejam "gigantes espirituais", é importante não seguir servilmente tudo o que ensinaram. Deve-se ter cuidado para não "pregar os puritanos", mas usá-los como um estímulo ao próprio pensamento e à interpretação das Escrituras. Eles mesmos estavam abertos à autocrítica e ao progresso no entendimento.

Conclusão

Os puritanos foram "luzes incandescentes" que deixaram um legado de "teologia tão reflexiva, tão devota e tão prática". Eles foram "gigantes espirituais nas Escrituras" e continuam a ser mentores para a igreja em diversas áreas, desde a pregação até a piedade pessoal e a vida familiar. Ignorar seu vasto tesouro literário é empobrecer-se significativamente. O verdadeiro "reavivamento do puritanismo" não está apenas em ler suas obras, mas em imitar sua "disposição íntima", sua "piedade autêntica, bíblica e inteligente".